-Não falamos uma palavra sequer durante a viagem. Dorothea não sabia para onde íamos, nem eu. Ia descobrir ao longo do caminho. Mas, enquanto tenho tempo, longe do tumulto, queria ficar com ela.
Acabamos chegando em Ruby Beach. Passamos quatro horas e vinte e seis minutos calados. Dorothea prestava atenção em cada detalhe, mas não falava nada.
Quando cheguei em frente à uma grande formação rochosa no meio da praia, parei o carro.
-Chegamos?
Olhando pra o grande mar, indiquei um "sim" com a cabeça. Faltavam alguns minutos para o pôr do sol, Dorothea já estava indo em direção às ondas.
-Nunca fui à praia, nunca percebi o quanto é majestosa. - falou
Me surpreendi. Dorothea adorava perceber os detalhes de mínimas coisas. Sentou em frente à distância máxima que as ondas chegam na beira, e indicou para que eu me sentasse também.
-Willow.
-Sim? - falei, finalmente
-Por que você fez isso? Por que foi embora, falando que tínhamos outros destinos e depois voltou, largando Georgia?
Willow respirou fundo.
-Primeiramente, queria tentar ganhar uma promoção, para voltar de surpresa e podermos ter nossa própria casa. Mas...
Dorothea olhava para mim fixamente, e assim, olhei-a também. Nossos rostos se aproximavam cada vez mais, até que nossos lábios se tocaram.
Parecia que uma luz havia sido acesa em meu subconsciente: tudo estava claro!
Nossos rostos se separaram, então segui:
-...achei que tinha me apaixonado por uma nova pessoa, e queria construir uma vida com ela. Porém, agora percebi que meu subconsciente pensava que a vida que eu estava montando era com você, não com Georgia. Percebi algo estranho quando você chegou. Percebi a sensação de que algo está errado, e agora descobri. Era com você que eu queria esta vida, por isso fui embora.
Dorothea me encarava, sem tirar o olhar de mim. Percebi que, no fim das contas, tudo voltava para ela e nossa cidade: Coney Island. Não importa meu emprego e nossa condição de vida, o que importa é estarmos juntos.
Nós dois corremos pela longa praia, jogando água salgada uns nos outros. Foi um momento especial. O sol estava se pondo, então resolvemos parar para admirar. Envolvi minha mão na sua, e ela colocou sua cabeça sobre meu ombro.22:30
Estávamos procurando uma rodoviária próxima para voltarmos de volta para Coney Island. Dorothea havia dormido confortavelmente no banco da frente enquanto eu dirigia pelo escuro da noite.
Ao chegarmos, acordei-a calmamente e entramos. Sentamos um do lado do outro. Ela dormiu tranquilamente, com a cabeça sobre meu ombro esquerdo.Rodoviária de Coney Island, 08:16h
Havíamos acabado de chegar, e felizmente, as notícias do casamento polêmico ainda não haviam chegado na cidade. Dorothea e eu fomos direto para nosso lugar predileto: à beira do lago.
Clear Woods, 09:00h
Estávamos na mesma posição de sempre: sentados, com sua cabeça sobre meu ombro. Olhávamos nosso reflexo pelo grande lago, admirando nossa volta depois de tanto tempo. Eu havia vendido todos os meus bens de Coney Island; teria que ficar na casa dos meus pais por um tempo. Eu estava disposto à fazer qualquer sacrifício para tê-la por perto. A estrada que eu antes não havia tomado parecia muito boa neste momento. Não posso mentir: senti sua falta. Vou contar uma experiência que tive alguns meses depois de minha partida:
-
"Quando cheguei em Denver, percebi que havia passado simplesmente 20 horas dirigindo. Eu precisava descansar, então me hospedei em uma pousada confortável. No dia seguinte, fui até a escola antiga, onde eu me apaixonei por Dorothea. Como era sábado, a escola estava fechada, então resolvi pedir permissão para visitar.
Entrei na mesma sala em que estudamos. Ao mesmo tempo que tudo havia mudado, o sentimento seguiu o mesmo. A saudade que eu sentia por ela doía no peito. Mesmo a decisão sendo minha, tentei ser frio por fora, mas me arrependi profundamente por dentro. Encostei minha mão na carteira em que eu costumava estudar, e depois na de Dorothea. Senti uma vontade imensa de largar tudo e voltar para ela, para o seu sorriso; mas pensei no que eu já havia construído em Seattle. Saí do local e entrei no carro, seguindo para uma longa jornada de volta para Seattle..."-
Meu coração estava tranquilo agora, pois eu finalmente realizei o que foi pedido por ele. Dorothea se levantou e estendeu o braço para me ajudar a levantar também. Ela sorria, dizendo:
-Como eu queria você aqui!
