Esta era minha festa de casamento.
Após a cerimônia, finalmente Rose, sua esposa Lilian — a quem tive o prazer de conhecer depois de me deliciar nos lábios do meu novo Don — e outras duas mulheres me conduziram novamente até o terceiro andar, para que finalmente eu pudesse me desfazer daquele montante de panos que nem se quer me permitiam andar de maneira confortável e usasse agora um vestido vermelho simples e elegante que me foi entregue e eu não debati ou comentei algo. Por algum motivo eu estava aérea. Vesti o vestido como uma boneca obediente e voltei para o segundo andar onde a festa estava se iniciando. A cada passo uma nova pessoa se apresentava e desejava felicitações.
— Aí está você! — Dona Eida me puxou delicadamente pela mão e me conduziu para uma roda onde haviam outras mulheres. — Consegui encontrar a noiva! — Ela anunciou para as outras senhoras que me olharam surpresas.
— Amélia! — Uma delas me cumprimentou com um abraço. Eram tantos abraços que eu já estava ficando sufocada. — Eu sou a tia do Jhon, Teresa. É muito bom finalmente te conhecer. — Sorri quase que alegremente , mas era mentira. Enquanto as outras mulheres se apresentavam meus olhos passearam discretamente pelo salão, e lá estava ele, que já me encarava e com um gesto lento baixou a cabeça e me olhou por baixo. Desviei o olhar. — Nos conte Amélia o que faz da vida? — tiro vidas.
— Eu sou professora de música. — Uma delas sorriu, Dona Eida também não podia conter os lábios, ela parecia muito orgulhosa de mim, enquanto Teresa continuou seu questionário, que eu não tinha paciência mas precisava responder.
— Qual instrumento? — Tia Teresa parecia super interessada em mim.
— Ah, alguns.. — Dei um riso fraco, mas pelas feições elas esperavam que eu citasse um a um. — Certo.. — Respirei fundo. — Violão, Cavaquinho, Bandolim, Guitarra, Contrabaixo, Violino, Piano... Bateria, Saxofone e...
— Meu amor. — Jhonatan de repente apareceu atrás de mim, passando a mão pela minha cintura e descansando o rosto em meu ombro. — Se você continuar essa conversa, em todo evento da família você terá um trabalho.
— Não é verdade! — Dona Eida se defendeu, os olhos dela chegavam a brilhar.
— É verdade. — Ruth parecia ser a mais velha e a interrompeu. — Não vejo a hora de ouvir um concerto seu.
— Será um prazer. — Eu sorri. Pela primeira vez não fora forçado. Tocar me deixava feliz, mais leve e de certa maneira viva.
— Tudo bem... — Jhonatan com um carisma sem igual pegou em minha mão e me puxou. — Preciso da minha esposa, um segundinho. — Esse desgraçado finge tão bem. Ainda segurando em minha mão ele começou a subir o lance de escadas a minha frente e eu o acompanhei. Tudo que eu queria era que esse show acabasse e nós finalmente pudéssemos focar no que interessa: encontrar a pessoa que matou Augustos.
No terceiro andar que era cheio de quartos, ele me levou até o penúltimo. Ao entrar me deparei com a presença de mais dois homens, Rose, Alec e Armando. Por trás deles um brutamontes todo tatuado e cheio de piercings estava arrumando o que parecia ser uma bancada. Eu sabia o que estava acontecendo aqui. Me soltei da mão do homem e adentrei o quarto sem pressa, analisando os homens que eu ainda não conhecia.
— Felicidades ao casal! — O homem de cabelos encaracolados e olhos claros sorriu. Enquanto ia de encontro a Jhonatan para o abraçar. — Sou o Nicolas. — Ele estendeu a mão para mim e eu por educação a apertei.
— Sou o Cris. — O outro um pouco mais tímido, também me cumprimentou se apresentando.
