Capítulo 03 | Família Arruinada, Máfia intacta

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Eu não queria acreditar no que havia acontecido.

Meus olhos e corpo pesaram de uma maneira inexplicável em questão de segundos. O Augustos se foi. Fora a frase perfeita para acabar com o mínimo de sanidade mental que eu havia construído ao longo desses cinco anos.

Chorar, berrar e gritar não parecia suficiente. A dor de perder alguém que eu genuinamente amo, é indescritível.

Nossa família estava arruinada. 

— Por que você não me disse?! — Eu berrei contra meu pai que estava sentado em seu escritório. — Missa?! Você ia me levar para a missa da morte do meu irmão e não me contou! — Eu estava triste e com raiva, as lágrimas estavam contidas em meu olhar por que  fui ensinada que chorar era um ato de fraqueza.

— Eu sinto muito. — Ele baixou a cabeça e falou ainda mais baixo. — Eu não sabia como te contar. — Dei um murro na mesa e me sentei no sofá de lado passando as mãos nos cabelos. Era um tique, eu fazia isso sempre que estava nervosa, a ponto de arranca-los.

— Me diz quem foi. — Eu iria caça-lo até mesmo no inferno.

— Eu não sei. — Ele deu um longo suspiro, como quem estava derrotado. — É por isso que você está aqui. — Eu o encarei atenta. — Eu não consigo mais fazer isso.. — Eu estava confusa. — Ser Don da Brat.

— O que!?

— Primeiro sua mãe... Agora seu irmão se foi e eu não faço ideia de por onde começar essa vingança. — Ele se levantou e veio até mim. — Estou dando a Brat para o Don de outra facção.

— Eu não consigo acreditar. — Eu o encarei incrédula. — Minha mãe está em coma e meu irmão está morto, devido seu amor a máfia que é maior do que seu amor a própria família e agora você além de nos destruir vai entregar a Brat? De quê valeu o coma da mamãe a morte do Augustos e o meu desequilíbrio mental? Hã? — Meu corpo chegava a tremer de dor e ódio.

— A Brat se unirá a Caim. — Ele me ignorou. — E o Don da Caim vingará nossa família.

— Por que ele faria isso?!

— Por que ele também será família. — Eu não estava entendendo. — Você está aqui para se casar com ele.

— OQUE!? — Saltei do sofá o encarando. — Não ouse me submeter a isso.

— Sinto muito.

— Você não sente, seu sociopata do caralho.

— Eu sinto. — Ele agarrou meus braços e me segurou em sua frente. — Eu deveria amar mais a vocês do que a máfia e não o fiz, agora estou entregando minha bagunça para outro limpar. Chega a ser humilhante. Mas se eu tiver a chance de não destruir você que foi a única que me restou eu não o farei. Farei de tudo para protegê-la.

— Você enxerga que me vender em troca de vingança para um homem, não é me proteger? Você me destruiu a muito tempo só me deixe juntar os cacos em outro lugar.

— Quem quer que tenha vindo atrás do Augustos, virá atrás de você, filha.

— Ainda não está claro que eu sei me cuidar?! — Falei alto demais.

— Você não tem escolha! — Ele gritou. — Não é um pai mandando uma filha! É o Don ordenando um soldado! — Ele puxou meu braço agora com hematomas e me fez encarar o símbolo da Brat estampado em meu pulso direito. Isso não era pelo Augustos, por mamãe ou por mim. Isso era pela Brat. Ele não estava com medo de nos perder, ele estava com medo do fracasso da facção.

— Me soltei dele. — Você é fraco. Você sabe disso, não sabe? Abusa dessa merda de autoridade que você ainda tem, por que não vai durar...  — Eu cuspi em seu pé. — Você nos destruiu por essa merda e agora vai abrir mão assim? — Senti sua mão ir de encontro ao meu rosto em um tapa ardente. Eu ri. — Parabéns Pai. — Bati palmas enquanto dava passos lentos para fora daquela sala.

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— Oi Amélia. — Rosemary abriu a porta do quarto lentamente, enquanto eu estava deitada na cama encarando o teto.

— Rose. — A saudei sem muito entusiasmo.  — Me desculpe o desânimo, revi minha mãe em coma após cinco anos, meu irmão está morto e eu vou ser vendida em troca de vingança a um homem. — Eu ri fraco. — Não estou muito animada agora.

— Querida.. — A mulher se aproximou e sentou-se na cama próxima a mim. — Espero que saiba que, seu pai tomou essa decisão sozinho, sem mim que sou sua conselheira ou Alec.

— Alec? — Franzi o cenho.

— Alec se tornou chef, há dois anos atrás. — Ela me contou a novidade e eu apenas levantei as duas sobrancelhas como quem havia entendido o envolvimento do rapaz nisso.

— Chega a ser triste, hilário e retrógrado.

— Ele jamais pediria meu conselho sobre isso, pois já saberia minha resposta. — A doutora, feminista e lésbica fez carinho em meus cabelos enquanto eu ainda estava deitada.— Sinto muito que tenha que passar por isso.

— Eu não pretendo passar, Rose. — Eu a olhei e seus olhos pretos estavam atentos em mim. — Quem quer que seja esse Don, farei da vida dele um inferno e ele terá apenas duas opções: ou me soltar ou me matar. E nas duas, eu saio ganhando.

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Isso tudo é ridículo.

Encarar meu pai passou a ser o meu passa tempo favorito. Eu estava com raiva dele na mesma medida que também conseguia sentir pena, ele deu tudo de si pela máfia e agora vai terminar sem família e sem essa merda de organização criminosa. Eu gargalhei sozinha como quem já estava em um estado de loucura avançado, mas na verdade só estava frustada demais: ele arruinou a família, só para deixar a máfia intacta.

— Uma hora sua raiva vai passar. — Ele quebrou o silêncio enquanto me analisava rir sozinha em frente ao espelho. Eu estava com um vestido branco, de seda e colado ao corpo. Seria o vestido do meu noivado. Que vida desgraçada. Deveria ter puxado o gatinho em minha cabeça quando tive oportunidade.

— Não estou apenas com raiva. — Eu o olhei através do espelho. — Também estou com pena. — Admitir isso em voz alta o humilhava em um grau quase impossível de descrever. Ele pigarreou e antes que eu continuasse com meus ataques verbais, Consigliere e Chefe chegaram na sala de estar, junto a mais três homens.

— Bom dia. — Rose sorriu para mim e em seguida se dirigiu a Don. Encarei Alec através do espelho, que me admirava como se eu fosse a criatura mais bela que seus olhos poderiam contemplar. Ele ainda me olhava da mesma forma. Sorri para ele, que percebeu que estava sendo observado e dando um riso discreto desviou o olhar.

— Estávamos com a família do Fernandes. — Alec finalmente quebrou o silêncio. — Eles estavam desolados, mas fizemos o que tinha de ser feito. — Eu me virei para olha-los.

— Certo. — Meu pai respondeu ríspido. — A quantia que gastaram com o funeral e o auxílio a família, descontem da conta da Amélia. — A mulher e o rapaz me encararam.

— Eu não queria ter feito isso. — Me defendi antes que qualquer um me acusasse. — Sinto muito. — E realmente sentia, eu não era mais daquele jeito. Não queria ser.

— Está pronta? — O homem de cabelo grisalho me ignorou tornando atenção para Rose que assentiu. — Vamos Amélia, vista-se de maneira confortável, você tem outro compromisso.

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A Face Do DisfarceOnde histórias criam vida. Descubra agora