Capítulo 16

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Eu não esperava uma ideia daquele porte passar pela cabeça de Sonic. De irmos até minha antiga cidade, quero dizer. Eu esperava qualquer coisa, como, sei lá, pular de um avião sem paraquedas, mas voltarmos até aquele lugar que me fez sofrer demasiadamente? Nunca.

Mas então, eu lembrei-me de minha maravilhosa infância, as coisas que passei por lá e o tempo que já estava afastado. As pessoas talvez nem me reconhecessem mais, eu havia mudado tanto! Meu estilo era outro, minha personalidade… Por que me preocupar tanto?

E eu concordei. Estava tudo bem. Está tudo bem. Ficaria tudo bem.

E realmente parecia estar tudo bem.

Enquanto caminhávamos juntos pelas ruas e avenidas, as coisas pareciam incrivelmente normais. Ninguém que eu reconhecesse (ou o contrário), nem olhares julgadores.

— EU QUERO! — O grito de Sonic me pega desprevenido, e por muito pouco não o acompanho com mais um, mas este sendo de susto. Assim que avalio o que apontava, percebo se tratar de apenas um ursinho de pelúcia pequenino, um ouriço mais ou menos de minha cor. É claro que eu compreendi imediatamente suas intenções com aquilo. E, desde o início, eu sabia que seria impossível negar-lhe algo do que queria. — Por favooooooooor!

Eu poderia me fazer de difícil, mas foi realmente complicado quando aqueles olhinhos brilhantes cintilaram ainda mais, numa carinha pidona que jamais pensei ser possível existir fora da televisão. Porra, isso era extremamente adorável.

— Vai… — Com muito custo, entreguei-lhe a carteira, sorrindo assim que se vira de costas e saltita alegremente para dentro do alojamento apertado demais para tantos itens à venda.

E ele demorou. E muito. Não passaram-se nem três minutos, mas já estava impaciente à sua espera.

Olhava em volta, colocava as mãos nos bolsos e as removia, roía os dedos, mas nada fazia o ouriço se apressar lá dentro.

E foi nesse momento que meus olhos, mesmo de lado, captaram uma silhueta que me lembraria pela eternidade. Esta se aproximando mais e mais, vindo exatamente até mim. Temendo estar vendo coisas, volvi-me àquela direção, confirmando minhas suspeitas de que era mesmo Jet.

Ele havia mudado muito. Vestia roupas típicas de skatista, estava mais alto, mas ainda tinha aquele sorriso cínico estampado na cara.

Parou em minha frente, avaliando-me de cima a baixo. Aquele olhar, que antes me causava tanto ardor, agora só me fazia sentir ira e repúdio.

Eu não pude deixar de me sentir intimidado, e involuntariamente abaixei as orelhas, o rabo entre as pernas. Jet percebeu minha expressão assustada e posição de inferioridade, o que serviu para aumentar aquele sorriso terrível que rasgava-lhe a cara.

— Quanto tempo, Shads.

Aquele apelido… Que sensação horrível! Se fosse possível, neste instante, eu estaria ainda mais encolhido. Ficamos ambos nos encarando, mesmo com sentimentos tão distintos.

— Deixa ele. — Surpreendendo nós dois, viramos o rosto ao mesmo tempo, vendo um Sonic de punhos fechados e feição brava se aproximar e parar em minha frente com os braços esticados, como um escudo me protegendo.

Eu daria de tudo pra tirar uma foto daquela cara de espanto que Jet fez ao ver a cena.

— Ah, mas quem é você? — A sua voz soou exatamente como o que esboçava, só me dando mais vontade de rir, mas ainda estava fascinado demais com meu protetor para me preocupar com aquilo. — Se não percebeu, tá atrapalhando uma coisa importante aqui.

Sonic jogou-me a sacola que até então segurava, contendo dentro seu ouriço de pelúcia. O sorriso que apareceu nele só me fez saber que algo aconteceria, aumentando minha curiosidade.

Os Opostos Se AtraemOnde histórias criam vida. Descubra agora