Julieta Belmonte tem plena convicção de que a sua amizade com Romeu Martinelli não possui a mínima chance de se colorir.
Com dezessete anos e várias experiências amorosas que foram um tremendo fiasco, a última coisa que Julieta queria era se apaixo...
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Agorafobia, nos termos genéricos de uma pesquisa mais rasa do que uma poça de água seria na atmosfera de Mercúrio, se refere ao medo de lugares e situações que possam desencadear pânico, impotência ou constrangimento.
Foi a caixa que o meu psiquiatra utilizou para colocar os relatos que eu vomitava em seu consultório, há quase dois anos. Não era uma caixa pequena, embora muitas vezes parecesse para mim, sempre que ela encolhia ao ponto de quase arrebentar meus ossos debaixo de olhares, lugares fechados demais ou aqueles que faziam uma fuga parecer impossível.
Porém, era somente como um recipiente dentro de outro muito maior, feito um aquário submerso em um mar que se expande até o limite do mundo, e, se este fosse plano, desaguaria na borda rumo ao vácuo dilacerante do espaço.
Começou pouco depois do divórcio dos meus pais, aos doze anos, mas não acredito que essa tenha sido a causa de forma direta. O doutor Luiz sugeriu, pouco antes de parar de me consultar com ele, que poderia ter sido as mudanças que isso desencadeou; a exemplo do abismo que o meu pai começou a construir de tudo o que dizia respeito à minha mãe e o que vinha em seu encalço, a exemplo da piora dela.
Minha genitora, que sempre teve uma preocupação exagerada sobre o mundo, começou a perder seu compasso com coisas simples, como pequenos grãos de poeira sobre a estante, uma notícia ruim que via no noticiário e uma mínima mancha de mofo na parede da sala, que a fez pintá-la de novo por inteiro certa vez.
Ela só percebeu o quanto seus parafusos tinham se afrouxado quando foi demitida de um dos colégios que trabalhava por não estar conseguindo prestar um serviço minimamente eficiente. Então, buscou ajuda profissional e novos hábitos de vida, que a fizeram melhorar consideravelmente dentro de todos esses anos.
Não me recordo o momento exato em que as coisas começaram a desandar para mim. Só me lembro dos tremores que se iniciaram nos ônibus e nos furacões no estômago, que, por várias vezes, me fizeram descer antes do meu ponto para voltar a respirar e continuar o percurso a pé pelas ruas mais desertas possíveis, até optar por simplesmente acordar mais cedo e caminhar o caminho inteiro até o colégio.
Às vezes, o mal estar acontecia na sala de aula. O simples pensamento de levantar da cadeira e me posicionar em frente a todos aqueles pares de olhos semelhantes aos discos de acreção ao redor de buracos negros me fazia sacolejar por dentro.
Porém, ainda assim, eu tentava. Porque pior do que ter um mar de tinta preta extravasando do meu peito em uma tentativa de me engolfar por completo, era que isso se tornasse evidente para as outras pessoas e um holofote de luz cegante caísse sobre mim.
Gostava de ficar sozinho no meu próprio cosmos. Talvez fosse por isso que sempre fui amante de filmes sobre o apocalipse. Sentir-me uma espécie de último sobrevivente esquecido no meio do fim do mundo soava reconfortante. A ideia de não existir mais nada além de ferrugem e pôr do sol em cobre derretendo em um horizonte solitário não me era desesperadora como pode parecer para muitos; na verdade, soava como algum tipo de paraíso sem precisar morrer.