"Vejo que as garotas acordaram"

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Atsumo acordou com uma puta dor de cabeça, se perguntando porquê diabos ele dormia no sofá. Todo torto, todo dolorido, todo perdido. Se sentou e coçou o cabelo, tentando imaginar o que havia rolado na noite passada.

Não era nem oito da manhã, ele percebeu quando olhou o relógio da parede. Se amaldiçoando por ter metido o pé na jaca, ele se levantou para ir ao banheiro.

Mas pulou de volta no sofá quando sentiu pisar em alguém, e esse alguém não era Osamu, nem ninguém que não fosse tirar sua paz.

Era Sakusa Kyoomi.

Ambos se assustaram, Sakusa por acordar com um pisão do Miya, e Miya por Sakusa estar deitado no tapete da sala bem em baixo de si. Os gritos fizeram Osamu levantar correndo, descabelado e só de bermuda.

— Mas que merda! — O loiro se cobriu com a única almofada quando percebeu que estava só se cueca.

— Que merda digo eu! — Tomou a almofada dele para cobrir a si mesmo.

— Tá maluco?!

— Vejo que as garotas acordaram.

O gêmeo se apoiou na porta, de braços cruzados com a expressão mais inexpressiva que podia ter.

— Cadê minhas roupa?!

— E eu vou saber?!

— É sério? Vocês não lembram de nada mesmo? — Osamu suspirou desinteressado quando os dois garotos negaram com a cabeça. — As roupas do senhor peladão tão no varal. Atsumo pode só vestir algo do guarda-roupa. Vou passar um café e espero as madames na cozinha.

Os garotos se olharam quando Osamu partiu para cozinha, aparentemente o Miya loiro não era o único que não lembrava de nada.

...

Só com as informações de Osamu, a história ficava meio incompleta. Então Atsumo começou a juntar as peças com sua última lembrança da noite: ele e Sakusa de pegação no jardim do Oikawa.

Aparentemente, depois de beijar horrores, eles ainda voltaram para festa, acabaram bebendo mais. E é como diziam: a bebida antes de matar, ela humilha. Eles acabaram cantando evidências juntinhos, quase rolou uma declaração na frente de todo mundo.

Até que demorou, mas lá pelas três os dois passaram mal, e Osamu teve que ativar o modo babá. Ele e Aran os levaram para casa.

A roupa dos dois estava um nojo, tinha tudo quanto é líquido lá. De bebidas alcoólicas desconhecidas até aromatizantes de eucalipto pra banheiro. Por isso eles estavam quase pelados.

Osamu teve o trabalho de colocá-las na máquina. Até tinha separado um par de roupas limpas pra cada, mas quando ele havia voltado na sala eles já estavam no quinto sono.

E agora estava os encarando com cara de tacho, enquanto eles bebericavam o café.

— É o bastante para as senhoritas?

— Eu juro, Samu, eu juro por Deus que eu te jogo café quente se você usar pronome feminino mais uma vez.

— O dia que você não depender de mim. — Osamu serviu mais café, e disse antes de sair:
— Aí sim você vem querer exigir algo.

Ele saiu, deixando Sakusa e Atsumo a sós. Eles nem estavam mais tão constrangidos, não era surpresa, depois de tudo.

— E agora?

— Bom, acho que a gente precisa ter maturidade. — Atsumo se levantou, tentando ignorar estar só de roupa íntima. — Vou pegar suas roupas, vamo?

Kyoomi apenas deu de ombros, jurou nunca mais beber se fosse para acabar daquele jeito. Ele seguia o loiro até os fundos, só percebeu que estava olhando para bunda dele quando Atsumo parou de andar e se virou para trás.

— Foi mal, eu não queria-

— Fala sério, Omi, você passou a noite toda com a boca grudada na minha. Vai ficar com vergonha agora?

— Nem todo mundo é cara de pau igual você, Miya. — Kyoomi pegou as roupas das mãos do loiro. — Se eu não tiver a cota de vergonha na cara, vira bagunça.

— Ótimo, então não tem problema eu continuar assim. — Ele tirou a bermuda que estava começando a vestir.

Sakusa franziu o cenho.

— Faça o que quiser, afinal, a casa é sua e eu estou indo.

Miya deu risada dele, vendo Kyoomi arrastar um banquinho de madeira até a certa.

— Em minha defesa, eu não tenho pernas pra andar até o portão. — Pulou para o outro lado da cerca. — E também, eu não te devo satisfação nenhuma. Passar bem.

Atsumo ficou rindo, rindo até pequenas lágrimas se formarem no canto dos olhos. Vendo Sakusa andando de costas, ele bem parecia um morto-vivo.

Continuou o observando até ele entrar para dentro. Só quando o perdeu de vista, Miya comemorou, igual as mocinhas apaixonadas dos filmes americanos. Mesmo com os altos e baixos da noite até a manhã, havia valido à pena.

...

— Kyoomi, querido, é você?

Foi a primeira coisa que ele ouviu quando fechou a porta do fundos. Ainda tinha esse detalhe, teria que pensar em algo muito bom para dizer.

Algo sobre a contradição do "venho às uma", e só dar as caras às oito.

— Eu juro que tenho como explicar. — Ele se exasperou, tentando ajeitar o cabelo bagunçado.

— Faça-me o favor, meu filho. — A mais velha parou para observá-lo. — Você já é de maior e vacinado, seu pai soltou fogos só de você não estar em casa antes das nove.

— ... Tá... então eu vou... subir...

A Sakusa deu de ombros, continuando a dobrar algumas roupas. E Kyoomi se preocupou em subir os degraus direto para o quarto. Ele teria que admitir, não esperava que fosse tão fácil.

Quando se olhou no espelho levou um susto, o cabelo todo torto e amassado. Também tinha olheiras péssimas, mais fundas que o de costume. Mas por algum motivo, ele não estava com cara de cu.

Muito pelo contrário, ele tinha um sorrisinho bobo nos lábios enquanto procurava uma toalha. Sua maior vontade era deitar, mas só veria a cama depois de um bom banho. Porque além de tudo ele estava fedendo álcool e suór.

Conforme a água ia caindo dos cabelos até o rosto, as memórias da noite passada foram ficando um pouco menos borradas. Sacudiu a cabeça tentando afastar a lembrança do loiro dizendo que ele estava com bafo.

Se sentia envergonhado, repetia em voz alta que jamais iria fazer aquilo de novo, mas no fundo não via a hora de estar com Miya.

Porém, ele não estava afim de ficar agindo feito uma adolescente depois do primeirp beijo. Desligou o chuveiro em busca do celular, só uma de suas playlist durante o banho para pôr a cabeça no lugar.

Com a toalha enrolada na cintura, Kyoomi procurou pelo quarto, e até desceu as escadas em busca do aparelho. E por um momento, que mais parecia uma eternidade, ele sentiu vontade de arrancar os cabelos.

Bem-me-quer ou Mal-me-quer?Onde histórias criam vida. Descubra agora