CAPÍTULO DOIS CASSIE MCLANE

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Do retrovisor do carro, via apenas a rua e algumas árvores que conforme o percurso ficavam distantes, casas que antes eram vizinhas se tornaram uma lembrança. Virei-me para trás e observei minha antiga casa, um sobrado branco e bege, onde cresci e tive meus primeiros contatos.
O homem que veio me buscar, é o noivo de minha irmã. Beirava no máximo uns trinta anos e tinha olhos azuis como o céu, um cabelo loiro escuro e tinha um bom gosto musical.
O remédio que tomei para não passar mal na viagem estava fazendo efeito, estava tocando "I miss you" do Blink 182, minhas pálpebras já estavam ficando pesadas, e logo a música se tornou um silêncio, eu havia adormecido.
Após uma hora e meia de viagem chegamos à Nova Iorque, uma cidade grande, linda e encantadora, cheia de sonhos, de prédios e pessoas normais com um cotidiano normal.
Quando digo "pessoas normais", quero me referir à pessoas que não são igual à mim. Eu não sou um ser normal. Quando completei 13 anos, aconteceu algo inesperado, grandiosamente mística. Hoje, me olho no espelho e não vejo uma garota de 15 anos comum, eu vejo uma espécie de aberração mirim, tudo que vejo é uma garota baixa de cabelo preto, um rosto cheio de sardas e um cílios chamativo de rímel. Mas, uma vez me disseram que, não são as imperfeições muito menos as perfeições que torna quem somos. O que nos torna único é a nossa essência, aquela chama de esperança cativada dentro de você.
Porém, não é normal sonhar com alguém sem ver a sua face, é mais como uma visão, e não um sonho. Um garoto mais alto que eu em pé, cercado de lobos vivos e mortos, em uma espécie de terreno abandonado. E diante de uma casa em chamas, lá está ele observando a fumaça escura indo em direção ao céu. Eu apenas consigo ver o seu olho esquerdo, que possui uma cor alaranjada. Mas de repente, algo grande e veloz surge, no momento em que vou tentar salvar o "menino sem rosto", o sonho acaba.
• • •
Quando cheguei ja casa de minha irmã, a abracei da forma mais educada possível, nós praticamente crescemos feito cão e gato, sempre brigando, mas mantendo uma relação de amor também.
-Como foi a viagem? -Ela perguntou, soltando-se do abraço- como estão os nossos pais?
-A viagem foi tranquila, não pegamos trânsito. E quanto a mamãe e o papai, eles estão ótimos, ela continua a mesma, sempre costurando e inovando na culinária. Já o papai começou a frequentar jogos de xadrez. -Disse, pegando minhas malas pesadas.
-Deixe-me te ajudar. -Interrompe Max, me oferecendo ajuda.
Lhe entreguei as bolsas e agradeci gentilmente. Subimos as escadas e ele me recepcionou até meu novo quarto.
-Seja bem-vinda, espero que se acomode logo, é um prazer tê-la em nosso lar.
-Obrigada, eu me acomodarei sim. -Digo sorridente.
A porta se abriu e ele saiu, eu estava sozinha no quarto, e o silêncio era o que mais me incomodava.
Observei os quadros pendurados da cabeceira da cama, havia paisagens e mais paisagens. Até que de tanto observar, encontrei um retrato na estante, uma fotografia minha e de Jane no parque brincando no gira-gira. Aquela época costumava ser prazeroso.
Depois de um longo tempo deitada trocando mensagens com meus pais, decidi arrumar minhas malas.
• • •
Estava muito sonolenta, a viagem conseguira me fazer cansar, então fechei os olhos e simplesmente apaguei.
Acordei na manhã seguinte morrendo de dome, não tinha ninguém em casa, imagino que tenham ido fazer compra ou algo do gênero. Por conta disso, fui obrigada a caçar ingredientes pro meu café.
Já sentia falta de casa, da rotina matinal do cotidiano, eles me abraçando e me desejando um bom dia. Daqui pra frente seria assim, talvez apenas nos domingos nos reuniríamos para almoçar todos juntos.
Após terminar o café, ajeitei a cozinha e decidi sair para correr.
A cidade é bem movimentada, o que a torna mais bela ainda. Corri pelo bairro todo, conheci por acaso uma garota chamada Valentina, uma loira de olhos claros de cor verde, bem educada e super simpática.
Depois que cheguei em casa e tomei um banho, fui para a sala assistir um pouco de TV, após checar vários canais acabei vendo o filme Titanic, e como de costume os choros predominaram. Cochilei no sofá mesmo, e quando acordei, havia um saco de gelo em minha testa e um pano enxugando o suor acumulado em meu pescoço.
-Cassie! O que está acontecendo com você? -Jane gritava, com uma expressão desesperadora- você está passando por um tipo de evolução? O que tem de errado com você? Há algo errado com o seu Xamã?
Minha boca parecia estar colada, eu não conseguia abri-la, meus músculos nem sequer mexiam, a minha visão estava ficando sem foco.
-Max foi chamar um médico aqui perto, aguente mais um pouco, fique firme, vou buscar mais gelo.
O que estava acontecendo comigo? Há algo que eu ainda não saiba sobre meu Xamã? Eu estava cada vez mais transpirando, meu nariz estava começando sangrar, droga! De repente meu coração voltou ao normal, Jane havia chegado com mais gelo.
-Seu nariz está sangrando, seu nível de pânico está ultrapassado. Logo Max chegará aqui com o doutor e... -A campainha tocou- toma, pegue esse papel e limpe-se rápido. Rápido!
Desengonçada, limpei meu rosto da maneira mais rápida que pude, pois, não demorou muito até que Max chegasse na sala e o doutor me examinasse.
-Febre alta, pressão alta... -Disse o doutor a Jane- segundo o que você me disse, suponho que sua pressão tenha abaixado e elevado rapidamente e bruscamente ao mesmo tempo. O que causou o aceleramento cardíaco.
Eu estava consciente, conseguia escutar mas minha mente não conseguia se ligar com a realidade, eu ainda estava sonho, ele não tinha terminado. Ainda faltava algo, o sonho não havia acabado.

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