Cornelia street, casa 22, meia noite
A cidade de Nova York aparentava estar mais fria do que nunca.
Tudo estava em um breu, mesmo com o abajur ligado. O breu fazia parte de como eu me sentia por dentro: vazia e insegura. O vento fazia com que as cortinas floridas do quarto balançassem. Evan estava dormindo em nossa cama, mas, eu não conseguia dormir. Estava sentada em uma velha cadeira de madeira, olhando cada movimento seu. Era tudo uma confusão em minha cabeça. Comecei à refletir sobre esse "nós" que dava nós na minha garganta.
Eu sou quase sete anos mais nova, por isso, a inocência tomava conta de mim. Nunca parei pra perceber o fato do meu carinho nunca ter sido retribuído, estava cega. Escrevia seu nome entre corações, colocava nossas fotos em porta-retratos de suas cores favoritas, e via ele somente tolerar isso tudo. A inocência e meu amor cobriam minha visão, deixando-me cega.
Pensei várias vezes em deixá-lo aqui, e fugir. Fugir para uma floresta silenciosa com árvores altas era uma ideia tentadora, mas não conseguia. Não conseguia partir esse fio que me ligava à ele. Peguei um livro para me distrair, e sentei na beira da cama.
-Dorothea? - Evan chamou
-Sim? - respondi
-O que está lendo?
-"Conto de Inverno" de Shakespeare.
-Ainda lê essas bobagens? Há tanta coisa nova, e você não sai do século dezessete!
-Me deixe em paz! Retorne o seu sono, por favor!
Evan se levantou, e vestiu uma camiseta:
-Pra onde vai à este horário? - perguntei
-Sair - ele respondeu
-Disto eu já sei...
-"Me deixe em paz" - ele falou, caçoando do que eu disse
Após isso, saiu batendo os pés. Fechou a porta com tanta força que o seu eco durou por longos segundos.
Não hesitei, liguei para Este para desabafar.
-Alô? - chamou ela
-Este, sou eu...
-Como vai, Dorothea?
-Bem...te incomodei?
-Claro que não! Nem consegui dormir de qualquer forma!
-Também não...
-Problemas?
-Claro...
-Acho que Evan não é o certo pra você. - argumentou
-Mas...
-Não há "mas"! Você deve agir, você fez de tudo e mais um pouco por ele, porém, ele nunca soube retribuir. Acho que nunca chegou à tentar. Onde ele está?
-Saiu.
-Esta hora?
-Sim.
-Não creio que ele lhe deixou à sós em casa!
-Deixou.
Este fez uma pausa.
-Olha, você não pode se deixar rebaixar à esse nível! Qual foi a última vez que tiveram um momento juntos que valeu à pena? - ela perguntou curiosa
-Mês passado, eu acho...
-Não creio!
-Estou falando a verdade.
-Você merece mais que isso, definitivamente!
-Vou guardar suas palavras, prometo! Mas, amo muito ele, não sei se consigo desistir assim...
-Vou te apoiar no que decidir, agora estou meio sonolenta. Boa noite, Dorothea! - Este disse, após bocejar
-Boa noite. - respondi
Desliguei o telefone. Resolvi tentar dormir, para esquecer as coisas.-
Cornelia street, casa 22, 11:00h
No dia seguinte, Evan retornou. Estava trazendo consigo duas garrafas de champanhe.
-Vai beber? - perguntei
-Não agora... - respondeu
-Novamente?
-O que você quer afinal?
-Quero me reconectar com você! - falei
Ele ficou calado e sentou no sofá de nossa sala.
Sentei-me ao seu lado e comecei a fazer cafuné em seus cabelos encaracolados.
Ele acabou cedendo, e beijou-me.
Porém, após o beijo, se afastou e ligou a televisão.
Era um ciclo, um ciclo que estava ficando exausta de viver.
Mas ao mesmo tempo, eu amava ele com todas as forças. Então, por um momento, esqueci suas intolerâncias. E também, por um momento, tolerei isso.
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evermore - "sempre"
Roman d'amourUm livro inspirado no álbum "evermore" (Taylor Swift); sua história conta sobre Dorothea, uma jovem adulta que já viveu vários altos e baixos em relacionamentos. Ela resolve recomeçar, indo morar no lugar que mais ama: a floresta. Será que ela vai a...