Capítulo 5

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  Os pensamentos sobre aquele dia continuam em minha mente, profundos e doloridos, espalhando uma névoa pesada e escura em torno de mim e de toda a minha vida, me forçando a não sentir nada além de tristeza. Foi como se, subitamente, viver fosse um mero esforço, algo com que tenho que conviver até cansar e terminar de vez com tanta tortura.

E todos os dias se seguiram iguais. Nada mudou; nem a solidão ou os pensamentos sombrios deixaram de existir em minha mente. E tudo por algumas palavras que foram piores que facadas no estômago ou tiros no peito porque não foram de um qualquer, foram justamente dele.

E pensar em como eu as repeti, também de forma desagradável, me fez sentir um monstro. Continuo a torturar-me com isso, sem conseguir ignorar esses trilhões de pensamentos idiotas que me percorrem a cabeça. Devo seguir como se não fosse nada, mesmo com essa terrível dor, ou dar um fim nisso, assim como ele havia dito?

Por um lado, quero mostrar que sou capaz de aguentar aquelas ofensas, que sou forte o suficiente, que ele não significou nem significa nada para mim. Mas por outro, eu desejo largar tudo de mão, abandonar a coragem que me falha miseravelmente e "deixar de existir".

E é mais uma vez que passo a noite acordado, fervilhando de perguntas sem resposta e dores profundas que machucam-me em demasia.

Meus ouvidos captam o som da porta sendo aberta, e logo avisto uma raposa baixinha adentrar o quarto, seus passos sendo cuidadosos ao se aproximarem.

— Sonic? — pergunta-me Tails, curioso. Simplesmente viro o meu rosto em sua direção, assustando-o com as profundas olheiras embaixo de meus olhos e o rosto mal lavado há dias. — Faz tempo que você não come com a gente… Você quer tomar café da manhã na mesa conosco?

Eu estava exausto, devastado, esgotado, mas seria praticamente impossível negar àquela carinha pidona, portanto, assinto, esperando Tails deixar meus aposentos para, pelo menos, tentar lavar o rosto e ajeitar os espinhos. Após isto, direcionei-me até a cozinha a passos pesados e arrastados, jogando totalmente o peso do corpo na cadeira vazia ao chegar lá.

Como esperado, todos já estavam a postos na mesa, esta que estava repleta de diversos tipos de comidas. Típico de Amy.

Parecendo perceber meu jeito lerdo de raciocinar, Tails logo pôs uma panqueca no prato em minha frente, sorrindo meigo quando o olho confuso.

— Você tem de comer, amigo — responde ele, mesmo que eu nem ao menos tenha pensado em perguntar.

— Escuta, Sonic, você anda estranho nos últimos dias. Nem sai do quarto! — Sticks se prontifica, fazendo todos presentes se voltarem para ela, lhe lançando olhares raivosos.

E, após isso, os olhos de todos se viraram para mim.

Ela não estava errada. Meu estado era péssimo, talvez eu até estivesse em um estágio de depressão.

Dou um suspiro alto, pegando a panqueca e colocando inteira na boca, numa forma de evitar responder. Knuckles dá uma resposta em meu lugar:

— Ele tá assim desde o dia que aquele cara veio aqui. Como era o nome dele mesmo?

— Shadow? — Amy pergunta, com certo rancor na voz.

— Isso!

Só de ouvir o nome dele novamente, meu coração volta a doer. Era difícil segurar as lágrimas na frente dos meus amigos, então fiz questão de me levantar e dar uma desculpa esfarrapada para escapar.

— Lembrei que tenho prova amanhã. Preciso estudar! — E, tão rápido quanto um trovão, atravesso a casa, trancando-me em meu quarto.

— Boa sorte, Sonic! Quero um 10! — grita Knuckles.

Os Opostos Se AtraemOnde histórias criam vida. Descubra agora