Capítulo 2

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Seis meses antes

Nolan

Como saber se estamos em um pesadelo ou acordados?

Eu sonhei com aquela cena um dia e, quando aconteceu, por um milésimo de segundo, tive esperança de que não fosse real.

Mas quando acordei em um hospital – pela segunda vez na minha vida – depois de um acidente de carro causado por mim, a esperança de que fosse uma brincadeira do meu subconsciente me pregando peças se esvaiu como fumaça.

Cara, tem que parar de fazer isso comigo!

Jace se inclinou sobre mim e tentei me mover. Eu precisava me mover.

— Não faz isso. Está inteiro, mas cheio de contusões... — Ele me manteve no lugar.

— O que... aconteceu? — consegui indagar e minha voz parecia estranha a mim mesmo.

Eu parecia estranho a mim mesmo.

— Não se lembra? Você e Amanda estavam no carro e sofreram um acidente...

— Amanda... Ela está bem? E o bebê?

Jace desviou o olhar e então eu notei que havia mais alguém no quarto.

Era meu pai.

Ele estava abatido e furioso, quando se aproximou, e antes dele começar a falar, eu já sabia que iria dizer que tinha razão.

Eu estraguei tudo mais uma vez.

Mas quão grande foi o estrago agora?

Sentia meu coração batendo de um jeito alucinado no peito. Medo. Dor.

Medo de novo.

Helena se colocou entre nós enquanto Jace afastava meu pai.

— Não fala nada, pai. Se falar qualquer merda para o Nolan agora eu quebro sua cara. Ele não precisa disso neste momento.

Helena se inclinou sobre mim, com um olhar clínico, me analisando.

— Nolan, você teve muita sorte. Só saiu do acidente com algumas escoriações, mas tem que ficar aqui, por precaução e...

— Amanda e o bebê?

Ela sorriu. Não parecia um sorriso totalmente feliz.

Parecia aqueles sorrisos de quem ia dar uma má notícia e queria amenizar.

— Você tem uma linda filhinha. Tivemos que induzir uma cesárea, ela nasceu prematura, mas saudável, dadas às circunstâncias. Porém, teremos que mantê-la na incubadora por enquanto.

Eu pude respirar aliviado por apenas alguns segundos.

Eu tinha uma filha. Ela nasceu, afinal. Estava viva.

— E Amanda?

Helena ficou séria.

— Amanda teve uma contusão grave, Nolan. No momento, ela está em coma, lutando pela vida.

***

Meu corpo ainda dolorido reclamou quando obriguei minhas pernas a darem um passo atrás do outro e se aproximarem da cama. Senti dor ao respirar quando seu rosto muito pálido contra os lençóis do hospital se colocou na minha visão.

— Amanda? — eu a chamei, como se ela fosse abrir os olhos e sorrir pra mim.

Mas ela continuou em silêncio quando segurei sua mão.

Ela parecia estar dormindo, plácida e segura, se não fosse os tubos e aparelhos que a ajudavam a respirar. Ainda assim, eu me permiti fingir por um momento. Que ela iria acordar a qualquer instante.

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