Capítulo 22

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Amanda

Acordei com o choro da Emma através da babá eletrônica. Eu me sentei, ainda atordoada de sono, reparando que lá fora o dia amanhecia. Nolan não se mexeu no seu sono profundo, o que era inédito. Ele ainda era o primeiro a acordar quando Emma chorava.

Hesitei por um momento, me perguntando se deveria acordá-lo, mas decidi deixá-lo dormir. "Eu posso cuidar de nossa filha perfeitamente.", pensei com uma coragem que não existia antes.

Eu não queria acordar Nolan. Ele passou por um momento muito difícil ontem. E eu ainda ficava chocada quando me lembrava que por incrível que pareça fui eu quem começou uma briga com Theodore Percy.

Eu estava de saco cheio do jeito que ele tratava Nolan. Entendia que Nolan agiu de maneira errada a maior parte da adolescência depois que a mãe morreu, mas também entendia que o seu comportamento foi um mecanismo de defesa e uma maneira de chamar a atenção do pai, que nunca o tratou com o menor carinho, ainda mais depois que ele perdeu a mãe daquela forma tão horrível.

E ver Theodore desfazer de Nolan ontem, depois de ele contar sobre o projeto do livro, me fez reagir com revolta. Claro que me arrependi de ter explanado sobre os problemas psicológicos da mãe de Nolan, quando percebi que rumo a briga tomou, mas, no fim, acho que já estava na hora de Nolan entender que apesar de Theodore ter sido um marido distante e um pai omisso, Daisy também tinha seus problemas. Um casamento é feito por duas pessoas, afinal.

E me cortou o coração ver como Nolan ficou arrasado, mas também foi um alívio ver que ele finalmente demonstrou a Theodore o quanto a falta de amor tinha lhe afetado a vida toda. E parecia incrível, mas acho que Theodore percebeu isso pela primeira vez, o quanto suas atitudes foram responsáveis por Nolan ter se tornado aquela pessoa.

Nolan chorou muito e eu queria consolá-lo, mas Helena pediu que eu os deixasse a sós.

Eu fui buscar Emma, que havia acordado e quando desci, Nolan estava sozinho na sala, com os olhos fechados contra o sofá.

Eu me aproximei e toquei sua mão.

— Tudo bem?

— Não.

— Vamos embora?

Ele abriu os olhos. Parecia desolado.

— Você sabia da minha mãe?

Eu me senti um pouco mal por revelar que Helena havia me contado o que sabia pouco antes de eu sofrer o acidente.

— Não achei que cabia a mim te contar. Desculpe.

Ele não falou nada e eu me perguntei se estava bravo.

Ele tirou Emma do meu colo e fomos pra casa em silêncio. Não quis lhe fazer nenhum questionamento, porque parecia que Nolan precisava ainda digerir tudo o que tinha acontecido.

Eu o deixei levar Emma para o quarto e eu mesma me deitei para dormir.

Estava quase adormecendo quando senti o colchão se movendo e Nolan se deitando ao meu lado.

Eu me virei e o abracei.

— Sinto muito ter falado daquele jeito com seu pai.

— Ele merecia ouvir. Estava certa em tudo.

— Quer falar sobre o que aconteceu?

— Você acha que posso ser como ele?

— Claro que não, Nolan! Você é o oposto dele!

— Talvez eu seja como minha mãe, então?

— Sua mãe tinha problemas, mas tenho certeza que ela também era maravilhosa.

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