Capítulo 6 - O músico

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Fazer as runas não foi difícil. Primeiro, fez as runas na parede onde ficava a sala logo atrás dela. Depois, com os colares que Túlio lhe entregou, fez outras runas que permitissem os clientes — aqueles que estivessem com os colares — atravessar a parede e entrar na sala secreta.

Depois do serviço, recebeu seu pagamento em notas. As pessoas ao redor olharam para o bolo de dinheiro como se aquilo fosse troco de pão.

O lobo-guará havia saído bem antes dele. Percebeu que já estava noite quando saiu da casa de banho e que suas roupas foram lavadas, afinal, estavam com cheiro de rosas.

Voltou para seu quarto na quitinete de Dona Peroba. Guardou o dinheiro na carteira e a carteira debaixo da cômoda de roupas. Pegou algumas notas, o suficiente para pagar algumas cervejas, e foi para o bar.

O rapaz estava com uma roupa diferente para a ocasião. Para um jovem pobre que morava em uma fazenda, estava bem-vestido, tocando o seu violão junto à banda, sentado em seu banco alto ao lado do pandeirista.

Os clientes eram diferentes. Trabalhadores que saíam de um trabalho exaustivo, sujos pela fuligem, pela lama ou pela poluição do ar.

Sentado à mesa um pouco mais afastada do lado de fora, ele conseguia ouvir a banda tocar e via as pessoas bebendo e dançando na pista de dança improvisada que Dona Peroba fizera dentro de seu bar. Ela podia não ser rica, mas sabia dar um leve toque de realeza em seus trabalhos. Mesmo sabendo a condição social de seu público, dava-lhes algum entretenimento.

E ele se entreteve com a música. Guardas pararam sua patrulha para ouvir a música, beber um pouco e descontrair, mesmo estando em expediente.

A música tocou até os clientes se dispersarem e ficar apenas a banda, a dona do bar e Milo. Crisôncio viu o dente-de-sabre sentado à mesa, abriu um sorriso e foi até ele. Sentou-se à mesa em frente ao dente-de-sabre e pediu uma cerveja à Dona Peroba.

— Vou descontar isso de seu pagamento — avisou Dona Peroba, entregando-lhe uma garrafa de cerveja e um copo.

O lobo-guará serviu-se e serviu o dente-de-sabre também, que se sentiu feliz ao ver o jovem se importando um pouco com ele.

— Você ficou aí me esperando esse tempo todo? O que achou da música?

— Satisfatória! — abriu um sorriso e bebeu a cerveja.

— Então não gostou?

— Pelo contrário, adoraria um show particular — disse. Levantou-se da mesa e apontou para as quitinetes de Dona Peroba. — A porta estará aberta.

Tirou o dinheiro do bolso e deixou-o à mesa. Foi para o seu quarto, onde esperou pelo rapaz. A porta aberta para recebe-lo. Tirou seus sapatos que foram limpos pelos empregados da casa de banho e a sua camisa, ficando de peito nu. O peito largo com o pelo mais volumoso e a barriga ligeiramente arredondada, exposto. E o suspensório se estendendo pelas suas costas, por sua barriga e peito para segurar sua calça.

Deitou-se na cama e olhou para o teto. Estava tudo escuro, mas a escuridão não era problema para o dente-de-sabre já que, mesmo na escuridão, via como se estivesse claro.

Ouviu passos cuidadosos e apressados no corredor do lado de fora. Viu um jovem entrar rapidamente no quarto, carregando na mochila musical o seu violão.

Milo levantou-se da cama, ficando sentado nela. — Feche a porta — pediu. — Aqui, tranque! — Entregou-lhe a chave do quarto. O lobo-guará pegou a chave e trancou a porta. Apertou o interruptor que acendeu a luz e fechou a cortina das janelas em seguida.

— Bem, senhor...

— Me chame apenas de Milo — cortou o lobo-guará gentilmente.

— Terei que ficar a seu lado para poder tocar — tirou a mochila musical das costas e apoiou-a no chão.

As aventuras do Dente-de-Sabre: Portas de outros mundosOnde histórias criam vida. Descubra agora