Sem estrelas

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Após a missa, me reuni com Nikolai para me despedir dos nobres que vieram para o casamento. As cordialidades ficaram por conta de meu marido, mas minha presença foi suficiente para agradar aqueles da corte que ainda mantinham a tradição de crer nos santos. Acenei para pessoas que não conhecia e que partiam em carruagens decoradas, ouvi as fofocas que já haviam chegado aos ouvidos de alguns círculos. Fiz uma anotação mental para agradecer a Genya por movimentar as intrigas da corte, agora eu e Nikolai tínhamos uma base sólida para nos sustentar enquanto casal.

Minha felicidade pelas fofocas durou pouco, enquanto meu marido acompanhava uma senhora que poderia ser mãe do Apparat para as carruagens, tive a sorte de ter um infeliz encontro com Erilk Demidov – quem não parecia estar pronto para deixar o palácio como os outros convidados. Desejei expulsá-lo da corte por suas afrontas veladas, mas não queria dar motivos para que rumores contra minha hospitalidade estragassem a imagem de Santa e Rainha bondosa.

Fechei os olhos por um instante e não me dei ao trabalho de forçar um sorriso ao vê-lo caminhar em minha direção.

"Espero que sua noite tenha sido agradável, Tsaritsa Alina" Erilk disse assim que parou ao meu lado, cerrei o punho.

"Ainda que tivesse palavras para descrever, não as desperdiçaria com você, Erilk" retaliei, acenando para a velha senhora que Nikolai ajudava a subir na carruagem.

"Então Nikolai falou de mim" o Demidov sorriu divertido "Nada de ruim, eu imagino" debochou.

"Meu marido pode ser muitas coisas, mas não é mentiroso" respondi secamente, certa de que já o conhecia melhor que no nosso primeiro encontro.

"Não?" a indagação fervilhou dentro de mim e eu me obriguei a respirar fundo e manter a calma.

"Sugiro que se retire caso não for partir, devo destinar meu tempo àqueles que deixam a corte hoje, então..." de repente, senti como se algo passasse por mim, como um fantasma ou uma sombra, minha visão ficou escura e eu pensei que fosse cair. Erilk me apoiou, mas eu não tomei consciência disso de imediato. Apenas me concentrei em respirar fundo e tentar entender o que havia sido aquilo.

"Opa... Meio cedo para fingir uma gravidez" o comentário teria me feito esquentar de raiva se eu não estivesse me sentindo cada vez mais pálida e sem forças. Respirei fundo diversas vezes e agradeci quando a presença de Nikolai me tirou dos braços do Demidov.

"O que está acontecendo aqui?" o rei perguntou enquanto eu fazia um esforço para me sentir melhor. As noites em claro não estavam ajudando, a perda dos poderes, nada...

"Nossa Sankta teve um mal estar, seria sábio mandar um dos sangradores verificar isso" o moreno sugeriu como se estivesse realmente preocupado com meu bem-estar, isso foi o suficiente para que eu recobrasse a postura rígida. Eu não seria uma donzela a ser salva.

"Eu decido o que é sábio" sibilei, me desvencilhando de qualquer apoio. O Lantsov me repreendeu com os olhos, mas não discordou das minhas palavras até que Erilk se distanciasse, virando a cabeça uma ou duas vezes em nossa direção para se certificar de que eu não teria um desmaio.

"O que foi isso?" o loiro quis saber, porém a dor em minha cabeça se intensificou cada vez mais, como se minha consciência fosse puxada por uma força invisível. Molhei os lábios e suspirei.

"Eu só preciso de tempo... Me desculpe" murmurei, me afastando para tropeçar entre os corredores, em busca de algo que fizesse aquela sensação passar.

Não tomei muita distância dos jardins antes que esbarrasse em alguém, porém antes que pudesse me desculpar, senti a pessoa agarrar meu pulso. Ergui os olhos um tanto desesperada, eu já não tinha a luz para me ajudar a fugir de situações difíceis. Eu não sabia quem era o homem a minha frente; ele era jovem e moreno, com uma barba rala e roupas sacerdotais. Seus olhos enviaram arrepios por meu corpo.

Poder e Ambição - Nikolina • Malina • DarklinaOnde histórias criam vida. Descubra agora