A senhora Briefs, sorridente e de pé no centro da cozinha, amamentava a pequena com uma mamadeira, segurando-a no colo, embalando-a suavemente sorrindo enquanto a bebê mamava rapidamente o leite apropriado. Estava esfomeada, pois fazia-a em grandes goles, o que lembrava a forma como Trunks comia, quando era da mesma idade. A mesma fome impossível de um saiyajin.
Bulma observava a cena afastada, braços cruzados, continuando a curtir uma irritação azeda que a queimava por dentro, a condizer com a nuvem furiosa de tempestade que alimentava com a sua raiva. Não se queria aproximar, mas morria de curiosidade para olhar decentemente para o rostinho da criança, para descobrir a indelével parecença que dissiparia qualquer dúvida e que a faria ainda mais furiosa. Pensava no que faria a seguir. Qual a atitude certa a tomar? Em relação a Vegeta, claro... E quando pensava no saiyajin, engolia a saliva e a garganta doía-lhe. Apetecia-lhe fazer um escândalo dos antigos, que terminava sempre com uma torrente de lágrimas e uma ida ao shopping onde gastava metade do orçamento anual da Capsule Corporation para investigação, atafulhando o quarto de lingerie nova e de roupas que nunca haveria de vestir.
Respirou fundo. A tempestade tinha chegado e depois da bátega inicial de chuva, inesperada e que a tinha molhado dos pés à cabeça, teria de enfrentar o acontecimento, como uma mulher adulta. Iria falar com ele e perguntar-lhe diretamente, apesar de saber que não obteria uma resposta direta, já que o saiyajin marrento não responderia tão facilmente.
- Ela é linda – comentou a senhora Briefs colocando a garotinha para arrotar, depois de terminada a mamadeira.
Bulma apertou os lábios, baixando as pálpebras. Agora tinha uma estúpida vontade de chorar. Sentiu um puxão na saia.
- 'Kaasan! – chamou Trunks.
Olhou para baixo. Devia ter uma carranca igual à do pai, pois notou o garoto a crispar a testa, admirado. Mas ele fez a pergunta que queria fazer:
- Foi assim que eu apareci? Agora ela é a minha irmã?
Bulma fez uma pausa, a sepultar os pensamentos negros. Não queria disparatar com o filho, que não merecia arcar com toda a sua frustração, dúvidas, receios e responsabilidades. Devia guardar o arsenal de bombas para o maldito saiyajin.
Respondeu, sem conseguir, no entanto, evitar a secura na voz:
- Não foi assim que você nasceu Trunks, nem é assim que os bebês aparecem. E não sei se ela é a sua irmã.
A irritação toldou-lhe o olhar azul quando olhou para a pequenina no colo da senhora Briefs.
- Então como é que acontece?
- O quê, Trunks? – indagou sem desfitar a bebê que estendia as mãozinhas rechonchudas a querer tocar no rosto da mulher que a segurava com tanto carinho.
- Como é que os bebês nascem?
- Depois te explico.
Não aguentava nem mais um segundo naquela cozinha e saiu, amarrotando o bilhete. As arestas irregulares da bola de papel picavam-lhe a pele da palma da mão. Tinha a tentação de o desfazer em mil pedaços, mas o seu lado racional impedia-a da loucura. Até ver, aquela era a única prova do crime. Haveria de conseguir as restantes e depois, teria de tomar uma decisão.
O menino olhou o lugar vago, com a pergunta às voltas na cabeça.
"Era assim que os bebês vinham ou não?"
Mas o balbuciar da pequenina atraiu-o e ele foi para junto da avó, sorrindo, pedindo para ver melhor a sua irmãzinha. Mesmo que a mãe lhe tivesse dito que possivelmente não era a sua irmã, ele já sentia como se assim fosse.
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Tempestade de Primavera
FanfictionNum dia de primavera, a família Briefs aproveita um sábado normal quando alguém toca à campainha da Capsule Corporation. Vegeta vai abrir a porta e encontra um pequeno cesto misterioso. Sua curiosidade vai lhe causar muitos problemas e muitos trans...