02 | Tentador

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Anotei os últimos horários na agenda que meus pais precisavam checar, e me espreguicei na cadeira como se precisasse mais disso do que o ar que respirava

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Anotei os últimos horários na agenda que meus pais precisavam checar, e me espreguicei na cadeira como se precisasse mais disso do que o ar que respirava.

Estava um caco, trabalhar de domingo a domingo era um porre, mas eu precisava me sustentar. Não queria ter que passar pela humilhação de ter meus pais novamente no meu pé, como se eu precisasse de mais um sermão por ser a filha mais velha e desocupada, segundo eles. Por mais que os dois fossem médicos renomados e tivessem uma clínica, nem tudo era essas mil maravilhas como os outros pensavam ser.

Gostava de trabalhar como assistente deles de segunda à sexta, e aos sábados e domingos no clube do meu amigo. Era cansativo pra um caralho, mas me rendeu um dinheiro muito bom. Com muito esforço comprei meu primeiro apartamento e tem sido a melhor coisa que fiz, ter um cantinho só meu deveria ter sido uma das primeiras coisas que eu deveria ter feito depois que saí da faculdade, e por falar nisso, eu nem cheguei a terminá-la. Não me envergonhava disso, até porque medicina nunca foi mesmo para mim.

O som lá fora estava cada vez mais alto e mais incômodo, provavelmente alguém estava dando uma festa. Será que esse inconsequente não trabalhava? Pelo amor de Deus, hoje ainda era quinta-feira, quase onze horas da noite e, pelo jeito, a pessoa estava adorando fazer algazarra a essa hora.

Ao menos se tivesse me convidado, eu não estaria reclamando.

Guardei a caneta no pote azul do meu escritório improvisado e joguei o corpo para trás, na cadeira, massageando meu pulso enquanto aproveitava minha própria companhia. Precisava relaxar, talvez um banho quente ajudasse de novo.

Inspirei e respirei profundamente tentando acalmar meus nervos, e como se o além tivesse ouvido minhas preces, a música foi desligada. Soltei o ar que segurava, ouvindo, no minuto seguinte, a campainha tocar. Fingi não estar em casa e continuei onde permanecia, porém acabei revirando os olhos quando as batidas aumentaram. Quem quer que fosse, estava bem disposto a me incomodar.

Fui com a maior preguiça a caminho da porta e, pelo olho-mágico, vi quem eu menos pensei que veria: Théo. Meu vizinho de sexo do andar de baixo.

Ele não era de me importunar, tivemos uma foda muito razoável, razoável a ponto dele não me satisfazer. Até hoje sinto vergonha do que aconteceu quando a gente se encontrava por aí.

― Universo, tenha piedade de mim dessa vez. ― pedi, prevendo não ser nada bom.

Abri a porta colocando a minha maior cara de paisagem no rosto, e o encontrei com uma garrafa de alguma bebida pela metade nas mãos e um sorriso caído nos lábios.

― Boa noite, Elizabeth. Desculpa te atrapalhar, eu sei que já está tarde e, com toda a certeza, você e os outros vizinhos devem estar me odiando por causa do som alto, mas eu preciso da sua ajuda. ― despejou.

Então era ele que estava fazendo essa droga de barulho todo?

― Quer minha ajuda a essa hora da noite? Com o quê?

MEU DESEJO TENTADOR - livro 2 da série: Os AvellarOnde histórias criam vida. Descubra agora