Jhonatan é inteligente.
Tirou as roupas que continham o sangue do homem, e jogou na pequena lareira que se encontrava em nosso quarto. Lá também se desfez do cartão de memória do notebook, o qual continha a última gravação. A lareira foi ligada e limpa três vezes por ele.
— Não vai demorar até que encontrem ele. — Quebrei o silêncio enquanto o moreno terminava de limpar o quarto.
— Até a sobrinha dele acordar. — Eu o encarei.
— Sobrinha?
— Eu vi no panfleto. — Ele apontou para o papel que ainda estava no móvel de canto no quarto. Suspirei pesado.
— Eu nem sei como agradecer, você foi... — Hesitei. — Sei que colocou tudo em risco e..
— Está tudo bem. — Ele sorriu. E era estranhamente acolhedor.
Eu nunca tive ninguém que realmente se importasse, ou pelo o menos colocasse tudo em risco apenas para fazer algo por mim. Continuei o olhando enquanto ele procurava por algo no guarda roupa.
— Agora vai começar nossa lua de mel. — Ele me encarou e em seguida jogou um biquíne para mim. — Vamos a praia.
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Já com os trajes de banho, coloquei também uma saída de praia apenas na parte de cima, que não era tão longa mas ainda sim me deixava menos exposta. Jhonatan vestiu -se com um shorts fino preto e uma regata branca. Pegou em minha mão como já estava virando de costume e me conduziu até a praia, havia outra atendente que foi simpática dessa vez e eu não a ignorei. Mesmo que estivesse pensando em como esse lugar ficaria quando a sobrinha descobrisse que o tio abusador finalmente estava morto.
A vista da praia era linda. A areia branca fazia o contraste perfeito com aquela imensidão azul. Respirei fundo.
— Acionei um dos nossos para o caso. — Jhonatan quebrou o silêncio após nos acomodarmos nas espreguiçadeiras. — Um que é agente disfarçado como nós. — Ele estava de óculos escuros.
— Ela está demorando para acordar. Ele deve ter colocado muito sonífero na bebida dela. — Comentei enquanto apenas abria a saída de praia para finalmente receber um bronze, deixando meus braços cobertos como quase sempre. — O caso não vai se encerrar sem se quer um suspeito, o que você acha que o soldado vai fazer?
— Eu não ligo. — Ele foi sincero. — Só precisa encerrar isso e pronto. Haverá apenas uma hipótese: vingança por ele ser um abusador. — Eu o olhei.
— E se a principal suspeita for a sobrinha? — Ele me olhou. — Jhonatan, e se uma inocente se tornar a culpada? — Me sentei o olhando. — Ela não tem um álibi, ela estava sozinha e desmaiada, como.. como..
— Calma Amélia. — Ele também se sentou e se pôs em frente a mim. — Isso não vai acontecer, eu dou um jeito.
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Não demorou para que a polícia fosse acionada. Em horas aquele paraíso se tornou um verdadeiro caos, muitos hóspedes queriam ir embora enquanto por outro lado eu e Jhonatan estávamos relaxados, até demais. Hora do disfarce.
— Oi... — Eu me aproximei da atendente mais nova que estava ali e ela me olhou. — Eu estive na praia nas últimas horas, o que está acontecendo?
— Ah senhora, me desculpe todo esse transtorno.. é.. — A pobre moça não sabia nem como falar o que havia acontecido. — O dono do resort, o senhor Teófilo, está morto. — Fiz cara de espanto e encarei Jhonatan, que se aproximava.
— Ah meu Deus, o que houve?! — Exagerei e deixei que o moreno colocasse a mão em minha cintura, enquanto eu descansava minha mão sob seu peitoral.
— Eu não sei nada além disso, só que... — Ela engoliu a seco. — É ele fazia coisas, e.. — Ela hesitou. — Eu não sei mais nada sobre. — Ela parou de falar. Eu e Jhonatan nos entre olhamos.
A polícia cercou o local e agora todos nós éramos suspeitos. Entre conversas e mais conversas, eu e Jhonatan e mais outros hóspedes fomos liberados por termos álibis sólidos e aparentemente nenhuma ligação com o dono do hotel. A sobrinha não mais apareceu e segundo Jhonatan, o soldado a levou para fazer exame de sangue, assim comprovaria que ela estava dopada durante o assassinato.
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Durante a viagem de volta, fiz o favor de permanecer acordada. Ele por outro lado dirigia sério e em silêncio.
— Estou com fome. — Pensei em voltar a azucrinar. Ele me encarou. — Muita fome. — Dei ênfase.
— Certo. — Ele passou marcha e acelerou ainda mais. — Não estamos muito longe de uma cidadezinha aqui perto. — Eu o olhei.
— Por acaso pedi ao seu soldado que mudasse nossos nomes da reserva. — Ele me olhou. — E de mais cinco casais.. Talvez acreditem que aquele homem era só mais um abusador, mas era a base de outra máfia e eu não quero que nada estregue seu disfarce.
— Nosso. — Ele corrigiu encarando o caminho. — Obrigado por isso, eu não tinha pensado.
— Eu não sei se aconteceu algo, mas te vi no celular algumas vezes...
— As notícias só correm. — Ele deu um riso fraco. — Você não precisa de preocupar.
— Eu só, não quero te prejudicar. — Fui sincera. — Pelo o menos não depois de hoje.
— Então seu plano era me prejudicar?
— Na verdade meu plano é fazer da sua vida um inferno. — Eu ri. — Você aceitou se casar com uma mulher que nem conhece só por causa dos benefícios que isso ia te agregar, quando você só podia dizer que não me queria. Como de fato não me quer.
— Amélia, se te conforta: eu quero. — Ele me olhou e depois voltou a atenção para a pista. — Mas eu também tentei dizer que aceitava a máfia e vingar seu irmão e seu pai não aceitou. — filho da puta desgraçado. — Acredito que eu quem fui usado, pelo seu pai, para de alguma forma mostrar algo para você ou até mesmo te punir.
— Ele quis me lembrar, que é superior a mim. — Ele parou o carro. — Que manda em mim..
— Não manda mais. — Ele falou enquanto tirava o cinto de segurança, e me olhou. — Você só deve obediência a mim.
Arrepiei.
Embora nós dois saibamos, que eu não vou ser tão obediente assim.
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A Face Do Disfarce
Ficção GeralAmélia Blake é uma jovem mulher que vive sua vida pacata em um bairro suburbano, sustentando-se a custas de aulas de músicas particulares e um negócio virtual promissor de vendas de livros de segunda mão. Quando uma tragédia acontece em meio a sua...