𝐍𝐎 𝐌𝐎𝐑𝐄 𝐂𝐈𝐆𝐀𝐑𝐑𝐄𝐓𝐓𝐒 - Hunter Sylvester (REESCREVENDO!)

Capítulo 3

Já se passaram três semanas desde que conheci Hunter. Nossas aulas até o meio do dia estavam sendo legais. As duas primeiras aulas que tive foram de Inglês e Matemática, eu estava com Emily, e enquanto o nosso professor não chegava, ficamos conversando. A próxima aula que tive foi de Espanhol. Hunter estava na sala comigo. Quando eu o olhava ele parecia já estar me olhando.
Depois da terceira aula, o sinal bate para o recreio.
Eu estava no refeitório sozinha quando os três vinham em minha direção para se sentarem comigo. Eles me comprimentaram e me perguntaram como eu estava. Eu disse que estava bem, na medida do possível.

- O que acha de ir fazer um som lá em casa com a gente? - Hunter pergunta colocando um de seus fones na caixinha, o outro já estava.

- Acho que sim, pode ser. - Digo. Hunter olha para Kevin e para Emily esperando pelas respostas deles. Kevin fez que não com a cabeça, em seguida apontou para sua boca indicando que ele terminaria de comer e depois responderia.

- Bem, minha família está em casa, preciso fazer sala pra eles. - Emily diz olhando para Kevin, vendo quando ele puder falar. - Kevin vai conhecer minha família.- Ela diz depois que percebeu que Kevin demoraria um tanto.

Hunter coloca uma garfada de macarrão na boca e concorda.

- Somos só nós dois então. - Hunter diz olhando pra mim e saindo, colocando os fones no ouvido e passando a mão nos cabelos.

O sinal bate e todos os alunos vão para os seus armários e depois pras salas. No geral eu não prestei muita atenção nas aulas. Foi difícil porque aquela mensagem sempre me fazia questionar.
A verdade é que sem aquela mensagem eu estaria melhor. Eu estava bem antes dela chegar, de certa forma eu já havia superado tudo o que aconteceu, mas aquela mensagem...
A mensagem não estava por inteiro porque eu não queria vizualizar antes de responde-la. Eu queria responde-la com algo. Mas eu vou levar um tempo até saber o que responder.

O sinal bate. As aulas já acabaram. Todos os alunos saem da sala menos eu, que ainda guardava meus materiais e Hunter, que me esperava.
Ele tira os dois fones e os coloca na caixinha e a guarda no bolso.
- Você tem um baixo? - Hunter pergunta. Eu ergo a minha cabeça e faço que sim, termino de guardar meus materiais e me levanto.

Ele me leva até seu carro e coloca uma música bem pesada muito alto. Ele balança a cabeça no ritmo da música, uma mão no volante e a outra fazendo o sinal do rock. Em vezes ele apontava pra mim e cantava, fazendo vozes estranhas. Tudo o que eu sabia fazer era rir. Ele me fez rir tanto que lembro de sentir as minhas bochechas doendo. Eu estava muito feliz ali.
Eu dizia a ele onde ir pra chegar na minha casa.
Eu o convido pra entrar, meus pais haviam saído de casa para trabalhar então eu o levo ao sótão, onde estavam alguns instrumentos, os meus e os do meu pai. Tinha sua guitarra, meu baixo, um piano, flauta e um toca discos. Meu pai é brasileiro, então a maioria dos discos eram brasileiros, alguns rocks, samba, bossa nova. Alguns outros eram da minha mãe, de rock, alguns de metal e mais.

- Puta merda, quanto disco - Ele diz rindo fazendo um sinal pedindo permissão pra escuta-los. Fiz que sim com a cabeça. - Esses aqui eu conheço, só esses outros que são estranhos. - Ele diz quando eu o mostro um LP do Metallica "Ride The Lightning".

Ele colocou um do Tom Jobim primeiro. O album "Wave". A música Wave começou a tocar.
Não dava pra saber exatamente o que ele estava achando. Ele curtia músicas pesadas e uma música como aquela não era muita coisa. Era um instrumental simples, claro, uma bossa nova.
Eu achava a melodia bonita. Meu pai as adorava e sempre tocava elas para que eu dormisse.
Eram calmas demais, talvez por isso ele tenha talvez odiado.
Ele batia as mãos na mesa bem perto do toca discos como percussão. Não dizia nada, eu também não.

- É chamado de bossa nova. - Eu digo a ele, que se vira pra mim parando de bater as mãos na mesa.

- Eu definitivamente nunca ouvi algo tão calmo. - Ele diz rindo olhando pro chão. Eu entranhei, talvez porque aquilo me era muito familiar e presente. Nunca? - Tipo, nem nessas festas chiques.

Antes de terminar eu o mostro outro disco Elis e Tom, com a música "Só tinha de ser com você". Ele se vira de costas para procurar algum disco mais interessante enquanto a música tocava, e acaba achando o LP dos Mamonas Assassinas. Sua reação é se virar para mim com os olhos ainda na capa, e começar a rir. A rir muito. Nós dois rimos juntos. Ele coloca coloca na primeira faixa, que é 1406. De início ele parece gostar um pouco mais do instrumental. Quando começa a voz, Hunter começa rir de novo. Eu não rio com ele, agora eu estou cantando junto da música com a mão fechada simulando um microfone. Acho que parte das suas risadas eram vendo eu cantar junto da música, vendo eu fazer gestos com as mãos.
Eu estava muito feliz. Ele parecia estar muito feliz também, ele parecia rir muito sinceramente. Acho que na cabeça dele soava mais engraçado porque ele não fazia ideia de que tipo de letra poderia combinar com aquela voz.
- Coloca na décima segunda faixa, vai gostar eu tenho certeza. - Eu disse apontando para o LP.

A guitarra com over drive começa a ressoar no ambiente. Hunter me olha levantando as sobrancelhas e eu rio. O baixo, a bateria e o teclado entram.

- Isso não é ruim, é na verdade bom. - Ele diz rindo. A voz entra e ele começa a prestar atenção na letra. - Ao mesmo tempo que fico aliviado que eu consigo entender o que eles falam, eu ainda gostaria que você me explicasse.

- São uma banda de humor brasileira. Não tem que fazer sentido. - Digo. Ele começa a olhar os nomes das músicas no verso do LP e tenta pronunciar os nomes. Fica engraçado. Eu não sou tão boa com o português, mas ainda soa engraçado quando se sabe o jeito certo de se pronunciar.

Passamos a tarde inteira na minha casa, acabos nem indo para a casa dele. Ouvimos mais alguns discos, depois nós tocamos algumas músicas juntos. Ele me contou um pouco sobre ele e eu contei um pouco sobre mim. Foi um dia definitivamente legal.

- Eu quero voltar um dia pra ouvir mais esses LP's. - Hunter diz. Eu o acompanho até a porta.

- Você gostou? - Pergunto.

- Achei uma merda. - Ele diz e eu reviro os olhos - Mas me fez rir bastante. Valeu por hoje.