Ainda naquele dia, já passava das sete da noite quando Atsumo escutou a barulheira da moto de Kyoomi. Lá estava o loiro na janela, só na brisa daquela sensação boa depois de estar bem cuidado.
Diferente de Sakusa, que ficou a tarde toda atrás das benditas alianças. E mesmo depois de comprá-las, ainda teve que fazer companhia pra Motoya enquanto ele resolvia alguns problemas na rua.
Tudo que ele precisava era de um bom banho, uma roupa fresca, e tempo para pensar em como ele faria aquele pedido. Mas quando viu as mensagens do loiro, nem as respondeu, apenas foi para os fundos.
Assim que viu Atsumo na janela do quarto, fez sinal com as mãos. E chegava a ser bobo o jeito que o coração do loiro saltava toda vez que o via, mesmo sabendo que o veria, toda vez era assim.
Desceu as escadas correndo, como de costume, correu para cerca. E lá estava a razão dos seus devaneios, dos suspiros apaixonados e de toda cantoria boba durante o dia.
— Onde você tava? — Ainda que divididos pela cerca, Miya deixou um beijinho curto nos lábios do vizinho. Aquele já era o comprimento dos dois. — Não te vi a tarde toda.
Pelos céus, pelas águas, por todas as religiões, ver o brilho nos olhos de Atsumo toda vez que ele sorria só fazia Kyoomi ter mais certeza que queria tê-lo ao seu lado. Não só como amigos, vizinhos ou ficantes. O queria como o seu namorado.
— Foi mal, eu tive que ir no centro resolver uns problemas com o Motoya. Esqueci o celular em casa.
Atsumo se apoiou com os cotovelos na cerca, ambos perigosamente perto. Tão perdido nos olhos de jabuticaba de Kyoomi, que quase havia se esquecido da festa do Bokuto.
— Omi.
— Chora.
— Desde quando você começou a usar essas gírias? — Deixou um riso escapar, ainda mais porque o outro sorria de canto como se fosse a pessoa mais descolada do mundo. — Eu sei que não é a sua praia, mas eu queria saber se você tá afim de ir na festinha do Bokuto.
— Na verdade, eu não tava sabendo de nada. — Coçou a nuca. — Hoje?
— Eu sei, é bem em cima da hora. Mas se você não quiser ir a gente ainda pode assistir algo juntos.
Sakusa pareceu pensar por alguns instantes, ele não estava tão afim de sair. Na verdade, queria ensaiar um pedido de namoro. Algo elaborado, diferente das outras declarações que havia se embolado todo nas palavras.
Mas ele sabia que Miya não aguentava mais ficar em casa. Até porque a última festa dele foi a do aniversário de Oikawa. Depois ele ficou de love com Kyoomi, e depois veio a picada de abelha.
Como dito, ele não estava "tão" afim de ir, isso significava que pelo menos um pouquinho dele queria ir na tal festa. O pedido teria que ficar para mais tarde, porque Sakusa queria que fosse perfeito.
— Que horas começa?
— Já começou. — Kyoomi arregalou os olhos. — Mas relaxa, não é uma festa igual a do Oikawa. É só uma festinha pros próximos, eu vou assim mesmo.
Uau, se esse era o "assim mesmo" de Miya... todo perfumoso e arrumado. O maior lhe olhou de cima para baixo, tentando julgá-lo só pra ver ele revirar os olhos. Mas Atsumo estava, de fato, muito bonito e bem arrumado.
— Bem, eu preciso de um banho. — Sakusa olhou para o relógio, já eram quase oito horas. — Quer me esperar lá dentro? Aí a gente vai junto.
— Claro, por que não? — Sorriu de canto. — Só deixa eu trancar a casa, o Samu já foi.
— Bele, a porta tá aberta.
Atsumo não enrolou, correu para fechar as portas e janelas. E antes de sair, passou mais um pouco de perfume. Se olhou no espelho inúmeras vezes, sempre ajeitando o cabelo.
Ele estava bem arrumado, mesmo que todo de preto, ainda era uma roupa fresquinha. O maior desafio do loiro era sair no verão com uma blusa que não fosse regata.
Nem demorou tanto, e ele já estava pulando a cerca para o outro lado. A porta de vidro escura estava aberta, como Kyoomi havia dito.
— Tô entrando, viu?
Sem respostas, como o bom cara de pau que ele era, foi entrando rumo às escadas. Não era como se ele não conhecesse o caminho para o quarto de Sakusa.
— Tsumo? — O chamado se arrepiou feito um gato quando ouviu outra voz que não fosse a dele.
Pelo eco e o barulho de água caindo, ele estava no banho.
— Não tem nenhum Atsumo aqui não.
— Ótimo, então avisa pro cabeça de vento que é pra ele não mexer em nada.
— Você vai acabar com toda água do mundo. — Atsumo se sentou na cama do Sakusa, se jogando para trás.
Era o quarto mais minimalista de todos, se não fosse pela cama king size gigantesca. Nem tinha o que mexer lá.
— Com certeza vou, o que é um banho demorado perto do que o agronegócio faz, né?
A voz do outro havia soado mais clara, então Miya deduziu que ele já tinha desligado o chuveiro.
— Quer que eu leve sua roupa? — Atsumo perguntou, notando as peças de roupas dobradinhas no canto da cama.
"Puta merda", Kyoomi pensou consigo mesmo. Porque, por algum motivo, se lembrou que deixou a caixinha das alianças no meio daquelas roupas. E ele não queria que o loiro soubesse da existência delas antes de colocar uma das duas no dedo dele.
— Não precisa, eu vou aí.
Tentava não transparecer, sua voz era calma em compensação à gritaria dentro de si. Ele não poderia dar o braço à torcer e deixar Miya futricar em suas coisas, nem fudendo que ele ia deixar.
Por isso ele saiu do banheiro com a toalha enrolada na cintura, e com o cabelo pingando. Atsumo até estranhou.
— Precisava molhar a casa inteira? — Ele cruzou os braços, olhando para todo canto do quarto que não fosse um Kyoomi quase pelado.
— Precisava. — Pegou as roupas e as enrolou como se fosse um bolinha antes de jogá-las no guarda-roupa.
O vizinho olhava para Sakusa, olhava para o guarda-roupa, tentando processar o que tinha acabado de acontecer ali. Tudo isso, com os olhos cerrados.
— O que tá rolando?
— Como assim, o que tá rolando? — Ele incorporou a egípcia.
E atsumo sabia quando ele estava se fazendo de sonso, porque ele tinha a péssima mania de engrossar a voz. Pêgo no pulo.
— O que foi aquilo?
— Nada.
— Que roupas eram aquelas? — Franziu o cenho.
— Só roupas, eu não quero por elas. — Tirou o cabelo do olho, passando todos os fios para trás. Tentando jogar seu charme na esperança que Miya mudasse o foco do interrogatório.
Ou melhor, que acabasse logo com todas perguntas.
— Você é um cara de pau, Omi. — Franziu o cenho, vendo o maior se aproximar. — Se eu descobrir depois, vai ser pior.
— Descobrir o quê? — Sakusa se aproximou muito, perto o suficiente para fazer Miya olhar para cima para vê-lo nos olhos. Perto o suficiente para o cabelo molhado pingar no loiro.
— Vai se trocar logo. — Desviou o olhar.
Odiava quando o outro agia da mesma maneira que si. Porque a verdade era que ele só forçava aquela barra de malandro, e no fundo ele estava morrendo de vergonha ao ponto de virar o rosto.
Mas Kyoomi não se afastou. Pelo contrário, ele deixou vários beijinhos na bochecha que estava virada para si. O cenho franzido de Atsumo durou pouco, com Sakusa o segurando daquela maneira.
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Bem-me-quer ou Mal-me-quer?
FanfictionSakusa era descuidado quando ia aguar suas plantas e vivia molhando o vizinho. Agora ele tinha que aturar a Maria-sem-vergonha que havia crescido no seu jardim.