Capítulo 11 - "right where you left me"

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"Você já ouviu falar da garota que ficou congelada?
O tempo continuou para todos, mas ela não saberá disso...
Ela ainda tem 23, dentro da sua fantasia.
Como deveria ser?"

Clear Woods, 19:30h

Eu e Willow estávamos sentados no mesmo lugar de sempre, à beira do lago. Parecia que tudo estava encaixando perfeitamente em seu lugar. Os momentos com Willow, principalmente nesse local, eram sempre especiais. Minha cabeça estava confortavelmente deitada sobre seu ombro.
Olhei para nosso reflexo na beira do lago e sorri.
Willow beijou minha cabeça e nos olhou pelo reflexo também.
-Te amo. - Willow falou
Sorri, indicando um "eu também".
-Willow, o que você acha de ir no John's Bistrô amanhã?
Ele desviou o olhar do reflexo e eu o senti preocupado.
-Willow?
-Ah...e-eu acho que sim! Qual se-seria o horário? - gaguejou
Desencostei minha cabeça:
-Willow, tá tudo bem?
Ele arregalou os olhos:
-Por que não estaria?
-Não sei...- falei, após franzir a testa - enfim, pode ser às 18?
Willow pensou por um momento
-Pode...pode sim!

Chalé 10, 01:00h

Estava sentada no chão, sobre o carpete, e segurando uma taça de champanhe. "O que será que houve?" - me perguntei
Willow nunca agiu assim, precisava descobrir o que estava acontecendo com ele. Estava com um pouco de sono, então resolvi dormir e deixar os problemas para amanhã.

John's Bistrô, 18:00h

Willow e eu chegamos no restaurante pontualmente. Sentamos em uma mesa para dois, e olhamos o menu, mesmo sendo o mesmo de sempre. Willow parecia nervoso.
-Dorothea, preciso contar uma coisa...
Rapidamente, coloquei o menu sobre a mesa (o que acabou empurrando e derrubando uma taça de champanhe no chão do local).
-Pode contar! - falei, tentando agir de forma calma, pois minha mente estava à mil
-Uma floricultura famosa de Seattle me deu uma oferta maravilhosa de emprego, não pude recusar...
Minha face se entristeceu levemente:
-Então, você...vai se mudar? - perguntei
Willow indicou um "sim" com a cabeça
-Seattle é bem longe daqui, não é?
Willow indicou outro "sim" com a cabeça
-Vai ser difícil, mas acho que...
-Devemos seguir outros rumos. - Willow falou
Fiquei muito surpresa (e aliás, senti um grampo cair do meu cabelo, pois estava de coque), o que eu havia pensado era completamente diferente. Havia pensado em fazermos um relacionamento à distância, enviando cartas e fazendo ligações um para o outro, mas não. Willow queria seguir outro rumo, e talvez até conhecer outro alguém?
-Tudo bem então... - falei, de forma madura. Não era o que eu almejava, mas era o que ele queria. Se um da relação está distante, não podemos forçá-lo.
-Você é muito especial pra mim, de verdade. Você nem imagina o quanto eu te amo, mas acho que devemos seguir. Temos destinos diferentes. - Willow falou, como se tivesse dificuldade para articular cada frase - Vou sentir sua falta, e falta dos nossos momentos...de cada um!
Senti o rímel escorrer levemente pelas minhas bochechas, e desde este momento, tudo parou.

Clear Woods, 02:30h

Eu estava sentada em nosso canto de sempre, chorando e gaguejando. Achava que "temos destinos diferentes" significava "conheci alguém". Eu estava desolada, com os braços agarrando as pernas.
Eu ainda estava raciocinando lentamente o que havia acontecido. Parecia que todas as peças encaixadas estavam se bagunçado. Eu estava perdida, sem saber o que fazer.

Chalé 10, 08:30

Acordei em um pulo ao ouvir uma batida na porta. Abri rapidamente.
Era Inez; segurando uma cesta com grãos de café, coador e biscoitos caseiros. Ao abrir a boca para falar "Olá", percebeu o inchaço em meu rosto e rapidamente largou a cesta para me abraçar.
Comecei à chorar em seus ombros. Indiquei para que sentasse no sofá, e logo me sentei também.
-O que houve? - Inez perguntou, preocupada
-Fui com Willow no John's Bistrô ontem...- tentei falar mais sobre o ocorrido, mas as palavras simplesmente não saíam
-Poxa...que tal então mudarmos de assunto! Acho melhor pra você.
Inez começou à falar bastante, mas eu não a ouvia. Minha mente ainda estava no restaurante, quando tudo ocorreu.
Inez pegou uma de minhas xícaras começou à coar o café, mal prestei atenção.

