17: A Rua Fantasma

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— Você está levando uma bomba nessa mochila?

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— Você está levando uma bomba nessa mochila?

A pergunta de Romeu me fez encará-lo sob os contornos folhosos da sombra da árvore que se erguia sobre nós, assim que sentamos no banco da praça para que eu pudesse conferir o endereço anotado por mim pela milésima vez desde que levantei da cama.

Rua das Oliveiras, número três-dois-quatro.

Tecnicamente, era a casa que ficava do outro lado da rua. O único problema era que o lugar estava claramente abandonado, com a fachada amarela-fosca descascada e as vigas metálicas sobre a mureta que a circundava tão oxidadas que dava para sentir o cheiro ácido de ferrugem se desmanchando no ar; isto, sem considerar as plantas mortalmente secas do jardim, com seus braços-galhos estendendo-se, quebradiços, rumo a um céu que jamais iriam alcançar.

— São só uns itens de sobrevivência básica, tipo barras de cereal, uma garrafa de água e alguns dos objetos da caixa da mamãe. — expliquei, enquanto estreitava os olhos para o pedaço de papel estendido na minha palma, tentando ter certeza de que estava lendo os números certos.

Torci o nariz em uma careta, rodopiando as vistas pelo nome da rua mais umas duas vezes.

Bufei assim que confirmei que não tinha lido incorretamente e fechei a mão com força em torno do retângulo frágil, sentindo-o se reduzir ao estágio de bola amassada por entre meus dedos sob o aperto frustrado.

— Eu não acredito que a gente andou trinta minutos debaixo desse sol infernal pra chegar aqui e aquele filho de uma pata manca não morar mais na casa! — externalizei minha raiva, levando a mão livre à têmpora úmida de suor em uma massagem.

— Acho que você deveria ter cogitado que isso poderia acontecer, jujuba. Sua tia não tinha certeza de que ele realmente ainda morava no mesmo lugar, pelo que você disse. — Romeu comentou, a suavidade estalando em cada sílaba melódica que escapara dos seus lábios.

Soprei todo o ar dos meus pulmões, inclinando a cabeça para cima. Os galhos da árvore centenária se espargiam em frente ao céu pintado de azul vibrante, riscando o oceano cósmico com vislumbres de verde e marrom.

— Eu criei esperança, tá legal? E é uma... porcaria quando você imagina uma coisa e não sai do jeito que você planejou.

Um frágil momento de silêncio se estendeu entre nós, no qual eu tentava evitar que a minha chateação me inflamasse de dentro para fora.

— Eu posso ver o papel?

Estendi a bola na sua direção e ouvi o ruído típico de quando foi desamassada. Mirei suas feições concentradas por um instante, observando os olhos absortos em cada palavra e a ponta da língua que, hora ou outra, deslizava pelo lábio inferior.

— Acho que a gente pode estar no lugar errado. — disse. — Existem duas ruas das Oliveiras em Amaré. Quer dizer, uma é a rua Jardim das Oliveiras, e a outra só tem "Oliveiras". Talvez, sua tia possa ter se confundido.

O Fantástico Mundo de Romeu e JulietaOnde histórias criam vida. Descubra agora