Capítulo 1 - Fazenda

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O grande dente-de-sabre percorreu a colina e não encontrou a cabra. O cheiro dela, que antes impregnava o ar, fora levado pelo vento e esse vento, que poderia ajuda-lo, agora atrapalhava. Se não está aqui, então onde ela está?

Caçou a bendita cabra atrás da colina e, quando a encontrou, amarrou-lhe as patas e levou-a ao celeiro. O jovem que alimentou as galinhas lhe chamou a atenção. Comparado a outros camponeses, este estava menos sujo.

— Senhor Milo — chamou o rapaz timidamente. — Precisa de alguma ajuda?

— Poderia tampar o buraco do muro — falou o dente-de-sabre. — Isso ajudaria a manter as cabras no lugar.

— Fiz isso semana passada — reclamou o lobo-guará.

— Então, faça de novo — ordenou o dente-de-sabre. — Vou procurar alguma coisa para beber e acho melhor isso estar fechado quando eu voltar.

O riacho percorria pela fazenda e o dente-de-sabre encheu o seu cantil, bebeu um pouco da água fresca, encheu-o de novo e o pendurou à cinta em seu quadril.

O jovem lobo-guará colocou ajeitou as pedras rudemente no muro e elas caíram devido ao seu mau-humor. De longe, Milo ouviu os resmungos do jovem que não queria trabalho duro. Avisou-o que deveria preparar a liga para conseguir ficar as pedras no lugar que queria.

Caminhou ao redor da propriedade em busca das coisas estranhas que o dono relatou. Esperava ser verdade, caso não fosse, estaria apenas desperdiçando o seu tempo. Mas não era de todo desperdício já que estava sendo pago para fazer o trabalho.

Encontrou marcas de enamorados nas árvores próximas ao riacho, pegadas de pessoas, de cabras e outros animais. Encontrou as nuvens escuras no céu anunciando chuva.

Tornou para a casa do fazendeiro pouco antes da chuva. O lobo-guará idoso ofereceu ao dente-de-sabre um copo grande de cerveja e ele, sendo um macho respeitável, aceitou.

— Encontrou alguma coisa, senhor Milo? — quis saber o senhor.

— Só marcas de crianças apaixonadas — informou depois de tomar um gole da cerveja. — Nada de anormal por aqui.

— Eu tinha visto uma luz roxa vindo do riacho e minhas cabras sumiram — Milo ouviu essa história ao menos três vezes desde que chegara de viagem.

Milo olhou pela janela e viu as nuvens tomando um tom diferente de cor conforme o sol descia o horizonte por trás das montanhas. Apontou para as nuvens e questionou se aquela era a cor da luz que tinha visto. O fazendeiro confirmou.

— Pode ter sido um sonho — falou o dente-de-sabre. — Se a luz é a mesma...

— Não! — cortou o fazendeiro. — Essa luz veio do riacho.

— E o senhor diz estar dentro de casa quando a viu?

— Isso.

— Não encontrei nada de diferente. Talvez sejam apenas os moleques lhe pregando uma peça.

Ouviram as gotas de chuva bater no telhado e, logo, pareceu que o mundo desabaria. O filho do lobo-guará entrou na casa com as roupas encharcadas pela chuva. Vai precisar de um banho quente, observou o dente-de-sabre.

— Posso dormir aqui hoje? — pediu o dente-de-sabre.

O lobo-guará chamou a esposa e ordenou a ela que arrumasse o quarto de visitas para o dente-de-sabre. Ela não demorou muito para ajeitar o quarto.

— Logo o jantar estará pronto — avisou a loba.

O dente-de-sabre deitou-se sobre o colchão fino da cama e olhou para o teto. A madeira ligeiramente inclinada para baixo devido a umidade e ao peso das telhas de barro. Ouvir acordes do violão vindo do outro quarto deixou-o curioso.

As aventuras do Dente-de-Sabre: Portas de outros mundosOnde histórias criam vida. Descubra agora