Capítulo 8 - "ivy"

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Chalé 10, 16:00h

Willow e eu não poderíamos estar mais felizes. No fim, toda essa propaganda enganosa de não estar pronta para amar foi uma obra de arte.
O vinho que trouxe na bolsa estava aberto, sobre a mesa.
Estávamos escutando "Vienna" de Billy Joel em minha vitrola, até que a porta tocou agressivamente.
Eu estranhei esse toque, mas levantei para abrir a porta.
Era Evan.
-O que faz aqui? Como descobriu onde eu... - falei, desesperada
-Você é louca? - Evan perguntou, me interrompendo - Achava que iria voltar, ainda mais quando um de nossos vinhos prediletos e o seu anel somem magicamente...
Willow olha confuso para mim, que retribuí com um olhar confuso também. Willow entendeu que eu estava perdida na situação, então se posicionou em minha frente.
-Eu quero essa propriedade, Dorothea. - Evan resmungou - Você a comprou com nossas economias, exijo que venda essa propriedade!
Meu humor mudou repentinamente:
-Você é louco? Não comprei este imóvel com nossas economias, usei um dinheiro que havia juntado com meus trabalhos antigos...
-Então você andava escondendo dinheiro de mim? - Evan perguntou, gritando
Eu já não sabia como agir, só gostaria que ele fosse embora para que a dor de ter o deixado também fosse.
-Evan, vá embora...- falei
-Até o vinho! Você está bebendo do nosso vinho com esse estranho que você conhece há dois meses! Você está louca. Se me esqueceu, por que ainda está com o nosso anel de casamento? Será que esse seu namoradinho gosta disso? Ou será que ele não sabia? E pelo o que eu saiba, nós nem divorciamos no papel... - Evan falou, gritando
Olhei para Willow, que engoliu a saliva e encarou Evan com desgosto.
-Volte logo, pare de se deteriorar. Com esse cafajeste, você não vai a lugar nenhum. - Evan disse enquanto saía do chalé, batendo a porta fortemente.
Fiquei encarando a porta, e me virei para Willow:
-Eu...sinto muito!
Ele não respondeu.
-Olha, eu trouxe esses objetos caso eu sentisse falta ou me arrependesse, mas não foi o caso. Tudo isso fez parte do processo de adaptação. Não havia nenhum outro vinho na minha despensa, então tive que usar esse! Você não percebe que ele só quer que você vá embora?
Willow olhou para mim, segurando minhas duas mãos.
-Maldição! - falei
-O que houve?
-Minha dor cabe exatamente na palma de sua mão, mesmo "prometida" à outro.
Ele riu:
-Você tirou esta frase de alguma música?
-Não posso revelar meus segredos! - falei, sorrindo -
Porém, o que quero dizer, é que só há você! É como se sua hera tivesse crescido em minha vazia casa de pedra, me enchendo de você, só me fazendo querer olhar em seus olhos. Vamos ter que ter paciência, pois Evan deve aparecer em breve com mais um problema para me levar de volta; mas nunca vou desistir de você.
Willow levou minha mão esquerda a sua boca, beijando-a.

-

John's Bistrô, 18:30h

Willow já tinha ido de volta para sua casa, então resolvi ir ao John's Bistrô.
Me sentei em uma mesa para um, e quando olhei ao redor, várias pessoas cochichavam e olhavam para mim.
-Gente, o que está acontecendo desta vez? - perguntei
Um dos garçons do bistrô veio em minha direção:
-Um jovem senhor nos alertou que você é casada com ele, é verdade?
Respirei fundo
-No papel, sim. Porém, não no emocional. Eu estou com Willow, e acho que fugir da casa que eu morava com o meu "marido" significa algo. - falei, me segurando para não explodir
-Entendo...- o garçom falou pensativo - o que gostaria de pedir?
-Uma salada de frutas, por favor.
O garçom se retirou para a cozinha.
Ouvi um burburinho maior, e após isso, senti alguém cutucar meu ombro direito.
Era Evan, novamente.
-Com licença. - falou, pegando uma cadeira para se sentar em minha mesa
-O que faz aqui? - perguntei, me levantando de minha cadeira
-Jantar com minha esposa. - falou, checando se todos do estabelecimento ouviram
-Eu não sou mais sua esposa, vá embora de Coney Island e volte para seus bares de Nova York!
Ele se calou, cruzando os braços. O garçom chegou com a salada, e a pôs sobre a mesa:
-Aqui está, senhora Lakes! - o garçom falou
-Pode deixar na conta do meu "marido". - falei ironicamente, enquanto saía do local.
As ruas de Coney Island estavam quietas, o que me fazia restar tempo para pensar sobre essa situação inteira. Eu não entendo como um adulto tem a capacidade de ser tão imaturo, não mesmo. Evan sente minha falta, mas manifesta essa dor tentando me prejudicar, o que eu não entendo. Se ele me ama, por que não me deixa livre?
Quando me deparei, eu já havia chegado em meu chalé. Me deparei com Willow sentado na calçada, segurando um anuário e algumas fotos. Ele sorriu timidamente quando me viu:
-Oi! - ele falou
-Olá! - respondi - Você está aqui há muito tempo?
-Não muito...
-Não me diga que Evan está lá dentro!
-Não! É que eu estava ansioso para lhe mostrar algo...
Willow entregou-me o anuário e as fotos:
-Mas...essa sou eu quando era mais jovem! Só um segundo este é você também nessas fotos? - perguntei, curiosa
Ele balançou a cabeça, indicando um "sim"
-E nós estudamos juntos também?! Como eu não lembro disso? - perguntei, excitada
-Eu não era muito de falar...e mudei muito com o tempo. E aliás, me chamavam por um apelido: "Gato Mordeu"
Eu ri alto:
-Nossa, eu me lembrei!
-E desde sempre, eu era fascinado por você. Eu só não sabia o que falar...desde que te conheci, fiz cartinhas para você, pensando que nunca iria entregar...
De dentro do anuário, Willow retirou um grande envelope com milhares de cartinhas dentro.
-Por que não me contou isso antes? - perguntei
-Acredita que eu nem havia te reconhecido? Havia outra imagem de você, mesmo! Se soubesse quando te reencontrei, eu teria lhe avisado, prometo. Aqui! - ele me entregou o envelope - Para você, o meu "eu" de oito anos deve estar orgulhoso.
Ri, recebendo o largo envelope. Nunca conheci alguém tão puro quanto Willow, nunca mesmo. Minhas bochechas doíam, pois eu não conseguia parar de sorrir. Willow aproximou sua face da minha, beijando-me delicadamente.
-Vejo você amanhã, "Gato Mordeu"!
Ele riu:
-Tchau, Dorothea!
Willow se levantou da calçada e saiu. Comecei a pensar o quão impressionante é isso tudo. Willow me trouxe um brilho incandescente que nunca poderei descrever. Mas, de uma coisa eu tinha certeza...eu o amava!

evermore - "sempre"Onde histórias criam vida. Descubra agora