V - Movendo céus e terra

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Na manhã seguinte, Chichi terminava o café da manhã e preparava-se para uma viagem até à metrópole do Ocidente para visitar a amiga que lhe parecera tão aflita no telefonema da madrugada. Nem fixara as horas em que tinha atendido o telefone, mas era muito tarde e quando existem chamadas a horas tardias só podem significar pedidos de auxílio que não devem nunca ser ignorados.

Começava mais uma semana, Gohan e Goten tomavam o café da manhã ao lado dela. Espreitou-os carinhosamente. Tinha dispensado o tutor do filho mais velho, indicando para vir no dia seguinte, e pedira a Gohan que aproveitasse o dia a rever as matérias, enquanto ela ia fazer a tal viagem com Goten. O adolescente concordara com a mudança de planos, não se importava de passar um dia enfiado nos livros, mesmo que o tutor não estivesse ali para o orientar. Depois Chichi acrescentara com meiguice que o avô, Gyumao, haveria de aparecer por lá para lhe fazer companhia.

Goten, por seu lado, estava excitado com a viagem para ver o amigo e remexia-se na cadeira, pelo que ela já o tinha admoestado para se concentrar na refeição e que em breve iriam partir. Mas só o fariam depois de ele comer tudo, pois precisava de crescer e tornar-se num rapaz bonito como o irmão e como o pai.

- Nii-chan, a okaasan deixou-me ir ver as cegonhas com o Trunks-kun.

- Ver as cegonhas? – perguntou Gohan admirado, segurando o hashi entre a tigela e a boca, o ramen enrolado nas pontas.

- Hai. Vamos ver os bebês.

- Bebês? – Gohan perguntou à mãe: – Cegonhas e bebês...? O que é que se passa?

- Não sabes, nii-chan?! – E Goten ergueu uma sobrancelha com ares de sabedoria. – São as cegonhas que trazem os bebês!

- Na-nani?

Gohan recordou-se do que diziam os livros de ciências e corou. Olhou para a mãe, que exibia um sorriso plácido. Acenou ligeiramente com a cabeça e gaguejou outra vez, dirigindo-se ao irmão:

- P-pois sim... As cegonhas. São as cegonhas que trazem os bebês... Mas por que razão esse interesse agora por bebês e por cegonhas?

- Apareceu um bebê abandonado na porta da Capsule Corporation, dentro de um cesto – explicou Chichi. – Vamos hoje conhecer a garotinha e... conversar com Bulma. Esse acontecimento tem causado alguma confusão, Gohan-kun, mas nada de importante. Não te apoquentes. Tens de pensar nos teus estudos!... Bem, quanto ao bebê deixado num cesto na Capsule Corporation... Trunks-kun e Goten-kun têm conversado sobre isso e a explicação que encontraram para o sucedido foi que a cegonha deixou esse cesto.

- Foi a cegonha, sim, 'kaasan! – exclamou Goten empurrando a malga indicando que tinha acabado o café da manhã e que estava pronto para a viagem.

- Claro que sim, querido – confirmou Chichi passando-lhe uma mão pelos cabelos.

- Ah... Já estou a perceber – disse Gohan bebendo o caldo e acabando também o seu café da manhã.

Chichi recolheu a loiça, deixando os dois rapazes sozinhos na mesa da sala onde tomavam as refeições diárias. Gohan retirou os óculos e pôs-se a limpá-los a uma ponta da blusa branca que vestia naquele dia.

- Nii-chan?

- Hai, Goten-kun.

- Queres ter uma mana?

Gohan arregalou os olhos, os óculos suspensos a caminho do rosto admirado com aquela pergunta do irmão. Goten saltou da cadeira, acercou-se dele e sussurrou, como se fosse um enorme segredo que não podia ser escutado por mais ninguém que não fosse Gohan, nem mesmo a mãe que lavava a loiça murmurando uma cantiga, nem sequer as paredes redondas da casa:

Tempestade de PrimaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora