Confidança

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"Consede-me esta breve confidança?"
("Será erro de fala?")
"Claro!", dizes em parte com 'sperança,
Mal sabes tu, pobre mente criança,
Que esta dança entala.

A mais bela dança que pode haver.
Dança que dança a dois,
É capaz de a qualquer um comover,
Dura doce e fia-se no Crer.
"Dizei-me quem sois."

Justifica quem se chegou em primo:
"Alguém que mui procura",
Não sabia ouvinte, mas ("o que oprimo")
Era adjetivo justo em qual exprimo
Est'alma pouco pura.

"E onde esta dança encontra essa procura?"
Inquiriste de novo,
"Pois têm tudo em comum!"; Só nesta altura,
Começam os dois, embarcam ventura,
"Isso sou eu que aprovo."

E já disse que esta dança é mui bela,
As mãos vão aprendendo...
De prévia, dança nova sem costela,
Seria talvez digna de cautela...
("Logo logo a aprendo.")

"Não sei bem dançar isto que propõe..."
Fala um, incerto,
"Confesso que nem eu, co'o pressupõe;
"Aprendemos juntos se não se opõe."
E chegam-se mais perto.

Natural donde não há cicatriz,
Delicada e lenta,
Assim se afigura início feliz,
Dança que v'loz flora, mas sua raiz
Sempre mal se sustenta.

Os ponteiros giram e pés encaixam,
Tudo vai fluindo,
É aqui nesta dança que os dois s'acham,
'Ma Conexão tal que a nada se abaixam,
Assim se vão abrindo.

Os olhos já nem olham seus membros,
A ligação é tal,
Desolham, mas sempre se encontram dedos
Que o outro procuram sem quaisquer medos,
É algo especial.

"Sou dono de convite, mas necessito de pausa"
Acreditas nisto?
"Dê-me uns momentos, curtos e breves,
"Tenho que parar a confidança e pensar."
Virou-se e disse "fui!"

Mas esta é a parte mais importante,
Deste ritual,
A parte de Trair quem confiante
Contraía sorriso em seu semblante
Julgando-se imortal.

Porque quem pára este ritmo crucial,
Enfermo está, só pode,
E quebra algo firme e especial,
Destruindo algo nunca mais igual,
Que o perdão não acode.

Talvez quem se aprochegou não sabia
O que desejava.
Talvez era a barganha que fazia,
Realmente aquilo que este queria,
E assim encantava.

"Que leva alguém a fazer tão cruel,
" 'scolha pobre, esta?."
Derramas lágrimas por infiél,
Que te usou como abrigo d'aluguel,
Maldade assim nos testa...

Talvez não a Maldade. Como disse,
Talvez a Confusão.
Mas como dói! "Quem sabe se me visse
"E se arrependesse de parvoíce,
"Me pedisse perdão".

Diz "breve", mas aqui só permanente,
Pois neste tête-à-tête,
Quem pára, pára para todo o sempre,
Não se retoma a dança de repente,
Isto é sagrada arte.

E claro "breve" não foi, mas voltou.
"Olá, estais por cá?"
"Tu vai-te embora, ninguém te contou?
"Aquilo que senti, me confiou,
"A maior dor que há?"

E então, cresceste e poderosamente,
Foi isto clamado:
"Viverás seco e só eternamente,
"Sem gosto, existindo imundanamente,
"P'ra sempre angustiado".

E assim se afigorou seu triste fado,
Ninguém lhe confiando,
Ninguém nunca do seu mísero lado,
Porque quem trai um, trai dois, vem estragado,
Fugia e era a mando.

Confidança; é coisa muito importante,
Ser íntegro também...
Na vida n'é difícil ser errante,
Mas quer-se sempre cuidado constante,
Não só quando convém.

Do Livro Do PoemaOnde histórias criam vida. Descubra agora