Os Opostos Se Atraem

Capítulo 14

Dois anos antes…

A dor em meu coração aumentava cada vez mais à medida que os dias se passavam, e aquele sentimento parecia crescer mais e mais. Eu realmente gostava dele? Eu quero dizer, além do fato de ele ser um garoto, eu não posso ser gay. Primeiro: meus pais nunca aceitariam. Segundo: eu não saberia como lidar com isso. Como eu poderia ser algo além do normal?!

E mais uma vez, estava sozinho, sentado em um banco na escola, enquanto encarava meus pés, sentindo-me isolado. Ao fundo, era possível ouvir pessoas rindo, conversando, sendo felizes com seus amigos. E eu não tinha nada. Não tinha ninguém. Completamente só.

Antes que pudesse raciocinar, alguém sentou ao meu lado, extremamente próximo de mim. Minha primeira reação foi levantar o olhar, e assim que o vi, meu mundo parou. Era ele.

— O que faz sozinho aqui, Shadow? — questionou curioso, um sorriso ladino aparecendo.

— Eu… — Minha voz falhou quando tentei dizer algo. Tinha certeza que minhas bochechas estavam ruborizadas, denunciando o que sentia por aquele garoto próximo a mim. Em expectativa, levantou as sobrancelhas, esperando pela resposta. — É… não tenho amigos, só isso.

— E eu? — Ouvir aquilo de sua parte aqueceu-me por inteiro. Saber que era considerado pelo menos um amigo já era demais para me deixar contente.

— Você está aqui agora. Não estou mais só.

Trocamos sorrisos significativos. Alguns de seus amigos o chamaram, mas ele gentilmente negou, dizendo estar ocupado. Ocupado comigo.

— Jet. — Assim que ouviu seu nome, rolou os olhos até mim, a espera da conclusão de minha frase. — Você beijaria um garoto?

Isso pareceu surpreendê-lo por um instante, e a resposta demorou a vir.

— Hum… — Cada palavra proferida soava pensativa, lenta. — Eu acho que sim. Vai depender da intimidade que tiver com ele. Ou com o tamanho do afeto que tivermos. Por que a pergunta repentina?

Porque eu gosto de você, porra.

— Por nada. Só… fiquei curioso.

Sorrindo timidamente, volvi os lumes ao chão, deixando escapar um breve suspiro.

— Mas e você, Shadow? Você beijaria um garoto?

Se eu beijaria um garoto? Seria demais dizer que eu beijaria, sim, um garoto, mas não um qualquer? Que eu queria um específico, de cor verde, com lindos olhos brilhantes, popular, cheio de amigos, fascinado por seu skate e com notas excelentes? Que eu queria simplesmente beijar a pessoa ao meu lado?!

Mas eu sabia que não deveria dizer isso. Que deveria negar até o fim da vida minha possível sexualidade.

— É. Talvez sim, talvez não. É uma coisa bastante complexa. — Jet sorriu, juntando sua mochila e levantando. Acenando com a cabeça, saiu de perto de mim, andando como quem não quer nada, até sumir de vista.

Depois desse dia, minha mente divagava todas as aulas, todas as noites, sem parar. Talvez ele beijasse um menino, mas ele me beijaria? Se eu arriscasse, ele devolveria?

─⋆─

Assim que cheguei na aula, um mês depois, meus ouvidos detectaram um som vindo de um dos cantos escuros da escola. Sendo arrastado pela curiosidade, o segui, até parar em frente ao que acontecia: uma garota estava de braços cruzados, encarando com confiança alguns dos amigos de Jet. Eles soltavam palavrões e insultos, ao mesmo tempo que a morcega rebatia com coisas piores. Aquilo parecia ser demais e, mesmo que não demonstrasse de cara, fui percebendo o quanto sua voz começava a falhar, suas mãos a tremer e seu corpo enrijecer. Determinado a acabar com aquilo, aproximei-me confiante.