those eyes

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ROSEANNE PARK

Era domingo, então eu tinha folga dos treinos. Cansei de ficar no meu quarto e fui caminhar pelo gramado, com os vinte pares de olhos me olhando. Não era mais tão estranho ser seguida e observada o tempo todo. Me sentei em um canteiro encostando minhas costas na parede de pedra, olhando para nada especificamente. O estresse estava me matando desde a ligação que fiz ao meu pai, e isso tinha me afetado em todos os sentidos. Nem nos treinos eu estava conseguindo focar direito. Percebi o quanto de pressão eu colocava em mim mesma quando quis chorar por ter errado um golpe.

Os seguranças voltaram a olhar pra frente, sem me encararem muito. Finalmente perceberam que não tem nada de interessante em me observar vinte e quatro horas.

— Bebe. — quase dei um pulo quando ouvi uma voz de cima, era Jungkook na janela me estendendo uma garrafa de água.

— Você me assustou.

— Eu percebi. Você se encolheu assim que eu abri a boca — ele pulou a janela e pousou do meu lado, apoiando os cotovelos nos joelhos.

Bebi a água que ele tinha me dado.

— Então, é isso?

— Isso o que?

— Vai desistir?

Fiquei confusa.

— Pensei que fosse você que achasse uma péssima ideia eu entrar em corredores vazios e investigar um caso onde eu sou a vítima.

— Eu pensava. Mudei de ideia.

Ele notou minhas sobrancelhas em uma expressão de dúvida e falou:

— Não podemos ficar parados. Metade do país sabe o que está acontecendo, a polícia está se comovendo mas não chegaram nem perto de pegá-lo ainda — Eu não estava acompanhando as notícias. Não queria saber de nada até ele ser pego — Nós achamos uma coisa. Não podemos não fazer mais nada e deixar para lá.

Eu estava prestes a chorar, e em pânico, me levantei rápido tentando esconder o rosto com os cabelos enquanto corria para dentro da casa.

— Park? Eu fiz algo... — ele me perguntou quando entramos na sala.

— Não, não — Eu funguei tentando limpar as lágrimas.

— Rose...

Queria que meu corpo não tivesse reagido ao meu nome saindo da boca dele daquela maneira.

— Eu estou bem, mesmo — forcei um sorriso para tranquilizá-lo.

— Você não está, para de dizer isso — ele segurou minhas mãos as tirando do meu rosto — Tem todos os motivos do mundo para não estar bem. Eu entendo você.

Não conseguia formar uma palavra sequer. Ele limpou as minhas lágrimas, uma por uma. Jungkook estava tão perto... finalmente entendi que ele era uma tentação. Uma tentação perigosa demais.

— Eu pensei tanto... por que ele me quer, Jungkook?

Por que ele estava agindo tão loucamente por minha causa? O que eu tinha feito? O que eu não tinha feito? Eu não sabia o que pensar. Não sabia o que fazer.

— Eu não sei. Mas vou descobrir — suas mãos se apoiaram em meu pescoço por um momento — Nós vamos descobrir.

•••

Era a quinta vez que eu vasculhava aquela caixa. Só tinham as fotos da nossa infância e nada demais do que isso. Procurei por um fundo falso, mas nada também. Estava começando a me frustrar com aquilo.

Fechei tudo e guardei em uma das minhas gavetas. Estava cansada de revirar aquilo atrás de mais alguma coisa. Me levantei suspirando e pisando forte até a sala. Fazia séculos que eu não assistia TV.

Decidi ativar a minha personalidade fútil e coloquei em um reality show da MTV. Aquele era o nível de tédio em que eu estava.

— Misericórdia — Jungkook apareceu atrás de mim.

Ele estava de terno, com um contato no ouvido. Ele era tão lindo por fora quanto por baixo daquela roupa.

Credo, Roseanne.

— Não sabia que ainda trabalhava como segurança.

— Nunca deixei — ele estava parado perto da porta, com as mãos para trás.

— Senta aqui — pedi.

— Não posso, estou trabalhando.

— Tecnicamente, sou sua chefe. Eu dou as ordens. Senta.

— Sou um segurança, não um cachorro.

— Jungkook. — falei, séria. Ele se rendeu e afundou ao meu lado no sofá.

— Podia pelo menos colocar algo legal, né?

— Não vem bancar o cinéfilo pra cima de mim, faz favor.

— Não estou querendo bancar nada — ele levantou as mãos, em rendição — Mas reality show... francamente, rose.

— Rose. — ri sozinha.

— O que foi?

— Antes você só me chamava de Park.

— Não gosta?

— Não, não... eu gosto. Só estou tentando me acostumar.

— Tem borboleta também — ele me provocou, sabendo que eu ficaria vermelha — É o seu codinome entre os seguranças.

— É bonito. — voltei meus olhos para a TV — Não podemos sair daqui, não é?

— Não. Acho que ficaremos por aqui um bom tempo.

— Que droga — suspirei — Sabe o que é engraçado? Eu estava planejando tatuar uma borboleta.

— Sério?

— Sim — sorri — Jennie ia me levar para um tatuador que ela conhece em Busan. Acabou que tudo isso nem fizemos...

— Iam fazer juntas?

— Não, Jennie não gosta dessas breguices — ele sorriu — Você tem tatuagens.

— Tenho.

— Elas significam algo?

— Não. São só... desenhos que eu fazia quando criança.

— São lindas.

Seus olhos me miraram de um jeito diferente agora. Não queria criar coisas na minha cabeça, mas estávamos muito próximos desde que nos mudamos pra essa casa. Era difícil negar certos olhares.

— A sua também vai ficar muito bonita.

O celular dele tocou e ele o segurou em mãos, eu vi um nome flutuando na tela: Lisa.

Meu estômago se revirou. Voltei a olhar atentamente para a TV quando ele se levantou para atender a ligação. Quando ele voltou e se sentou, ficamos em silêncio. Dessa vez não era um daqueles confortáveis, era só... vazio.

Estava decepcionada comigo mesma por estar chateada por ele ter alguém. Claro que ele teria. Jungkook tem vinte e três anos, é um adulto e não é feio. Com certeza ele teria alguém.

Só não entendia por que eu estava brava com isso.

•••••

PANDORA | rosekookOnde histórias criam vida. Descubra agora