Capítulo 9

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  Qual o poder de uma suposição?

  — Jiensoo, você quer jantar?

  Yoon Bum esperou uma resposta, mas não recebeu. Tomou o silêncio como um não. Sangwoo ainda não havia chegado. Talvez hoje fosse um daqueles dias que ele teria de comer sozinho, na companhia de seus remorsos. Que seja. Ele suspirou em decepção, retirando a mão da porta do quarto e sumindo pelo corredor escada abaixo. Atrás da porta, Jiensoo estava deitada em sua cama, usando fones de ouvido conectados ao celular, tocando uma porção de músicas de alta frequência aleatórias. O volume estava no máximo, sendo possível escutar a música por fora do fone.

  Bom, com certeza é arrebatadora. Talvez ameaçadora. As vezes, emocionante, agradável. No caso de Jiensoo, era um poder destrutivo. Talvez o pior fosse que já não era mais apenas uma suposição. Tornou-se um fato, um acontecimento. Mas, sim, havia uma suposição: eles compartilhavam do mesmo sentimento. As mesmas sensações, os mesmos desejos. De uma parte, fato: havia atração. De outra, hipótese: reciprocidade. O que aconteceria se Jee-hye se deixasse levar por ele? Tudo de novo? Sim. Com certeza. Jiensoo não queria eles tão próximos. Não queria ver aquilo acontecer novamente. Ela queria se livrar dele. Queria fazer Jee-hye esquecer. Queria que ele nunca tivesse substituído o antigo velho gorducho do qual Jee-hye sentia nojo. Maldito. Jiensoo mordeu o lábio inferior. Afinal, ela queria isso mesmo? Jee-hye longe dele? Choin Bae morto? Por quê? Que patético! Isso não fazia sentido. Não faz sentido proteger alguém que não quer ser protegido. Por mais que quisesse, Jiensoo não podia manter Jee-hye segura o tempo todo. Ela era livre. Livre! Sim! Isso mesmo! A maldita era livre! As vezes, Jiensoo queria não ter conhecido Jee-hye. Ter conhecido uma puta. Por pena que esse querer não era costumeiro. Ela odiava pensar isso. Quem ela seria sem Jee-hye? Bom, o poder da suposição: ela seria uma excluída iguais as que se sentam no fundo do refeitório, próximas a porta de saída, encolhidas pelo medo de saber que alguém se aproximará para importuná-las. Seria uma das temidas, talvez? As que se sentam perto das lixeiras, esperando que alguém tenha coragem de importuná-las para apenas desfigurar o rosto da pessoa? Que se danem as suposições. Com certeza ela não seria quem é hoje. Ela devia parte de sua vida a Jee-hye. Aquela "puta" era sua salvação, sua saída dos problemas. Patético, de fato. Jiensoo colocou as mãos sobre o rosto, pressionando-o. Talvez não fosse Jee-hye a maldita puta. Ela sentia-se burra. Incapaz, talvez. Incapaz de ser alguém minimamente útil. Sentia-se tão patética. Que fardo! Que puta maldita! Puta louca. Puta burra. Puta idiota. Puta inútil. Puta. Puta. Puta! Ela não sentia-se a mesma. Ela tornou-se uma covarde. Uma fraca. Desde sábado, Desde aquele maldito medo sem sentido. Uma covarde! E tudo piorou com o inútil do policial! Aquela agressividade, aquela repulsa no estômago. Aquela miséria. O medo de ser uma falha. O que seu pai faria dela? "Uma falha, inútil. Eu nunca quis que você existisse. Que merda eu tinha na cabeça?" E se ela fosse descoberta? E se sua mãe fosse presa? Seu pai... ele a mataria? Mataria as duas? Ele... a machucaria? "Você é patética, Jiensoo. Você foi um completo erro em minha... nossas vidas! Você não passa de uma vagabunda inútil." Sim, com certeza. Sangwoo o faria. Ele machucaria, gritaria, ameaçaria, destruiria. Ela ia ser descoberta. Tudo estaria acabado. Sua mãe... como ela ficaria? O que aconteceria com Jee? Ela se decepcionaria? Não. Não. NÃO! "Jinsi, por que você... por que fez isso? Eu confiei em você!" Com certeza! Jee-hye ficaria arrasada! Ah, Jiensoo, você é um lixo. Um estrume. Tudo é culpa sua. Tudo. Uma puta louca! Se assustar com algo tão comum como ver cenários de ódio? Ver uma mulher que não existe? Sentir-se perturbada por isso? Sentir-se enjoada por imaginar alguém podre como Ji-hoon morto? Você é uma fraude. Fraude. Fraude. Fraude...

  Jiensoo socou a cama, esmurrando o colchão com toda a raiva que sentia. Se levantou rapidamente, desnorteada com a luz da rua que entrava pela janela. Fraca, mas forte o suficiente para fazê-la piscar repetidas vezes enquanto terminava de ficar de pé. Bateu o pé em algo duro quando deu um passo para frente, os fones caindo do ouvido e ricocheteando o chão. Ela olhou para baixo, observando sua mochila rente a seus pés. Instintivamente chutou-a, fazendo a bolsa atravessar o quarto e acertar a parede. Sim, isso foi bom. Jiensoo agarrou o travesseiro e bateu com ele na parede, acertando na prateleira com o potes de tinta. Um deles caiu no chão, espatifando-se de modo ameaçador pelo quarto. Ela o observou cintilar com a luz da rua, soltando o travesseiro no chão — por cima da tinta vermelho-sangue — e andando até as gavetas da penteadeira, revirando-as em busca de um pincel. O pincel grande. Abriu três gavetas antes de socar o tampo do móvel, respirando fundo e pondo os olhos sobre o espelho. Perto do armário, uma mulher torta e sem rosto a encara. Jiensoo balançou a cabeça.

Jiensoo - Killing stalking Onde histórias criam vida. Descubra agora