Apaixonado por uma divindade- LIVRO II

A ditadura

No ano de 1964 iniciou um golpe militar no Brasil, a democracia levou um tiro, agora a população brasileira estaria sob total poder dos militares. Eu ouvi comentários de que alguns policiais militares não exitariam em espancar qualquer "Não-natural" que descobrissem.

- Rogério, você leu os jornais?- perguntei para Rogério que estava fazendo um chá de camomila.

- O que?- perguntou Rogério.

- Não vai ter mais presidente no Brasil- falei mostrando o jornal.

- Esse país não sabe se quer rei, imperador, presidente, daqui a pouco vamos virar tribo- disse Rogério colocando o chá na xícara.

- Eu estou preocupado- disse triste.

- com o que?- perguntou Rogério.

- De nos perseguirem- disse.

- Rapaz, desde quando me entendo por gente sou perseguido e ainda estou vivo, o que será diferente agora?- perguntou Rogério.

- Não temos mais dinheiro como antes e nem toda energia pra fugir- disse.

- Só eu sou idoso aqui, vocês ainda tem energia, fique tranquilo- disse Rogério.

- Está certo, vou na feira comprar peixe- disse me aproximando da porta.

- Eu quero ir também!- disse Borislav todo arrumado em minha direção.

Fomos para a feira e vimos que haviam vários policiais patrulhando o local, eles paravam vários carros para fiscalizar. Por um lado me sentia seguro pela diminuição da criminalidade, mas pelo outro eu não esperava nada de bom vindo de alguém que alterou a constituição Federal à força.

- Rodolfo, quero falar com você- disse Lucas.

- O que faz aqui na Bahia? Você não trabalha no Rio?- perguntei pelo fato dele está fardado.

- As pessoas denunciaram vocês para a polícia, alguém ficou em casa?- perguntou Lucas desesperado.

- Ficou o Rogério, porque? Ser homoafetivo voltou a ser crime no Brasil?- perguntei.

- Não, mas a polícia os considera vagabundos e podem usar a força contra eles caso se converem- disse Lucas.

- Aí, meu Deus ou Deus de Borislav, alguém me ajudá-lo disse indo com Borislav em direção a nossa casa.

Chegando lá em casa, vimos a porta aberta e tudo quebrado, na porta estava escrito: "A justiça é do senhor", então, procurei por Rogério e o encontrei caído no chão com marcas de espancamento. Naquele momento, me senti a pior pessoa do mundo, pois meu amigo estava caído e eu não poderia levanta-lo pois poderia machucar mais.

- Tio Rogério!- disse Borislav indo em direção a Rogério para levanta-lo.

- Não Borislav! Você vai machucar ainda mais!- gritei para Borislav não fazer nenhuma burrice.

Corri para fora na expectativa de buscar ajuda, mas quando abri a porta da frente vi várias pessoas do lado de fora olhando para minha casa. Pedi ajuda, porém eles nos chamaram de vagabundos pois a polícia veio em nossa casa. A população veio em minha direção, então, voltei para dentro e fechei portas e janelas, mas população tentou quebrar portas e janelas, derrepente, tudo ficou silencioso.

- Rodolfo, abra a porta- disse a voz do outro lado.

- Lucas é você?- perguntei.

- Abra a porta- disse a voz, então, abri.

- Lucas?!- disse quando Lucas entrou casa a dentro.

- Droga! Cheguei tarde!- disse Lucas ao se deparar com Rogério caído e extremamente machucado.

Levamos Rogério para o hospital, ele foi levado para a UTI pois estava gravemente ferido, no entanto, os médicos não poderam escrever que a polícia espancou Rogério, então, escreveram que Rogério foi espancado em uma briga de rua. Haviam muitos policiais entrando e saindo do hospital para verificar o movimento.

- Vocês são parentes de Rogério?- perguntou o médico.

- Sim- respondi.

- Não gosto de dar más notícias, mas o paciente em questão chegou aqui gravemente ferido e infelizmente não podemos fazer muito por ele- disse o médico.

- Como ele está?- disse me levando da cadeira.

- Ele não resistiu- disse o médico, então, imediatamente corri para a sala onde Rogério estava e o vi na maca sem batimentos.

- Rogério! Acorda cara! Vai ficar tudo bem!- disse tentando acordar Rogério.

- Rodolfo, fica calmo- disse Lucas me segurando.

- Como posso ficar calmo?! Ele foi uma das raríssimas pessoas que me deram ajuda e sempre esteve comigo nas horas mais difíceis!- disse lacrimejando.

- Eu sei disso, mas você não pode ajuda-lo agora- disse Lucas.

- Claro que posso! Ele me ajudou!- gritei chorando.

- Pare de chorar! Qualquer homem não chora!- Disse Lucas.

- Eu não sou qualquer homem!- gritei,  então, Lucas me abraçou.

- Sinto muito por sua perda- disse Lucas e ele também começou a chorar.

Um médico reclamou pois estávamos fazendo muito barulho no hospital. No dia seguinte, compramos um caixão e nós mesmos fizemos o velório pois não sabíamos nada sobre os parentes de Rogério e mesmo que soubéssemos eles não iriam para o seu enterro.

- Tio Rogério!- Gritou Borislav no túmulo chorando.

- Ele foi uma ótima pessoa, deve está em um lugar melhor agora...ou pior- disse isso olhando para Lucas pois ele era religioso.

- Quero confessar uma coisa, eu não acredito nem no céu nem no inferno- disse Lucas.

- Eu porque todos aqueles sermões?- perguntei calmamente pois estava muito triste para me irritar.

- Porque você era devoto, acreditava em Deus, muita gente usa a fé dos outros para manipula-los - disse Lucas.

- Então, onde você acha que o Rogério está agora?- perguntei.

- Em nenhum lugar, as pessoas inventaram a vida após a morte por que querem um sentido para as suas vidinhas, porque elas têm medo da morte, a nossa vida é só uma, depois disso não há céu, não há inferno, não há purgatório, a hora de dizer que ama alguém é agora pois não haverá outra vida para falar isso, depois da morte os seus entes queridos só existiram nas suas lembranças, nas fotografias e nós diários, por isso, gosto de pedir perdão pois não sei quando iremos partir, Rodolfo me perdoe por tudo que te disse- pediu Lucas.

- Tudo bem- Disse perdoando Lucas.

- Mas ainda não está tudo bem, Rodolfo aceite, por favor, aceite as viagens que te ofereci, o país está em um momento um tanto delicado e é melhor que você e Borislav viagem- Disse Lucas me dando o comprovante de pagamento.