Capítulo 6

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  "Ótimo" é o caralho.

  Por mais que tentasse, Jiensoo não conseguia acreditar que o pai lhe dissera praticamente para ignorar tudo, ainda mais que o delegado tinha um passado com eles. O quão rápido seria para entrarem na lista de suspeitos? Não, talvez já estivessem. Talvez ele já estivesse na cola deles. Talvez aparecesse na frente de todo mundo acusando-a. Na frente da escola toda, na frente de Dadae, Dong, Ryu-suck...

  Na frente de Jee-hye.

  Droga, ela não poderia deixar isso acontecer.

  Jiensoo sentou no chão e abraçou os joelhos. Como sua vida virou aquela bagunça em tão pouco tempo? O que tinha acontecido? O que mais faltava acontecer?

  Ela respirou fundo e deitou com as costas no chão. Queria chorar, quebrar alguma coisa, se isolar do mundo, queria sumir. Não tinha vontade de lidar com tudo que vinha acontecendo.

  – Vida de merda – disse, batendo os pés na parede. –, merda, merda, merda!

  Jiensoo colocou as mãos sobre o rosto e acertou a parede mais uma vez. O som de algo caindo a fez levantar a cabeça. Um pedaço de giz vermelho rolou pelo chão, sendo instantaneamente pego pela garota, que bateu nele como se estivesse matando um inseto. Jiensoo pegou o giz e o girou nos dedos, observando seu corpo liso e flexível. Ela virou para a cama e enfiou o braço o mais fundo que conseguia, tateando em busca de uma tela usada. O chão ali debaixo estava gelado. Jiensoo sacudiu o braço até bater na tela, então a puxou e se afastou ao notar que uma aranha havia vindo junto.

  A aranha aparentava ter por volta de cinco centímetros e tinha patas grossas e longas. Era marrom claro e zanzava loucamente pelo tecido manchado da tela. Jiensoo observou a aranha girar pelo painel até chegar perto de sua mão e começar a escalar seu braço. A garota pegou-a com a outra mão e segurou o corpo pequeno firmemente. A aranha se debateu enquanto era esmagada pelos dedos de Jiensoo, que apertava cada vez mais, fazendo o aracnídeo agonizar se sacudindo até, por fim, explodir. Tudo que tinha dentro da aranha escorreu pela palma da menina, pingando na tela. Era um líquido gosmento e azulado.

  Jiensoo esfregou a gosma na tela e pegou de volta o giz que havia apoiado no chão. Começou fazendo riscos retos por cima de umas manchas de tinha que pareciam uma mulher sem rosto.

  Jiensoo se levantou pouco depois de começar a riscar o painel e encarou sua prateleira, aquela em que guardava os potes de vidro. Passeou o indicador pelos recipientes lentamente, pegando um deles e girando na mão. Abriu a tampa e sentiu o cheiro ferruginoso que a tinta expelia. Virou para a pintura, ergueu o pote aberto acima da cabeça e derramou o líquido na tela, que entornou sujando o chão e respingando pelas paredes e cama. Jiensoo devolveu o pote a prateleira e se ajoelhou na poça que havia se formado. Usou as mãos para retirar o excesso de tinta que caiu no painel e desenhar formas estranhas pela superfície do objeto.

  Ela não sabia exatamente o que estava fazendo, apenas seguia o que seu coração – ou seja lá o que for – mandava. Seguir a irracionalidade era um tanto libertador para ela, afinal, a vida inteira precisou seguir a lógica de seu pai. Não era uma escolha: era uma necessidade. Uma necessidade de sobrevivência, uma necessidade de segurança, uma necessidade de aprovação, uma necessidade de amor.

  E nem todas suas necessidades foram supridas.

  Suas roupas ficaram encharcadas do líquido vermelho. Suas mãos pouco mexiam sob a crosta seca que as envolviam. Jiensoo estava suada e sentia-se entediada. Já faziam algumas horas desde que começara a pintar a tela. O chão estava manchado, a cama e as paredes com marcas de mãos feitas com a tinta que escurecia. Daria um belo trabalho limpar aquilo depois, mas ela sentia-se um pouco mais reconfortada. Liberou um pouco de angústia durante a pintura, porém estava longe de ser suficiente. O quarto estava muito quente, e Jiensoo sentia que podia desmaiar. Ela usou a cama como apoio para se levantar do chão e andou lentamente até a porta. Um banho poderia resolver esse calor. Depois, poderia limpar o quarto antes que seu pai a importunasse com os gritos dele.

Jiensoo - Killing stalking Onde histórias criam vida. Descubra agora