Capítulo 6 - Água Amarga

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Melinda

Pela varanda no quarto , pude ver o sol da alvorada , o céu estava um pouco claro e o vento gélido se fazia presente .

Não consegui pregar os olhos de nenhum modo , tudo daquela carta me fazia repensar em todas as vezes que Eduardo esteve comigo ... seria possível ele sentir algo por mim mesmo estando noivo de outra ? Seria possível isso existir ou é algo invisível que só eu estou ficando louca ?

De qualquer forma , isso já está fora do meu alcance de entender . Não tinha possibilidade nenhuma de algo assim acontecer , conhecendo Eduardo , ele não iria fazer algo desse nível .

Nesse vai e vem de pensar , vi pelo relógio na minha penteadeira que se fazia 06:00 . Dormir não iria mais ; e ficar pensando em Eduardo era a última coisa que eu queria fazer agora .

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Assim que desci , a primeira pessoa que eu vejo na sala é papai , sinceramente achava que não ia ter ninguém pela casa acordado , principalmente meu pai que só acorda depois de um belo copo de água na cara vindo de Luísa .

Ele estava sentado , na velha poltrona vermelha ao lado da lareira , perto da poltrona estofada azul de mamãe , ainda tem o cheiro de Lírios dela ... eu me lembro quando criança que sempre chegava a época natalina , nós 3 passávamos a noite toda perto da lareira , mamãe contava histórias e papai interpretava todas elas , de contos de fadas e todo tipo que possa ter , eram bons tempos ... bons e velhos tempos ...

Me aproximo e vejo pelas suas costas que ele está com um lenço azul com bordados rosa , chegando mais perto vejo que está segurando fortemente enquanto olha pra janela , se conheço bem está pensando nela , em mamãe .

-Papai ?

Ele ainda permanece olhando para a janela . Toco em seu ombro e dessa vez ele me olha .

- Oh , Melinda , acordada essa hora ?

Ele enxuga o rosto , provável que estava chorando .

- Não consegui dormir , e o senhor heim ? Só acorda depois dos pássaros ficarem roucos de cantar . - Ele sorri e olha para a poltrona . - pensando nela ?

Toco sua mão e ele aperta levemente .

- Sim ... estava sim ... pensando o quanto a casa fica vazia sem ter ela cantando , dançando e rindo alto como ela fazia .

Ele me olha e eu olho para o lenço que ainda o aperta .

- Era dela ?

- Sim ... tem uma história por trás ...

- Quer me contar ?

Ele me olha sugestivo e dá um pequeno sorriso .

- Eu tinha 20 anos quando conheci sua mãe , tinha saído com alguns amigos ao parque , era jovem inconsequente , na época meu pai só queria que aprendesse algo para administrar a fábrica mas não era o que eu queria , tentava irritá-lo de todas as formas só para ele notar que eu não queria seguir aquilo , claro , não me envolvi com drogas ou bebidas , muito menos mulheres , apenas fugia de todo modo daquilo . Nesse dia do parque uns amigos fizeram uma aposta de quem conseguia primeiro chamar uma garota para sair , cada um observava as atuações do outro até alguém conseguir , eu vi sua mãe no banco sentada perto da fonte onde estávamos , no momento não tinha olhado o rosto , mas a deixa para falar surgiu quando ela deixou cair esse lenço quando levantou , eu pensei "ora , é uma bela oportunidade" , a questão é que quando me aproximei para pegar o lenço e entregá-la , ela havia saído correndo , fiquei parado feito um besta e meus amigos riram dizendo que a moça não tinha nem me olhado mas já tinha se espantado .

Mesmo depois de 1920Onde histórias criam vida. Descubra agora