Peguei sua mão e beijei-a. Estava tão tranquilo que mal conseguia pensar nas consequências do meu ato no casamento. Só conseguia pensar o quanto eu estava feliz por voltar.Casa 15, 13:30
Bati na porta delicadamente, a qual foi atendida por minha mãe.
-Willow! Você por aqui? Que saudade, filho! - ela falou, me abraçando
-Também senti saudade, mamãe. - falei, carinhosamente
-Entre, o almoço está quase pronto!
Expressei agradecimento e entrei, feliz por poder rever minha família. Ouvi passos descendo a escada. Minha pequena irmã Winnie descia as escadas de forma eufórica ao ouvir minha voz. Abraçou-me sem hesitar.
-Willow! Senti saudade... - falou, quase chorando
-Também, Winnie!
-Onde está sua esposa? Ela veio com você? - Winnie perguntou, excitada
Fiquei calado, minha mãe entrou na conversa.
-Verdade, filho. Ela não pôde vir?
Engoli a saliva. Winnie e minha mãe se entreolharam.
-Tá tudo bem? - Winnie perguntou
-Acho melhor vocês se sentarem...
Quando contei a história, minha mãe e minha irmã ficaram perplexas. O telefone começou à tocar:
-Eu atendo... - falou mamãe
Com o telefone em sua orelha dizia: "Sim, ele está aqui sim...". A cada minuto, parecia mais chocada. Ao desligar, ficou encarando o chão.
-O que houve? - perguntei
-A advogada de sua ex-noiva ligou...ela quer o dinheiro dos bens. - respondeu, sem tirar os olhos do chão
Não sabia mais o que fazer. Não tinha mais dinheiro, estava no estado de ter que morar com meus pais.
Georgia havia pago nossos bens pois sabia que eu estava em uma situação delicada, e agora queria que eu pagasse o que deveria ser meu. Eu estava perdido e endividado, senti saudade de quando estava tranquilo à algumas horas atrás.Chalé 10, 15:00h
Resolvi ir até a casa de Dorothea e falar o que ocorreu. Não queria esconder nada dela, eu não era assim. Quando ela abriu a porta, vi sua imagem completamente descabelada e com uma roupa confortável. Ela estava inchada, parecia que havia chorado por longas horas. Me preocupei no mesmo minuto:
-Dorothea, o que houve?
-O que você veio fazer aqui? - perguntou
-Vim te contar algo, mas me preocupo mais em saber o que houve com você!
Dorothea respirou fundo, limpando com a mão uma lágrima que escorria pelo seu rosto.
-Eu não consigo falar... - Dorothea falou, se segurando para não desmanchar em lágrimas
Comecei à me sensibilizar mais ainda.
-Por favor, preciso saber o que está acontecendo com você. Não consigo te ver assim, não mesmo! - falei
Enquanto soluçava, Dorothea tentou respirar fundo para falar.
-Willow, eu realmente nunca me preparei para falar isso antes... - falou, depois de se acalmar um pouco - principalmente pelo fato que acabamos de voltar, o qual foi muito rápido e esperado. Tenho medo do que pode ser de nós dois por conta disso, tenho medo de encarar o futuro com isso...
Comecei à me assustar ainda mais.
-O que você quer dizer? - perguntei
-Eu estou grávida, Willow! - gritou Dorothea, ao mesmo tempo de outra lágrima escorrer por suas bochechas.
Abracei-a imediatamente. Senti suas lágrimas quentes escorrerem pela minha camiseta. Coloquei minha mão sobre seus cabelos e comecei a acariciá-los.
-Eu nunca vou desistir de nós dois, não importa o que vier. Vou sempre estar ao seu lado para tudo o que precisar, estamos nessa situação juntos, lado a lado.
Dorothea ergueu a cabeça para mim, sorrindo. Beijei sua testa delicadamente.
Achei melhor citar o endividamento depois, muitas emoções já corriam por sua cabeça.
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evermore - "sempre"
Любовные романыUm livro inspirado no álbum "evermore" (Taylor Swift); sua história conta sobre Dorothea, uma jovem adulta que já viveu vários altos e baixos em relacionamentos. Ela resolve recomeçar, indo morar no lugar que mais ama: a floresta. Será que ela vai a...