10 - Porsche diz: "Eles estão felizes juntos, Khun!"

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                        O telefone tocou na casa silenciosa. Tan estranhou que a pessoa tenha usado o telefone fixo. subiu até o escritório com o som repicando pela casa. Era o cunhado e amigo Porsche.

                       — Você está na Tailândia, Tan? — A voz pareceu estranha e Tankhun ficou alerta.

                       — Você está bem, Porsche? Aconteceu algo? Como está sua viagem! Eu disse para você não ir só! Você nunca me ouve, caramba!

                       —  Acalme-se, Tan! Eu estou bem, mas achei que você tivesse vindo para a Espanha... 

                       — O que eu faria aí, meu menino? Eu sei que só trabalho por quatro horas, mas ainda assim estou ocupado cuidando de uma rede de hotéis...

                      — Pensei que estava com Big e Tem...

                      — O quê? Eles estão na Espanha?

                     — Sim. Assisti um espetáculo e ele foi apresentado como o maestro tailandês que tinha acabado uma turnê pela Europa.  Ele é muito querido. 

                     — Falou com ele?  E Tem? Estava junto?

                     — Na verdade, Tan, os jornais daqui estão dizendo que eles estão namorando. Parece que ele disse em um talk show que eles eram como "enemy love" e o povo ama o namoro dos dois. Estranhei você não estar em casa porque mandei fotos deles que estão nos grandes jornais, não estou falando de folhas de fofoca.  Como você nem visualizou, achei que soubesse e estivesse por aqui... É um rastilho de pólvora! Estou falando de periódicos culturais. Tan. 

                      Tan parou de ouvir aí. A voz de Porsche virou um amontoado de informações. Foram quase quatro  meses de procura e o rastro deles sumiu na Amazônia brasileira. Uma miniturnê na Argentina com uma apresentação especial da Casa Rosada também constava nas redes oficiais de Big, mas os telefones dos dois jamais o atendia. 

                  Talvez seja hora de dar um passo mais atrevido e ir atrás desses dois. "Espanha, aí vou eu"

******

                O avião pousou no Aeroporto espanhol com duas horas de atraso e todos os passageiros estão nervosos. Tan, no entanto, segue em paz. A certeza de que vai conseguir conversar com Tem e Big o acalma. Nem teve pavor  nem mesmo no momento da turbulência. Enfrentaria tudo por eles. Pegou o táxi e seguiu para o endereço que tinha. O porteiro, um tailandês jovem e bonito, conversou com ele e o informou que os patrões tinham ido para a Itália.

                      — Já faz algumas horas, senhor. Não voltam mais nessa temporada.

******

                      Agradeço e saio de volta. Tenho o endereço de Roma. Vou atrás. Mas o medo é que sei que ambos têm residências italianas e eu desconheço a localização de uma delas.

                     Ligo para Porsche e sou surpreendido com a notícia. Tem e Big estão voltando para a Tailândia. Ele viu a notícia de uma apresentação para a família real do Norte e mais duas outras em Bangcoc.   Não acredito que nos desencontramos. Agora sim me irrito. Odeio viagens longas e solitárias. Sei que preciso descansar e Porsche frisou isso muito bem, mas quero vê-los logo.

                     A voz de Kim vem à minha mente..."Deixe-os explorar o que estão vivendo juntos, maninho. Eu sei que eles o amavam. Mas precisam descobrir se realmente querem viver algo só deles ou incluir você."

                    Kim sempre é a voz da razão quando fico cansado. Meu caçulinha pode estar certo de novo. 

                    Peço ao motorista que mude a rota. Vou ficar uns dias na Espanha. Ligo para Porsche e o comunico. Liant cuidará de tudo para mim na sede do hotel. Vou descansar um pouco. Uma semana na Europa não vai acabar com meu futuro. Talvez viver um pouco por mim seja o que preciso para estar pronto para minhas duas crianças.

                   Decido mochilar. Sempre quis tentar isso e mochilar na Europa. Ligo para o Jom. Sei que podemos fazer algo juntos.

                   Quando digo minhas intenções ele ri.

                    — Vai virar mochileiro nessa idade?

                    — Nem tenho quarenta ainda, Jomjom!

                  Rimos. Ele, como eu, também teve que trocar sua adolescência pela vida adulta cedo. Cuidar de casa, irmão e empresa tão jovens nos envelheceu e nos tirou algumas possibilidades. Nossos irmãos fizeram trilhas juntos, enquanto nós estávamos cuidando para que a vida deles fosse feliz. Eles puderam fazer passeios por praias que nós dois só conhecemos nos folhetos de viagem. Ele entende minha vontade de fazer algo por mim.

                 — Tan, sua ideia de ser forasteiro é muito diferente das dos nossos irmãozinhos. Eles viveram em ambientes mais propícios à prática desses viajantes. Você vai descer uns níveis de estrelas. Vai se hospedar em hotéis quatro estrelas e dizer que mochilou. Eles ficaram em albergues.

                  — Jamais vou para um albergue! Sou Tankhun Theerapanyakul, Jom! Mas também não vou ficar em quatro estrelas. Vou me hospedar nos que tem 2 ou 1...

                   — Ou seja. Ainda vai luxar porque você sabe que um hotel de uma estrela aqui é igual a muitos bem avaliados em outros continentes.

                   Sorrimos juntos porque é verdade. Conversamos sobre muitas coisas e acabamos falando de amores. Jom pretende voltar para a Tailândia. A esposa quer que o filho nasça e cresça em solo tailandês. Entendo a decisão deles. Os irmãos dele vão ficar felizes tendo-o por perto em definitivo. Viver na Europa é uma coisa, criar filhos longe de nossas raízes é outra.

                 Falamos de meus amores. Descubro que meus homens estiveram com ele e a esposa algumas vezes. E descubro  também que em nenhum momento eles tocaram em meu nome.

                  — Pensei que você tivesse desistido deles! Jamais imaginei que tinha vindo atrás deles!   Eles estão felizes vivendo como um casal. 

                  Não sei dizer o que é essa dor que sinto ao ouvir de como estão vivendo uma cumplicidade que sonhei para nós três.

                  Jom diz que quando a esposa perguntou por mim, eles simplesmente desconversaram. Não sei explicar o que acontece comigo ao saber disso. É como uma apreensão. Eles podem viver sem mim? Penso naquela passagem de volta e talvez viver como adolescente com uma mochila nas costas não seja realmente para mim.

                  Meu amigo diz que devo ficar. Kim me disse isso antes de eu vir para cá, atrás deles. Não sei se quero ouvir conselhos.  Quase nunca os ouço ou sigo.   A passagem ainda é válida e tentadora... A noite termina depois de mais algumas taças de vinho e voltar ainda é mais tentador que ficar...

                  Vou para o hotel e olho para o divã. De um lado a mala e a volta para casa, para reconquistar os meus amores. Do outro a mochila nova e bonita com a promessa de me conquistar e descobrir mais sobre mim e meu mundo. 

                 Pego a passagem... Seguro a mochila com a outra mão. É uma dúvida entre o amor próprio e os amores da minha vida. 

Tankhun - Pequenas Histórias #KhunTemBigOnde histórias criam vida. Descubra agora