15:00h

Inez já havia ido embora há 5 horas. Eu acabava de acordar de um cochilo, chorando. Provavelmente sonhei com esse acontecimento todo e não me lembro bem. Aquele era o único relacionamento em que eu me encaixei profundamente. Eu tinha só 22 anos e já havia passado por grandes mudanças várias vezes. Eu ainda estava em um mar de melancolia, então tive uma ideia. Todos os dias, até o possível "retorno" de Willow, eu iria escrever uma carta para ele. Era a única forma que eu pudesse expressar a falta. Comecei a escrever, me esforçando para que as palavras saíssem e sejam escritas.

-

Dois anos se passaram...

-

Coney Island, 15:30h

Coney Island havia mudado muito nos últimos anos. As árvores haviam ficado maiores e mais belas, as ruas mais limpas, e mais lojas foram implantadas. Eu estava tomando um sorvete de menta de uma sorveteria belga (que aliás, foi o melhor que eu já comi). Passeava alegremente pelas ruas da cidade, finalmente me recuperei. Havia completado 24 anos à uma semana atrás, era uma outra nova era. Combinei com Inez de ir ao John's bistrô em dez minutos, então corri para o respectivo local.

John's Bistrô, 15:40h

De fora, percebi uma reforma aparente no local, até no cardápio. Perguntei se havia alguma mesa disponível, pois o local estava cheio. Ele me direcionou até uma mesa para dois no cantinho do estabelecimento.
Quando notei, vi que era a mesma mesa em que tudo ocorreu.
Não me sentei, não tive coragem.
Fiquei em pé, observando as cadeiras e relembrando de cada gesto, cada frase do momento.
A voz de Willow falando "Devemos seguir outros rumos" ecoava pela minha cabeça. Ao olhar para o chão, vi o meu grampo de cabelo, no mesmo local.
Empalideci, todos em minha volta começaram a dar olhares e cochichar. Um ponto que havia esquecido: não posso chamar muita atenção, os rumores voam por novos céus em Coney Island.
O atendente ao meu lado colocou a mão sobre meu ombro direito:
-Senhorita? - ele perguntou por mim
Não respondi, era como se sua voz ecoasse e sumisse pelo momento. Saí correndo do local, sem pensar duas vezes.
Costumo ser uma pessoa calma, mas essa foi a primeira vez em que perdi o controle.

Clear Woods, 16:00h

Corri para o local em que eu me sentia mais segura: Clear Woods. Me deparei sentando à beira do lago, o local em que Willow e eu costumávamos ficar.
Olhei para a água e vi nosso reflexo, o mesmo de dois anos atrás. Via minha cabeça encostada em seu ombro, mas quando toquei na água, ele sumiu. Agora, só via meu reflexo, via o reflexo de um olhar perdido. Com isso, percebi algo: Eu ainda não havia seguido em frente. Eu ainda estava naquele dia, no John's Bistrô. Era capaz do meu velho coque até já estar empoeirado, eu não queria e não sabia seguir.
Pela primeira vez, desmanchei-me em lágrimas. Nunca havia chorado tanto em minha vida, sentia as gotas, uma por uma, caírem no lago. Era isso, eu já tinha em mente que a situação não ia sair disso, nunca.
Peguei um bloco de notas e uma caneta e comecei à escrever. Não escrevia as supostas cartas para Willow há pouco mais de um ano, então resolvi voltar. As palavras saíam de meu coração facilmente, o que me deixou um pouco mais leve. Escrevi tudo o que estava sentindo no momento, esperando que um dia ele pudesse ver. Eu estava com um turbilhão de sentimentos em minha mente. Eu ainda o amava, eu ainda sentia algo forte; eu tentei esconder isso de mim mesma.
Ouvi uma voz familiar chamar minha voz, então me virei.
Era Willow.

evermore - "sempre"Onde histórias criam vida. Descubra agora