Convence-te

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Sim, eu estou em queda livre,
Cair sem para-quedas, sempre,
P'ra ver o que me calha, sempre.
Eu quero estar em queda livre.

Sou novo demais p'ra cair
Em segurança até parar.
Novo para nunca sair...
P'r'em banco de areia encalhar.

Cadê adrenalina? Quero vento,
Fluindo no rosto!
Quero que cause medo cada evento,
Que cada virar, grito, tenha intento,
E ver se dá gosto.

Saltar de avião não é coisa fácil,
Quando há desábito.
Mas a queda, peço, tem de ser dócil.
Talvez o Tempo Aponte. Seja eu àgil,
Seja ele árbito.

Coração, não pares de me bombear,
Esta queda veio, foi p'ra ficar.

Sentes a minha voz, como se eleva?
Também desejas tocar tu na erva?

Saltei do avião que debatia
Na turbulência de descumunal
Tempestade, qu'a qualquer um temia.

Coração, tu não vês o meu sorriso?
A minh'alma chora do pouco siso...

Coragem e certeza, sempre.
Não há que temer. Bom final.
Nada a perder. Bom final.
Tu na assertividade, sempre.

Deixa-me Providência, aproveitar,
Sabes que desejo,
Deixa-me ir pelos teus dedos, voar,
Preso nos teus cabelos, alcançar,
Digno de azulejo.

Achas, coração, deve ser pintada,
Esta queda maluca e desalmada?

Como é grande e certeira esta que incerta-
Haveria mais burra escolha 'sperta?

Ó; Ó coração!

Quedando eu me apercebi d'algo em mim,
Que se me prendia em pesadas costas,
Eram dois para-quedas querubim.

"Aqui estamos e tal como gostas"
Pois na carta posta se lia assim.
E na estúpidez os livras. "Seus bostas".

Eu quero e quero como -Eu- quero!
Não há qu'enganar...
Primeiro para-quedas, nem pondero,
Saltar sozinho, família, quero.
Não irei 'sbarrar.

Eu quero e quero como -Eu- quero!
Não há qu'enganar...
Sengundo para-quedas, nem espero,
Amigos intrometidos não quero,
Vá, ponham-se andar!

Vês coração, como é que sou eu bravo,
Enfrento tudo que me chama parvo...

Coração, coração, que Se aproxima!
Terei tempo de bradar próxíma rima?

'scolha certa, coração, fi-la não?
Sim a certa, fi-la não, coração?

O avião sólido se aparentava,
Parecia aventura apetitosa,
Mas não foi aquilo que se esperava.

Ainda assim, prima altura queixosa
Deu-se e era só, só tu quem saltava...
Que rica-pobre coisa embaraçosa...

Buscando algo, talvez glória, cais.
Das-me esta 'stúpida 'stória. Não dá.
Pobre vitória. Fazer nunca mais.

Ó mundo incruél, incompreensivo,
Troceiro, eu só estava era perdido.

Adeus coração,
E parou de bombear.

Do Livro Do PoemaOnde histórias criam vida. Descubra agora