18: Borboletas Incendiárias

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A tarde explodia seus tons de mostarda além da janela de madeira clara, cujas metades abertas permitiam que o vento morno formasse torvelinhos com os fragmentos cintilantes de poeira que se desmanchavam no ar

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A tarde explodia seus tons de mostarda além da janela de madeira clara, cujas metades abertas permitiam que o vento morno formasse torvelinhos com os fragmentos cintilantes de poeira que se desmanchavam no ar. Eu estava quente, como se milhões de borboletas incendiárias crepitassem nas minhas veias, pulsando em uma orgia faiscante de fervor.

Sorvi o café fumegante da xícara que me foi dada, sentindo seu amargor se dissolver na minha língua.

— Vocês eram muito próximos? — questionei à Pedro, um pouco alto para que ele pudesse ouvir.

— Ah, com certeza, mas não do jeito que eu sempre quis. Fui seu melhor amigo e somente isso até o fim. Juliana nunca foi de pertencer a ninguém. — gritou da cozinha, e pude escutar um pigarro baixo vindo de Romeu, como se tivesse engasgado com a própria saliva. —Talvez, ela tenha chegado perto disso com uma pessoa somente uma vez, no tempo em que nos falávamos.

Pedro retornou para a sala com um pote de biscoitos em mãos, estendo-o para nós dois. Estes, eu tive que recusar. Pareciam estar ali há décadas, e tive certeza que todo tipo de mofo já deveria estar fazendo família neles, com seus miúdos filhos-mofo mordendo chupetas imaginárias.

Ele guardou o recipiente, e dentro de poucos segundos já estava de volta ao meu campo de visão.

— Quem foi ele? — indaguei, vislumbrando o homem se sentar em sua poltrona.

— Ele não, ela. — ressaltou, trazendo um amontoado de confusão para a minha cabeça enquanto puxava um maço de cigarros do bolso. — Se importam? — balançamos a cabeça negativamente e o vimos fisgar um isqueiro no canto do banco. A chama reluziu por alguns instantes contra o cilindro de papel que deslizava por entre seus lábios. — Querem?

— Não! — Nossa resposta ecoou em uníssono. A minha, um pouco mais vacilante que a de Romeu, que carregou resquícios de nojo e aflição típicos que o ato de fumar lhe traziam, por remeterem à infância complicada que teve com o pai.

— Certo. — Deu a primeira tragada, soprando a nuvem pálida de fumaça em seguida. — Então, o que exatamente quer saber, Julieta?

— Quem era essa mulher? — questionei de imediato. — Ela e minha mãe ficaram juntas, tipo como... um casal?

Ele soprou um riso junto com a fumaça, o que lhe desencadeou uma pequena crise de tosse.

— Ah, não. Se soubesse como todos olhavam feio para esse tipo de coisa... E até hoje fazem isso. — Sacudiu os ombros. — Mas era perceptível que a relação dela com Miranda ultrapassava o limite profissional. Viviam indo pintar quadros nas ruínas da igreja inacabada, frequentavam inúmeras festas juntas, e se você conversasse com qualquer uma das duas, perceberia o quanto uma falava da outra com aquelas estrelas no olhar que só as almas apaixonadas conseguem ter. — As palavras carregaram notas de um amargor que parecia lutar para esconder, mas lhe era impossível.

O Fantástico Mundo de Romeu e JulietaOnde histórias criam vida. Descubra agora