— Essa é minha esposa, como vocês já devem ter percebido. — Jhonatan deu um riso e me olhou. — Esses são meu Consigliere (ele apontou para o homem divertido e ruivo, Nicolas) e meu Chefe (era o Cris). Assenti e ele continuou. — E aquele é o Canhoto. Nosso tatuador. — O homem deu com a mão sem levantar a cabeça e eu o ignorei.
— Já que as devidas apresentações já aconteceram. — Meu pai tomou a frente. — Vamos começar o processo de inicialização. — Então ele já havia assinado o contrato e Jhonatan também. Agora a Brat tinha outro comando. Suspirei pesado.
Rose foi a primeira a receber a marca da Caim. Que eram traços finos, que de longe não pareciam ser nada de especial, mas visto de perto parecia uma homem. Em seguida Alec. Após isso foi a vez de Cris e Nicolas receberem o símbolo da Brat. Eu os observava com certo cansaço. De repente Jhonatan começou a desabotoar a blusa social a qual estava vestindo e revelando o corpo que eu deduzi que ele tinha (magro e ainda assim forte) ele deixou a mostra algumas tatuagens distribuídas pelo corpo, no peito o símbolo da Caim. Ele não foi injusto, do outro lado colocou o símbolo da Brat.
— Agora você. — Canhoto falou enquanto eu me aproximava. — Onde vai querer a sua?
— No outro pulso. — Eu estendi meu braço.
— Alguns problemas? — Ele perguntou baixinho ao perceber meus pulsos ainda roxos.
— Nada que eu não possa resolver. — Mas a verdade é que eu não tinha resolvido, raptada e dada como um objeto. Velhote filho de uma puta.
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Eram quatro da manhã. O apartamento não era silencioso, Batman estava correndo de um lado para o outro quando adentramos na sala. Retirei o salto assim que entrei e fui brincar com o gatinho preto que ali se encontrava. Jhonatan fechou a porta por trás do seu corpo e observou a cena calado.
— Ao menos encontrou algo aqui de que goste. — Eu o olhei. A essa altura ele estava com a blusa aberta e descalço. Um pouco bêbado talvez.
— É... Talvez o universo tenha tido pena de mim. — Eu debochei. — O que vai rolar então? A Brat continua a Brat e Caim continua a Caim?
— Sim. — Ele finalmente se desencostou da porta de entrada e deu passos lentos até a cozinha. — Embora seja apenas um Don, não achei inteligente terminar uma máfia para aumentar outra. Caim é Caim, e Brat é Brat. — Suspirei aliviada. — Estava preocupada?
— Na verdade sim. — Eu o encarei. — Pensei que Rose e Alec seriam rebaixados ou algo do tipo.
— Confia neles? — A pergunta me pegou desprevenida.
— Sim.
— De olhos fechados? — Ele me encarou.
— Sim, Jhonatan. Qual é? — Rose e Alec eram basicamente da família.
— Então eles serão seus.
— Como!?
— Eu sou o Don, mas você é minha mulher. Na Caim e na Brat a autoridade é toda minha, mas exclusivamente sobre a Brat lhe darei poder de autoridade igualmente a minha, quando eu não estiver.— Eu franzi o cenho encarando o homem se arrastar em passos lentos para o quarto.
— Por que? Eu sou só mais um soldado. — Hesitei. — E você quer que eu viva em um disfarce, longe disso.
— Você provou que consegue ser os dois hoje. A Amélia professora e a Amélia mafiosa. — Ele deu um riso fraco. — E você agora é minha esposa porra. Não vai ser tratada como qualquer uma.
Um pequeno arrepio percorreu meu corpo.
Por que caralhos isso foi tão sexy?
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A Face Do Disfarce
Aktuelle LiteraturAmélia Blake é uma jovem mulher que vive sua vida pacata em um bairro suburbano, sustentando-se a custas de aulas de músicas particulares e um negócio virtual promissor de vendas de livros de segunda mão. Quando uma tragédia acontece em meio a sua...