Capítulo. 8

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    Várias imagens de alguém pegando meu irmão desprotegido começaram a passar pela minha mente, mas evitei pensar nessas coisas, ele ainda estaria ali dentro, talvez tivesse voltado para à  cafeteria ou... Isso a sala de jogos eletrônicos!  Eu o havia visto olhar para aquela sala com deslumbramento, com certeza James estaria por lá, se não estivesse teria que começar a pensar em outros possíveis lugares. Era exatamente por isso que eu evitava ficar de babá do meu irmão ou de qualquer outra criança, uma criança facilmente está se machucando ou fazendo travessuras, o que era normal claro, é o que todos esperam de uma criança "normal", mas eu tinha muito medo de ficar cuidando delas, quando elas caiam ou se machucavam feio, provavelmente era eu que ficava mais histérica que a própria criança. E a que sempre levava a culpa.
    
Circundei o corredor e entrei em uma porta dupla a duas salas de distância. Parei no portal e inspecionei o local rapidamente com os olhos, James estava em um brinquedo do lado oposto do salão, senti alívio, mas foi breve, um trio de crianças brancas maiores do que ele, talvez tivessem onze a treze anos estavam ao seu redor. O maior empurrou ele.
     
_Sai daqui garoto!     _escutei o garoto dizer à ele_      _Não se pode furar fila! Pessoas como você, da sua "espécie" nunca te ensinaram que isso é errado?
    
_É pirralho nós estávamos aqui primeiro!     _um outro garoto que teria uma aparência angelical e bela se não fosse por sua atitude grosseira que tratava James o cutucou com o pé_     

_Dá um fora daqui! Não é engraçado pai o cabelo dele? Parece com aquela coisa que a empregada usa para limpar as louças de alumínio!
   
Ele se virou para seu "pai" e sorriu zombando do cabelo do meu irmão. Me recusei a acreditar que aquelas palavras tinham saído da boca de uma criança. Senti que talvez pudesse chorar naquele exato momento ao ver meu irmão passando por aquilo, saber que tão novo ele já conhecia palavras e piadas racistas como aquela, e pior ainda ver que pessoas sorriam de algo que não tinha a mínima sensibilidade ou humor naquilo, foi horrível ver aquilo e perceber que aquele pai que acompanhava seus filhos não fez nada a respeito sobre como seus filhos agiam de maneira desrespeitosa com outro ser humano que tinha sonhos e desejos como qualquer outra criança como os filhos dele.
    
_Ei!     _eu gritei, não para o garoto mas para o adulto que o acompanhava_     

_Como você pode ver algo assim e não fazer nada!
    
O garoto olhou para mim e recou para trás do seu pai.
    
Algo dentro de mim mudou naquele momento quando vi o olhar de indiferença e escárnio que aquele homem me lançou, senti apesar de todo o preconceito que havia sofrido, não havia ainda enxergado a crueldade humana tão de perto. As crianças são um reflexo do que aprendem em casa, e aquela criança ali do lado daquele homem não tinha culpa do que ele estava aprendendo, não senti raiva da criança, senti pena do tipo de pai que aquela criança tinha.
     
Ele ergueu o queixo, se aquele homem branco achava que me intimidava estava muito enganado, pelo meu irmão, por ele eu faria isso, iria mostrar para aquele sujeito na minha frente como é ser um ser humano com humanidade e respeito pelas pessoas com quem convivo em sociedade.
    
_Não lhe devo nenhuma explicação e se você insistir "a coisa vai ficar preta pro seu lado".     _ele enfatizou a última frase com desdém_
    
Dei um tapa na sua cara com todo o ardor e raiva que sentia naquele momento.
   
_Você. É. Patético!    _cuspi as palavras na sua direção_       _É isso que você ensina para seus filhos...
   
Ele agarrou meus pulsos com força e me sacudiu abruptamente.
    
_Não toque em mim angolana!      _ele disse com nojo_
    
As pessoas que estavam ali todas pararam para olhar aquela cena de racismo que acontecia diante de seus olhos. Um segurança dos brinquedos veio até ali e perguntou.
    
_Tudo bem por aqui? Pode soltar a moça por favor senhor!     _O segurança olhou firme para o cara na minha frente_       _Obrigada.
     
_Só para você saber sou tão americana quanto você, e mesmo que eu fosse angolana seria com muito orgulho!
Porque se fosse para ser uma criatura desprezível como você era melhor nem existir!      _Me virei para o meu irmão e segurei em sua mão e olhei bem no fundo dos seus olhos_      _Querido você é especial tanto quanto outra criança, você merece amor independente da sua cor, raça ou etnia e acima de tudo respeito.

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