Sakusa ficou pensativo depois que havia se despedido de Atsumo. "Criar novas memórias", ele não sabia ao certo como ele deveria interpretar aquilo. Quando foi para o quarto, ficou observando o quintal dos Miya pela janela. Não havia movimento algum ali, nada além dos passarinhos que cantavam na árvore perto da cerca.
Não era de seu feitio ficar pensando no loiro, se sentia tão pateta por isso. Ele já estava planejando a próxima vez que se esbarraria com Atsumo. Lhe compraria algum dos doces que ele encarava de manhã na padaria. Algo que fizesse ele tirar o sorriso de lado e abrisse um de orelha à orelha.
Kyoomi não era do tipo que gostava de sair para festas e pegar geral. Mas ele sentia que ficar com Miya Atsumo não seria nada mal. Ele era atraente, tinha o seu charme. Droga, isso era algo novo, por isso ele se sentia tão estranho.
De qualquer forma, aquele não era o seu foco. Tinha que se ocupar muito estudando para os vestibulares que estariam por vir, e para quando tivesse que passar metade do seu dia numa sala cheia de bocós: em outras palavras, quando suas aulas voltassem.
Ficar olhando pela janela não iria levá-lo à lugar nenhum, Atsumo sequer estava lá. Ligou o computador na tomada, enrolando para digitar sua senha. Permitiu relaxar sua postura, o que não durou muito, porque deu um pulo quando seu telefone começou a tocar.
— Que que foi? — Atendeu, no primeiro toque.
— Bom dia pra você também, pelo visto já trocou as ferraduras hoje. — Motoya brincou, do outro lado da linha. — Tá ligado que hoje é aniversário do Oikawa, né?
— Você deveria saber que eu não gravo nem o aniversário da minha mãe.
De fato, Kyoomi era péssimo com datas, mas todos sabiam que Komori só estava tentando arrastar ele junto.
— Bora?
— Eu nem conheço ele. — Coçou a nuca.
— Idaí? O Aran me convidou e eu tô convidando você, disse que vai ser uma baita festona e que era pra todo mundo ir.
— Me dá um bom motivo. — Kyoomi fez login no computador, abrindo a aba de pesquisas enquanto esperava Motoya dizer o mesmo de sempre.
"Socializar às vezes é bom, sabia? E você deveria ir..."
— Porque o Atsumo vai.
Bem, ele esperava que a frase terminasse com "E você deveria ir porque já tá na hora de se abrir para novas experiências.", mas não terminou.
— É um bom pretexto, vai. Vocês podem conversar e quem sabe até desenrolar algo.
— Não é querendo me gabar, mas nós tomamos café juntos hoje. — Ele nem percebeu, mas seu dedo estava preso na tecla "J", digitando vários jotas.
— Eu duvido.
— Meu pau no teu ouvido.
A linha ficou em silêncio dos dois lados, se Sakusa Kyoomi estava com humor o suficiente para fazer piadinhas sem graça... então só poderia significar uma coisa.
— E você não ia me dizer nada?! Desde quando tava pensando nisso?
— Tô dizendo agora. E mais ou menos, desde ontem.
...
Enquanto Kyoomi contava detalhadamente sobre o café no telefone com Motoya, Atsumo ainda era obrigado a ouvir os resmungos de Osamu. Quem diria que sair da barriga primeiro que ele fosse fazer dele o irmão responsável. Cinco míseros minutinhos, não era quase nada.
— Vê se avisa quando for sair por aí com o esquisitão de novo. — Aquela parecia ser a deixa para que a discussão acabasse, mas o loiro não estava nada contente.
— Ele não é esquisitão, tá? — Samu lhe dizia o contrário, o julgando com os olhos. — Eu já entendi que vacilei, mas não precisa ficar falando assim dele! Você devia estar é feliz.
— Feliz?? — Osamu olhou incrédulo para o irmão, suas sobrancelhas estavam quase se encostando com a expressão.
— É, eu só tava tomando café com ele. Nada de ruim aconteceu, fim de papo. — Atsumo saiu da cozinha com os braços erguidos, e o gêmeo o seguiu até o quarto. — Eu é quem devia estar bravo, você me fez passar vergonha!
— Vai se fude, você tá ouvindo o que tá dizendo?
O loiro deu de ombros, não conseguia dar a mínima para o chilique de Osamu. A única explicação pra toda aquela energia negativa acumulada nos 1,83 do garoto platinado era ele ter brigado com o namorado.
Mas o gêmeo preferiu não falar nada. Era melhor não cutucar a onça com vara curta.
O silêncio pairou ali, Atsumo estava emburrado na parte debaixo da beliche, e Osamu na cadeira perto do computador. O único som no quarto era o barulho do platinado mastigando pão.
— Ele finalmente te deu bola.
— Eu não usaria essas palavras, soa como se eu fosse um bocó que vive no pé dele. — O loiro abraçou um dos travesseiros.
"E não é?", foi o que o irmão pensou.
— Ele quem vive procurando brecha pra gente conversar, e hoje ele finalmente me chamou pra tomar café. Então, se isso é "dar bola" na sua perspectiva, sim, ele me deu bola.
— Vocês ficaram?
— Por deuses, Samu! — Atsumo se exasperou. — Quantas vezes eu vou ter que dizer? A gente só tomou café juntos.
— Mas pretende ficar com ele? — O gêmeo o encarou com uma expressão sugestiva.
— E quem não pretende? É de Sakusa Kyoomi que estamos falando. Eu tô dando mole pra ele já vai fazer um século.
— Desde quando você não é o centro das atenções dos seus relacionamentos? — Osamu deixou um riso escapar, caçoando do irmão. — De qualquer jeito, você pretende se envolver com ele, tipo, se envolver mesmo?
— O que você quer dizer com "se envolver mesmo"?
— Com isso eu quero dizer: vocês de casal nas festas, ele dormindo aqui todo fim de semana... ah, e eu já ia esquecendo, mais uma passagem extra pra quando a gente for visitar a vovó no campo.
— Pelo que eu saiba, isso aqui não é um interrogatório. — Atsumo ajeitou a postura. — Eu sei lá, Samu. Se ele gostar de mim, é menos um solteiro nessa cidade.
— Só tenta não colocar a carroça na frente dos burros, fecho? — O gêmeo apenas resmungou um "tá bom", com sua voizinha cínica. — Preciso comprar o presente do Oikawa... o que cê vai dar pra ele?
Tantas coisas acontecendo nas últimas semanas que Atsumo havia se esquecido do aniversário de Tooru. Ele não poderia nem cogitar que algo assim tinha acontecido.
— Isso é segredo, mais tarde você descobre.
— Cê ainda não sabe, né? — O silêncio foi sua resposta. — Não sei porquê eu ainda pergunto.
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Bem-me-quer ou Mal-me-quer?
FanficSakusa era descuidado quando ia aguar suas plantas e vivia molhando o vizinho. Agora ele tinha que aturar a Maria-sem-vergonha que havia crescido no seu jardim.