Pain, suffering and Jesus

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Minha querida Billie,

Estou lhe escrevendo para contar as novidades.

Fui para um soirée esta noite, parece que estou bem mais conhecida do que penso. Helena está tão ocupada com todo o casamento que acabou se distanciando mais, por favor, volte ao menos para o casamento de minha amiga. Sei que pareço egoísta devido as atuais circunstancias de vossa mãe, mas peço que venha.

Cláudia e Finneas estão bem, minha cunhada parece que esteve passando muito tempo dentro de casa, agora que estou aqui ela não para de falar em eventos para ir e conversar sobre bebês, o que é bem irônico

Enfim, como está a tia Maggie? Espero que esteja se recuperando bem, eu te amo, dê um 'oi' e um beijo nela por mim, sim?!

Com amor, Catarina

▬ BILLIE▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬

‒ Como está minha nora?

‒ muito bem, agora tome o chá - minha mãe estava acamada e com uma aparência muito melhor que antes ‒  pretendo trazê-la aqui, para passar um tempo

‒ então acho melhor trazê-la antes que eu morra de gripe e você fique contaminada  ‒ apesar do tom brincalhão eu pude sentir um pouco de dor

‒  você não vai morrer de gripe, eu estou aqui com você ‒ coloquei o prato de sopa em cima da escrivaninha e peguei sua mão ‒ ainda precisa conhecer seus netos

‒ ora, mas já?  ‒ minha mãe tomou um susto ‒ mal a conheceu e já a arruinou

‒ ela ainda não está grávida, vou ter que esperar para descobrir quando voltar 

‒ ela já te escreveu?  ‒ minha mãe parecia animada

‒ ainda não, se escreveu, vai chegar amanhã. O correio para aqui é rápido  ‒ me levantei e comecei pegar os panos sujos e colocar dentro do cesto ‒ agora vá dormir

Peguei o prato de sopa inacabado e a cesta saindo do quarto. Atravessei todo o corredor iluminado apenas pela lua, o vento frio de outono balançava o sino do vento que havia na porta de casa e em uma das janelas do corredor. Me encolhi um pouco e me embrulhei mais com o chalé de tricô colorido. Fui até a cozinha para lavar o prato e deixei os panos na lavanderia para que as criadas os lave pela manhã

Como estava tarde e o frio era meio forte caí logo na cama macia que ficava no mesmo corredor que o da minha mãe

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‒ como a senhora está? ‒ entro no quarto

Minha mãe estava deitada sem cobertas, sua camisola estava molhada na gola e embaixo dos braços, um pano branco pousava em sua cabeça e o médico me olhava com medo. Algumas criadas estavam ajudando colocando mais panos molhados, minha mãe estava desacordada, mas dava para ver que estava tremendo de frio

‒ o que está acontecendo?  ‒ corri para cobrí-la e uma das criadas me parou. A olhei aborrecida e a mesma se encolheu ‒ a cubram novamente, ela está doente

‒ vossa graça, eu sei que está preocupada, mas sua mãe apresentou piora no quadro de gripe  ‒ o médico explico ‒ estamos fazendo o que podemos

‒ fazendo o que podem? Não parece

‒ vossa graça...  ‒ o homem se levantou ‒ o quadro de sua mãe está bem delicado, não sei se ela irá passar desta semana

‒ pois então a faça passar ‒ disse em um tom hostil 

‒ vossa graça...creio que só um milagre 

Eu não estava com vontade de chorar, pelo menos não de tristeza. Saí enfurecida do quarto, algumas lágrimas começavam a cair, meus passos estavam rápidos e pesados enquanto eu caminhava para fora da casa. Perto dali tinha uma capela de um cômodo que alguns usavam para orar em suas horas vagas e pedir por milagres, favores, tinha no máximo duas empregadas e uma criança, provavelmente filha de uma delas

‒ podem se retirar, por favor?  ‒ falei calma, mas minha voz falhava. Elas me olharam confusas ‒ MANDEI QUE SAÍSSEM 

Gritei com algumas forças restantes. Elas se levantaram do chão, uma das moças pegou a criança pelo braço e a puxou com um pouco de força, uma delas fechou a porta dupla. Minhas lágrimas se intensificaram e eu comecei a andar para ficar mais perto da decoração de Jesus, meus joelhos cederam e eu caí, tentei limpar meu rosto, sem sucesso

‒ por que isso está acontecendo? Você quase tirou Catarina de mim, tirou meu filho ainda na barriga e agora quer tirar minha mãe ‒ falei indignada, ainda chorando ‒ o que você quer de mim?

‒ Jesus tem missões misteriosas, umas que vão além da completude humana ‒ ouvi um homem falar, assim que me virei vi o padre ‒ ele tem uma missão dessas para cada um de nós

‒ não sei se acredito mais no seu Deus  ‒ falei me voltando para a imagem 

‒ só existe um deus, vossa graça  ‒ o homem caminhou e se ajoelhou perto de mim ‒ um Deus

‒ não venha impor sua religião a mim padre, não estou afim de ouvir sermões religiosos agora

‒ tenha fé, minha filha  ‒ ele disse calmo ‒ não importa no quê, só tenha fé

Me levantei ajeitando a saia do vestido, olhei uma última vez para a imagem esculpida e depois para o padre. Não fiz reverencia, nem falei nada, apenas saí da capela fechando a porta dupla. Eu podia não ter falado nada, mas minha dúvida estava clara, ao mesmo tempo que também não era uma dúvida

No que eu devo acreditar? Não acredito em nada e ao mesmo tempo acredito em tudo
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CAP EXTRA❤️

BYE BYE

SEE YOU SOON❤️❤️❤️

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