11 - Nó

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Estou parada em um canto da sala próximo a janela enquanto os familiares e conhecidos chegam. Gizelly recebe todos que depois vem me dizer alguma palavra de apoio e eu na maioria das vezes sequer escuto.

Teria sido uma longa noite caso eu não tivesse tomado um suco que trouxeram especialmente para mim e logo em seguida a sonolência me tomou fazendo com que logo subisse para o quarto e apagasse, acordando apenas no dia seguinte.

Papai foi comigo para o cemitério e Gizelly ficou no hospital com a mãe.

A sensação é de perder algo valioso que não soube dar valor. Erramos, nos desvalorizamos, demos prioridade a tantas outras coisas e acabamos esquecendo que apesar de tudo existem sentimentos que jamais sairão de nós, pois é algo que vai além de tudo.

Não posso negar a gota de arrependimento que surge por ter ido embora. É ainda mais triste saber que parti cheia de sonhos e planos de ser feliz e hoje tudo ter virado pó.

Bianca me ligou diversas vezes durante a noite, mas vi as chamadas perdidas apenas quando já estava saindo para o enterro, então quando volto a primeira coisa que faço é ligar para ela.

— Você quer me matar de preocupação? — Dou um fraco sorriso ao ouvi-la.

— Bom dia para você também. — Ela bufa do outro lado. — Desculpa, eu acabei dormindo antes de te ligar ontem. Acabei de chegar do enterro...

— Oh Deus, eu sinto muito. — Meus olhos enchem de lágrimas ao ouvi-lá. A ponto de chorar tudo que estou segurando desde que acordei.

— Tudo bem. — Suspiro e ficamos em silêncio por alguns segundos.

— Eu liguei para a agência e falei que você só poderá comparecer na próxima semana, ok? — Escuto passos vindo da cozinha e olho na direção da mesma, me perguntando quem estava em casa. — Ok?

— Rafa, eu... — Gizelly surge de repente e para de falar ao ver que estou ao telefone.

— Rafa? — chama Bianca e fico sem saber o que dizer. — Quando você volta?

Estou olhando para Gizelly que parece esperar que eu termine a ligação.

— Provavelmente assim que a namorada do meu pai sair do hospital.

Eu não havia comentado sobre meu pai namorar minha ex sogra.

— O que ela tem?

— É complicado, depois conto tudo direito — falo sem jeito por Gizelly não tirar os olhos de mim.

— Olha, eu sei que ainda não deu tempo de você sentir minha falta e além do mais deve estar tudo tão difícil aí, mas saiba que estou com saudade — fala com a voz doce me fazendo sorrir boba ao imaginar seu rosto naquele momento.

— Eu também. — Baixo a cabeça sem jeito, sentindo o olhar de Gizelly sobre mim. — É... Depois nos falamos, beijos. — Rapidamente desligo sentindo que meu rosto está em chamas.

É como se as duas estivessem ali na minha frente me deixando encurralada em meus próprios sentimentos.

— O que você quer? — Mesmo não tendo intenção acabo soando grossa.

— Natasha está na cidade e quer falar com você.

— Como sabe disso?

— Eu a encontrei hoje, ela quer te ver.

— Ok. — Subo para o quarto onde passo o resto do dia.

No fim da tarde saio decidida a procurar Natasha. Por sorte não vejo Gizelly e saio caminhando pelas ruas tranquilas, tão diferentes de Boston, em direção a casa de minha antiga amiga.

Last LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora