Capítulo 9

12 2 0
                                    

"Olhos solitários

Ela tinha aqueles olhos solitários..."

Lonely Eyes Lauv

Elise

Por pouco não esbarro em Thomas na hora do intervalo no colégio. Eu freio no último segundo ao virar no corredor e ele segura nos meus braços para se equilibrar. Resultado: quase cai e me leva junto.

— Caralho! — Thomas gargalha alto, atraindo olhares. — Foi mal Elise.

— Nenhum problema, Sr. Perkins.

Ele parece pensar por um momento.

— Quer vir almoçar com a gente? — Nego com um movimento de cabeça. — Ok, então eu vou comer com você. — Pisco surpresa e o vejo dar de ombros. — Só nós dois, sem estresse. Que tal?

Meu impulso é recusar, chego a abrir a boca, mas a fecho rapidamente ao lembrar do abraço que me deu. Inclino a cabeça para observá-lo e Thomas sorri, relaxado e tranquilo.

— Ok.

Aponta com o polegar para o jardim e eu meneio a cabeça novamente. Com o indicador, indico o teto, o que o faz olhar para cima confuso por um momento, antes de entender e sorrir.

— Vai na frente.

Subo as escadas do fundo, quatro lances até chegar no telhado, com Thomas andando de braços cruzados, alguns passos atrás de mim. Empurro a porta pesada e faço meu caminho de todo dia, contornando alguns vasos com flores adormecidas pelo inverno.

— Acho que nunca vim aqui em cima, viu? — Thomas comenta olhando ao redor e se senta ao meu lado em um banco de concreto. — Ok, agora por que aqui? Para ficar sozinha sem ninguém incomodar?

Aceno e começo a desembrulhar meu sanduíche. Thomas, que estava no meio de um gole de suco, engasga e cospe tudo ao me ver com o pão na boca. A risada me deixa confusa.

— Espero que não seja algum tipo de piada pornográfica, Sr. Perkins. Eu detestaria ser a responsável por estimular o amadurecimento de sua mentalidade.

Ele continua rindo e eu mastigo devagar, para impedir meu próprio riso.

— Olha o tamanho do seu sanduíche. — Observo minha comida e franzo o cenho. — Eu nunca imaginei que fosse te ver comendo tanto, você não me passa a impressão de fazer as mesmas coisas que as pessoas normais.

Um sorriso rápido aparece sem aviso e o faço voltar com outra mordida.

— Eu não como muito. — Acabo por confessar.

— Não é o que parece.

— É parte da minha dieta. É saudável. — Sacudo a cabeça, cada vez mais confusa com a minha língua solta.

— Dieta de que? — Ele estranha. — Você já é magra.

— Ganhar peso — hesito, coçando a bochecha com o indicador. — Eu luto.

Os olhos dele saltam tanto do rosto, que os cantos dos meus lábios sobem sutilmente.

— Isso sim é uma surpresa. — Aceno bebendo um gole de suco. — Então por que não se defende? Das cretinas que mexem com você?

— Eu sei quais lutas devo entrar e quais não, Sr. Perkins.

— Tá beleza, faz uma tentativa. — Ergo a sobrancelha. — Me chama de Thomas. Vai, você consegue.

Vanilla & Cinnamon [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora