Prólogo

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Elise McKenna não se considera particularmente observadora, mas alguns detalhes são difíceis de não reparar e muito menos fáceis de ignorar.

As pessoas não costumam enxergá-la — algo pelo qual agradece —, e por essa razão ela geralmente escuta coisas que não quer ouvir, como fofocas e comentários maldosos e em alguns casos acaba reagindo a eles, o que deixa as pessoas desconfortáveis ou irritadas.

Mas o caso no momento não é esse.

Elise, sem que pudesse controlar, se tornou extremamente observadora em relação a um casal específico. Ela não gostaria que seus olhos buscassem por eles, mas é o que acontece vez ou outra.

Discretamente, se apoia na parede em um canto afastado do corredor. Ela inclina a cabeça em um gesto contemplativo, ao mesmo tempo em que observa o braço de Tristan Stewart rodear a cintura da pequena Lizbeth Martinez.

Existe algo nos dois que a deixa fascinada; é a forma como eles se tocam, se olham e como agem um perto do outro. Ela, de todas as pessoas, sabe reconhecer os sentimentos que vê entre eles: amor e acima de tudo, respeito. Os beijos roubados e as conversas sussurradas, tudo isso é carregado por um carinho que a deixariam sem fala, se ela já não fosse controladamente silenciosa.

Elise não entende por que os dois chamam tanto a atenção dela. Tudo o que sabe, é que é difícil não reparar neles. Respirando profundamente, ela leva a mão ao peito e massageia o lugar repentinamente desconfortável.

Decidida a sair dali, Elise dá meia volta no corredor e estaca novamente ao observar de longe uma cena que é muito diferente da vista anteriormente.

Spencer Gilbert e uma garota pendurada no braço dele; tão perto que se a inspetora passar eles terão problemas. A menina é morena, não muito alta e curvilínea, cabelos ondulados e volumosos na altura dos ombros e encara o rapaz como se ele fosse a solução de todos os seus problemas.

Essa cena, esse casal em questão... Elise não se importa com eles.

Ela ergue a cabeça, mas encara o piso enquanto anda, ignora os cochichos, seguindo adiante sem olhar para os lados.

* * * * * * * * * *

Spencer parece preso dentro de um ciclo vicioso do qual se acostumou faz algum tempo.

Sua família passou por problemas.

As outras famílias, das outras pessoas, também têm problemas e ao tentar ajudar, acabou firmemente amarrado em uma relação estranha.

Ele ficaria bastante aliviado se pudesse respirar por um segundo. Só que não pode; fora que Emily Davis, sua vizinha e amiga íntima, não parece compartilhar da mesma opinião.

— Emily, seria bom deixar o sangue circular no meu braço — diz Spencer em tom de brincadeira, mas torcendo para a garota soltá-lo.

— Foi mal. — Ela ri e se afasta, fazendo Spencer reprimir um suspiro de alívio.

Isso a magoaria. Tudo a magoa na verdade e ele odeia ser o causador disso.

Ele gosta de Emily, muito mesmo. Quer que ela fique bem e que sua família — que atualmente está em uma situação delicada —, também fique. Mas ele deseja isso sem precisar ficar com ela o tempo todo.

Até mesmo o pensamento faz seu peito pesar. Emily é sua amiga e ele não deveria se incomodar em tê-la por perto.

Mas precisa ser tão perto assim? Às vezes as pessoas os confundem como namorados e seus pais já deixaram claro sobre o quanto apoiam o relacionamento.

Vanilla & Cinnamon [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora