Quando você passa dos dezoito anos é só uma questão de tempo até que os pais chutem a bunda dos filhos para fora de casa. Claro que também há casos em que os próprios filhos não vêem a hora de deixar o ninho. E tem os Miya, que com certeza não se encaixavam em nenhuma dessas opções.
Porque dava a entender que a casa era propriedade dos gêmeos e a senhora Miya quem estava prestes à levantar vôo dali. Como dito em algum dos capítulos anteriores, eles estavam acostumados com a ausência da mãe por conta do trabalho, sempre foi assim.
E eles também não se incomodavam, de maneira alguma, que ela passasse mais tempo na casa do namorado do que na própria casa. Sinceramente, se uma gravidez aos dezessete já rouba muitos anos da vida de alguém, imagina uma gravidez aos dezessete de gêmeos?
E ainda com bônus: o pai dos garotos sumiu do mapa quando descobriu que ela estava grávida de dois bebês. Foi a maior desilusão da vida dela. Era mais doloroso pelo fato de que ele iria assumir a criança, até descobrir que seriam dois. Foi só ficar sabendo que o canalha anoiteceu e não amanheceu.
Desde então, ela deu tudo de si para criar Atsumo e Osamu. Tudo em sua vida havia se tornado o dobro: o trabalho, as noites em claro, as horas extras, as fraldas, e acima de tudo, o amor dentro de seu peito. Ela descobriu o que era amar em seu estado mais puro e genuíno quando pegou aqueles dois bebezinhos nos braços de uma só vez, sem sentir nada da cintura para baixo em uma cama de hospital.
Ela os criou muito bem, claro que não tinha os culhões, como qualquer outra jovem de dezessete anos. No entanto, ela os desenvolveu muito bem com o passar do tempo. O tempo passou e nesse fatídico dia completavam-se dezenove anos que dois bebês cabeçudos saíram por sua abençoada.
Quando Osamu finalmente acordou, Atsumo já estava de pé. Ou melhor, sentado, rodando na cadeira de rodinhas pelo quarto.
— Bom dia, meu ladrão de aniversário favorito. — O loiro disse animado assim que percebeu a movimentação na cama, deixando o celular e indo até o irmão se deitar ao lado dele.
Apenas uma observação: aquela era uma beliche, uma beliche de solteiro — não é como se existissem beliches de casal — então imaginem os dois marmanjos expremidos para caber no colchão.
— Feliz aniversário pra você também, ladrão de útero. — Bagunçou a cabeleira mal descolorida do irmão, que levantou em um pulo para se sentar onde estivesse fora do alcance de Osamu. — Desde quando ce tá acordado?
— Lembra de quando a gente era pivete? — Atsumo ignorou totalmente a pergunta do irmão. — Todo santo aniversário, pelo menos dos, sei lá, seis até os doze. A gente ficava se olhando pra ver se algo tinha mudado. E a gente nunca achava que algo tinha mudado, era sempre só uma janelinha no dente ou um joelho ralado.
— Claro que eu lembro, a gente parou de fazer isso depois que apareceu um projeto de pelo no meu suvaco e você ficou com inveja. — Os dois deixaram um riso frouxo escapar com tal lembrança. — E não durou uma semana, a mãe me fez tirar com a gilete porque você ficou todo dramático.
— Eu achei muito que justo, o relógio biológico de gêmeos deveria ser o mesmo.
Atsumo torceu o nariz mas não conseguiu fingir seriedade por muito tempo. Depois do bolo e dos comes e bebes, a parte que mais amava no aniversário deles era aquela em que se lembravam do passado juntos. Era a forma dele de dizer "eu te amo, obrigado por dividir o útero e consequentemente todos os anos seguintes comigo".
— Você foi muito apressado. — Continuou. — O primeiro a nascer, primeiro a andar de bicicleta sem rodinhas... até sair do armário você saiu primeiro.
— Você sabe que a mãe não podia segurar nós dois em duas bicicletas ao mesmo tempo.
O quarto ficou em silêncio, tomado apenas pelo som do ventilador.
— Eu sei, eu nem queria saber de tirar as rodinhas naquele dia, ainda precisava perder o medo.
Era verdade, Atsumo era uma criança super atentada: vivia se machucando por aí, subindo em árvore, jogando bola na rua... mas tinha tanto medo de tirar as rodinhas que chegou a ter pesadelos com tal. Isso mesmo, Miya Atsumo era a criança que fazia xixi na cama com medo de tirar as rodinhas da bicicleta.
Osamu nem sempre era tão tranquilo e "na dele", mas ele definitivamente tinha muito menos cicatrizes do que o irmão.
— Se te consola, tem algo que você perdeu primeiro que eu.
— Eu te juro que se você falar daquela vez no Mortal Kombat eu vou fazer desse o pior aniversário de todos. — Atsumo cruzou os braços, mas não estava realmente irritado. — Você roubou, meu controle tinha desconectado.
— Larga de ser mentiroso, você perdeu porque era ruim e não sabia nem usar o especial do personagem. — Osamu disse ao se levantar da cama, indo em direção ao banheiro. — E não, não era isso que eu ia falar.
— Calma, deixa eu advinhar. — O loiro aproveitou para se deitar no lugar do irmão enquanto fingiu pensar por alguns instantes. — Dente de leite?
— O cabaço. — Gritou do banheiro equanto escovava os dentes.
— Ah, não brinca.
— Que foi? Eu menti? — Perguntou Osamu quando percebeu o irmão escondendo o rosto atrás do travesseiro enquanto levantava o dedo do meio em sua direção.
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Bem-me-quer ou Mal-me-quer?
FanficSakusa era descuidado quando ia aguar suas plantas e vivia molhando o vizinho. Agora ele tinha que aturar a Maria-sem-vergonha que havia crescido no seu jardim.