𝐍𝐎 𝐌𝐎𝐑𝐄 𝐂𝐈𝐆𝐀𝐑𝐑𝐄𝐓𝐓𝐒 - Hunter Sylvester (REESCREVENDO!)

Capítulo 14 (Fim).

Tocava o baixo como se no modo automático. Minha memória atual daquele momento me fazia delirar. Me sentia aliviada de estar longe daqueles cadernos mas ao mesmo tempo sem sentido.

O toque simplissíssimo do baixo que eu tinha que fazer não me exigia atenção. Eu passei 3 anos sem fumar?

Jogo a cabeça pra trás na cadeira. Por que me contrataram?

Acho que as pessoas repararam que eu não tinha passado nenhum tipo de maquiagem. Estava tentando me lembrar por que tinha focado tanto assim nos estudos.

Toco sem querer uma nota errada, que sem querer causa um pouco de impacto sobre o som. O pianista e o baterista me olharam julgativos e eu apenas finjo não perceber.

Faz três anos que eu sequer beijo alguém?

A música acaba e o pianista vem até mim com sua garrafinha d'água laranja, bem chamativa.

- Ashlay, você parece cansada. Eu pedi pra um amigo meu que conhece as partituras te substituir. - Ele diz e seu amigo vem até perto. Era alto dos cabelos longos escuros, cor de ébano. Apesar de serem diferentes, me fez lembrar de Hunter. Me fez lembrar de uma memória com ele específica, só que muito vaga.

Eu desejei muito ver Hunter naquele instante.

- Claro, obrigada mesmo. - Disse.

Eu esqueci como é ter uma boa mente. Não, isso não se deve ao que eu tive com o Hunter. Meu pai diz que é coisa de família essa coisa de não saber lidar. Ele disse que teve os mesmos problemas na minha idade, mas tomando certas decisões ele disse que nunca mais teve.

Só que isso tem sido forte. Passo o dia inteiro estudando para não me dar o prazer de pensar de mais. Pensar de mais tem feito me preocupar de mais. Estudar de mais tem me feito fazer de menos, mas pelo menos eu chegava em algum lugar.

Mas eu estava me sentindo melhor porque tudo não estava a mil. Me sentia liberta de um castigo que eu mesma me proporcionei. Acho que todos que estavam naquele festival de jazz local, achavam que eu era uma péssima musicista. Eu não era, eu só não praticava há um bom tempo.

- Ashlay? Não deveria estar tocando? - John, o garoto que tem sido meu amigo nos intervalos da faculdade diz. Ele tem os mesmos horários que eu, só que ele está cursando música.

- Mais ou menos. - Digo. Um pequeno sorriso sai espontâneamente do meu rosto.

Foi aliviante ver o rosto de John naquele instante, apesar de eu ele só conversarmos durante intervalos. Talvez porque houveram muitos intervalos desde que a gente vem conversando.

Eu acho que eu estava mais preocupada em ser alguma coisa, custe o que custasse. Não para os meus pais e nem para me orgulhar. Só pra poder estar melhor de alguma forma. Com a minha tentativa constante de me manter fora de pensamentos, foi uma ótima opção. 

Estava ao lado do palco encostada na parede dali. Eu tinha visão do lugar inteiro. John ainda estava comigo.

A mistura de todas as vozes daquele local, a música, a luz baixa daquele festival e os seus ricos detalhes decorativos me prendiam toda a atenção.

— Ash, eu já volto, tá ok? Uns amigos meus... — Ele não continua a frase e acena para seu amigo se colocando nas pontas dos pés.

Eu observo John sair. Ele anda rápido até seu suposto amigo e desaparece em meio as pessoas.

Me sinto um pouco entediada. Depois dele ter quebrado o silêncio não consegui retomar com a minha atenção. Decidi ir até em frente ao palco, esperei o pianista me ver e fiz um sinal com as mão indicando que eu retornaria a tocar na próxia música.