Capítulo 4: A Confissão

444 42 4
                                    

  -...Mike, eu...eu sou gay. - diz Will, tremendo e assustado. Algumas lágrimas escorrem de seus olhos, então ele permanece de costas, para que o amigo não veja. Alguns segundos se passam sem ninguém dizer nada.
  - O que eu quero dizer é que eu gosto de garotos, sabe, desde sempre. Eu sempre fui assim, nunca vou parar de ser o Will que você conhece.
  - Eu sei...só fiquei surpreso mesmo. Isso não muda nada pra mim, juro, você ainda é meu melhor amigo. - Os olhos de Will ficam ainda mais molhados, mas nesta hora é de alegria. - Não sei como que não tinha pensado nisso antes, faz total sentido. Mas tô aqui por você amigão, não se preocupa. Mais alguém sabe?
  - Bem...você foi o primeiro que eu contei, mas acho que o Jonathan sabe também, sei lá, nos últimos tempos ele tem agido de uma maneira diferente.
  - Tendi. Mas então....tem algum garoto da sala que você gosta? Haha
  - Hã? Não, não....na verdade, até tem um sim, mas ele não é bem da minha sala.
  - É alguém mais velho??
  - Não, não, é outra pessoa...esquece.
De repente, eles escutam batidas na porta. Os garotos se entreolham, e silenciosamente pegam seus pertences. Eles descem as escadas e saem com muito cuidado pela porta da cozinha. Neste momento, a porta da entrada cai num estrondo, e vários soldados armados entram correndo na residência. Agachados os meninos continuam andando pela parte externa, tentando se esconder das janelas. Mike segura a mão de Will para guiá-lo. Eles atravessam uma das cercas e passam para o jardim da casa vizinha. Mike aponta para uma piscina vazia no jardim, e os dois entram em silêncio.
  Os jovens tentam se manter acordado, mas depois de um tempo, quando todo o barulho dos militares se dissipa, Will encosta sua cabeça no ombro de Mike e adormece. Ele é seguido por seu amigo, que dorme na piscina também.
  Umas 5 horas da manhã, Mike acorda, ele olha para seu lado e vê Will dormindo em seu ombro. Por alguns minutos, fica observando seu amigo cochilar, sentido cada respiração e olhando cada fio de cabelo do garoto. Ele olha para o outro lado, e ao ver a grande piscina na qual estão dentro, se lembra de tudo que aconteceu no dia anterior.
  - Will! Will! Acorda! - exclama Mike, assustado.
  - Hã? Que foi...
  - A gente tem que sair daqui, bora.
  - E ir pra onde Mike?
  - Eu...não sei, onde que daria pra a gente se esconder nessa cidade??
  - Acho que eu sei um lugar, me segue - responde Will.
Os dois escalam com cuidado as escadas da piscina, tentando não acordar os vizinhos. Ao saírem, vêem um carro militar patrulhando a rua. Will decide então ir por outro caminho. Eles saltam a cerca e vão correndo por vários jardins de várias casas da vizinhança até chegar na parte de trás de um fliperama.
  - Por que você trouxe a gente na porra de um fliperama Will?? - questionou Mike, meio estressado.
  - Vão ter vários adolescentes na nossa idade aqui mais tarde, a gente vai passar despercebido.
  - Mas como que a gente vai entrar nesse horário? Tá tudo fechado.
  - Acontece que eu já trabalhei aqui Mike, no início de tudo, pra ajudar minha mãe a pagar a casa. E eu ainda tenho a chave, só espero que não tenham mudado a fechadura.
O garoto abre sua mochila e tira de lá uma pequena chave. Ele enfia na fechadura da porta dos fundos e ela se abre. Surpresos os dois entram e a fecham. O local está vazio, e as máquinas todas desligadas. Mike nunca tinha visto um fliperama desta forma, sem todas luzes fortes piscando e os sons de vídeo game por todos os cantos.
  - Ali, a salinha de funcionários. Deve ter comida - disse Will. Eles entram e fecham a porta com cuidado. Will abre sua mochila e tira de lá algumas camisas.
  - Talvez seria bom a gente se trocar - ele diz.
Dito e feito, os dois trocam suas camisetas por outras limpas. Will vê Mike sem a camisa por alguns segundos. Ele é bem magro, e Will acaba acidentalmente encarando demais o amigo.
  - Você tá bem? - perguntou Mike.
  - Eu...nada não haha - respondeu Will. Ele depressa também tirou sua camisa. Will tinha um físico mais atlético, por mais que não parecesse tanto. Nesta hora Mike teve novamente a sensação que teve no quarto, no dia anterior, de borboletas em sua barriga. Mas desta vez foi mais forte.
Depois de alguns bons minutos em que os dois descansam e tentam processar todas informações de ontem, tanto da parte misteriosa do garoto 004, quanto da relação dos dois, Mike tem uma ideia.
  - Aqui tem algum telefone? - ele diz.
  - Deve ter sim - Will responde.
  - Talvez seja hora de ligar pros nossos amigos, em Hawkins.

BYLER: e o Mistério do 004Onde histórias criam vida. Descubra agora