Capítulo 21 - Vendo O Inimigo De Perto.

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Faltando uns 100 metros senti uma sensação estranha, como se eu fosse um imã negativo e a força a minha frente fosse o lado positivo. Eu queria correr para longe mas ao mesmo tempo queria ficar e encarar o que quer que fosse que estivesse ali.

-Está conseguindo tudo o que pedi? - Indagou uma voz grossa e ríspida que ecoou pela caverna.

- Sim senhor, conseguimos a aljava de Ártemis. Posso perguntar o porquê disso tudo? - Perguntou uma voz masculina parecendo estar vindo do fundo de um lago.

- Como vou invadir o Olimpo assim? Preciso que os deuses não tenham suas armas, preciso que fiquem fracos. Quando todas as peças estiverem sobre meu domínio serei invencível. - A voz grossa gargalha fazendo a caverna chacoalhar. Encostei-me na parede fazendo com que a luz dourada da fogueira não me iluminasse, não conseguia vê-los mas sentia a força deles ainda mais poderosa sobre mim.

- Uma ótima estrategia senhor. Providenciarei o restante o mais rápido possível. - Assegurou a voz masculina que parecia estar debaixo d'água.

- O mais rápido possível. - Repetiu a voz grossa confiante. O medo tomou conta de mim, cada nervo e músculo do meu corpo estava contraído, tenso. Seria esta voz grossa o titã responsável pelo roubo das armas? Pela conversa que acabei de ouvir era provável que sim. De repente uma sensação de déjà vu me bateu como um soco, o susto foi tanto que me escapou um suspiro alto. Tapei minha boca rapidamente. Pelo visto o titã não ouviu o barulho que eu fiz.

A sensação se déjà vu era de um sonho que tive em uma das minhas noites no acampamento meio-sangue. O sonho que me fez sair em missão com meus amigos. E agora? Eu estava sozinha aqui, como iria derrotar este monstro? Seria impossível. Espiei pela esquina da parede em direção ao titã e congelei no lugar, nem mesmo o ar passava pelas minhas narinas. Aquele era o titã, e Deus, ele era horrendo.

O titã enorme, tinha facilmente 12 metros de altura. Agora eu conseguia ver, pois eram de suas centenas de olhos onde saiam as chamar ardentes. De cada ombro se projetavam cabeças de dragões com as línguas negras de fora. Ele estava encolhido na caverna mas mesmo assim eu conseguia ver suas asas de couro negro coladas nas costas, suas cabeças faziam barulhos horríveis e altos, indo de um mugido de touro a um rugido poderoso de um leão. Tapei meus ouvidos e fechei os olhos, o que eu faria agora? Se eu conseguisse mandar uma mensagem de Íris para Nic, seria tudo tão mais fácil. As lágrimas de desespero corriam pelo meu rosto.

- Ah pai, me de uma luz. Alguma coisa que eu possa fazer agora. Por favor. - Pedi aos sussurros para meu pai, Apolo. É impossível algum dos meus amigos me ouvirem aqui de baixo. Ao fundo escuto um barulho alto de algo caindo bruscamente na água. O que seria? Fiquei animada ao pensar que poderiam ser meus amigos, mas ao mesmo tempo apreensiva pois poderia ser um inimigo.

- Quem está aí? - Rugiu o titã, ameaçando de sair da caverna. Não pensei duas vezes e me levantei num pulo, correndo de volta de onde eu caí. Fui de encontro a alguém bruscamente, eu não conseguia ver então apenas fechei os olhos e esperei a morte vir, mas ela não veio.

- Manuella? - Ouvi o sussurro da voz de Richard me chamar. Richard? Richard!

- Sou eu. - Eu disse - Como me achou?

- Depois de um tempo começamos a te procurar e então eu achei a entrada. - Respondeu. O alívio foi tanto que o abracei com força demais. Depois de um tempinho ele acendeu a pele num dourado vivo iluminando a nossa volta. Ele estava com bastante energia. Eu o levei até onde estava o titã e ele espiou pela parede onde eu estava. E então sorriu para mim.

- Ah Manuella, - ele continuou sorrindo e pegou minhas mãos, franzi o cenho - como você pode ser tão ingênua? Sorte que não a considero como minha verdadeira irmã, pois eu iria ficar com um remorso enorme pela sua morte. - Assim que ele terminou de falar me puxou para onde estava o titã.

O olhei incrédula fincando os pés no chão rochoso, ele me puxava sem esforço algum para que entrassemos no campo de visão do gigante. Porque ele estava fazendo aquilo? Iria condenar a todos nós, iria condenar a humanidade.

- Mestre. - Ele disse chamando a atenção das centenas de olhos do titã - Aqui está a filha de Apolo. - Completou me jogando aos pés de serpente do titã. Agora pude ver que ele tinha quatro braços e suas mãos não conseguiam parar quietas. Me arrastei para longe dele e armei o arco, acertando uma flecha em uma de suas mãos que se aproximavam. Ele resmungou algumas palavras em grego antigo que não entendi muito bem e me pegou em uma das mãos, me levando até perto de suas centenas de cabeças. Fiquei sem ar pelo aperto.

- Olhe só, tão pequena e frágil. Eu poderia acabar com você em segundos. - Ele gargalhou chacoalhando a caverna mais uma vez me fazendo encolher nas suas mãos. Ele me jogou no chão e enrolou meu corpo com uma grossa corda que amarrava uma enorme sacola de couro.

- Você sabe quem eu sou garota? - Perguntou esperando uma resposta. Eu fiquei em silêncio. - Sabe? - Perguntou agora mais alto, me encolhi novamente.

- Não.

- Que pena. Bom, eu sou o implacável filho de Gaia e Tártaro! Sou Tifão! - Respondeu com a voz de trovão. Sua confiança enchia a caverna agora clara. Meus pensamentos estavam confusos. Ele era Tifão mas isso de nada me servia como informações, Richard, meu irmão, o chamara de "mestre", o que o faz um servo deste titã. Eu queria mesmo acreditar que ele era mantido como refém, mas não me passava pela cabeça essa hipótese. Agora eu era mantida numa caverna com um titã horrendo e meus medos ficaram ainda mais aguçados.

O que me restava agora era apenas esperar o meu fim.

Filha de Apolo (SEM REVISÃO!)Onde histórias criam vida. Descubra agora