Capítulo 05 | Um Grande Teatro

33 9 41
                                    

O momento tinha chegado.

Finalmente iria conhecer aquele a quem seria amaldiçoado com minha presença. Vesti o vestido branco que para mim havia sido feito e em seguida uma mulher jovem, entrou em meu quarto para fazer uma breve maquiagem.

Meus pulsos ainda estavam com hematomas devido meu rapto a alguns dias atrás, e meus braços haviam sido cobertos. Meus cabelos longos estavam ondulados e nós pés, eu calçava um scarpin da mesma cor do vestido. A mulher finalmente terminou a maquiagem e me deixou sozinha em meu quarto.

- Você está linda. - Rose entrou no quarto com um sorriso enorme no rosto.

- Obrigada Rose. - Eu sorri.

- Lilian estará aqui hoje, quero apresenta-las.

- Sim, claro! - Eu me levantei. - Não acredito que perdi seu casamento. - Ela deu de ombros.

- Acontece. - Procurei com os olhos o homem que me fez enlouquecer horas mais cedo e ela me interrompeu. - Ele não vem. Não suportaria ver.

- Suspirei pesado. - Eu não o amo, ou coisa do tipo, mas acreditei que me casaria com ele um dia.

- Esqueça isso, hum? Alec e você jamais seriam um casal oficial, embora todos dessa casa saibam que vocês não eram apenas amigos. — Soltei um breve riso ao me recordar do passado. — Mas ele mandou presentes.- Ela assobiou e então uma enorme caixa de livros fora deixado no quarto, meu coração saltou de felicidade, mas não eram meus antigos livros e sim novos.

- Diga a ele que agradeço. - Rose assentiu e saiu do quarto.

◇◥◣◥◤◢◤◆◥◣◥◤◢◤◇

A casa estava lotada de pessoas. Crianças, jovens e velhos. Desde quando a Brat havia crescido tanto assim? Ainda me custa acreditar que Armando irá entregar sua facção, de mãos beijadas. Suspirei pesado.

- A Facção Caim chegou agora. - O velho apareceu do meu lado com um sorriso no rosto e todos os olhos ali presentes estavam virados para nós. - Sorria e me dê a mão.

- Vai se foder. - Disse entre o sorriso, enquanto nosso teatro iniciava.. A verdade é que eu só podia ser filha do meu pai quando estávamos sozinhos. Na frente de qualquer que seja o membro da facção, até mesmo Rose e Alec que são praticamente da família, a hierarquia deveria ser respeitada, e neste momento meu Don estava me entregando - uma soldado qualquer - a outro Don. Eu estava me sentindo sem valor e objetificada, maldito seja o dia que fiz essa tatuagem e me tornei participante e membra ativa dessa organização.

Ele pegou em minha mão com delicadeza e me conduziu para que descêssemos as escadas. Ainda mais pessoas estavam chegando naquele momento.

- A propósito você está linda. - Armando falou enquanto estávamos chegando nos lances finais da escada. O ignorei embora tivesse ouvido o elogio em alto e bom som. Muitos vinheram nos cumprimentar e de repente uma roda vazia abriu-se no meio do salão. Ele provavelmente havia chegado.
De repente um homem de olhos claros, cabelos lisos e barba bem feita estava diante de mim. Seu corpo embora fosse magro era forte, e seu maxilar marcado lhe agregava uma figura máscula e séria. Parei de analisá-lo quando percebi que seus olhos também percorrerem sobre mim.

- Don. - Ele cumprimentou meu pai e em seguida me olhou.

- Don. - Meu pai também o cumprimentou e posicionou a mão em meio as minhas costas, me conduzindo dar um passo a frente. - Está é Amélia.

- Amélia. - Ele repetiu meu nome com uma voz firme e rouca, como se repeti-la ali de certa forma fosse fazer com quê ele jamais se esquecesse de como eu me chamava. Ele estendeu a mão e eu por educação repousei minha mão sobre a dele. Ele beijou-a com delicadeza num ato tediante de cavalheirismo enquanto todos os olhares estavam o admirando. Dei um riso fraco, cavalheirismo mesmo é usar uma mulher como moeda de troca. Ele me encarou. - Beijinhos te causam coscas, Amélia?

- Depende de onde eles estão sendo distribuidos. - Respondi quase num sussurrou e percebi seus olhos semi cerrados me encarar.

◥◣◥◤◢◤◆◥◣◥◤◢◤◇

Era desgastante sorrir tanto não estando feliz, aquelas pessoas querendo me conhecer ou ao menos me ver depois de anos. Eram tantas perguntas e insinuações que eu poderia facilmente atirar na cabeça de cada um deles. A noite era uma criança e ela estava apenas começando ao badalar da meia noite.

Quase que despercebida, dei passos rápidos e firmes até o último corredor daquela casa, onde virando a esquerda havia o escritório do Don. Adentrei a sala com receio, não era bom estar aqui novamente, me encostei ainda em pé na mesa, encarando o jardim que estava decorado com piscas dourados naquela noite. Ouvi passos pesados se aproximando e ignorei. Quem quer que fosse, não me interessava. Minha bateria social havia sido descarregada.

- A noiva não pode fugir da festa. - A mesma voz rouca, olhei para quem estava ali.

- O noivo também não. - Pontuei enquanto ele se aproximava lentamente. - Eu vim parar nesta sala para ter um momento sozinha, talvez você não tenha percebido. - Ele deu de ombros e enfiou as mãos nos bolsos.

- Não me importa muito qual seu desejo no momento. - Ele foi sincero e seu tom era indiferente. Eu o encarei. - Vim me testificar de que isso dará certo.

- Isso? - Eu ri fraco com deboche. - Em quê mundo você vive? Casamento arranjado é o ápice do retrocesso.

- Vivo em um mundo onde faço bons negócios e este parece um ótimo negócio. Ganhei uma facção importante, a confiança de um homem forte e de brinde a mão da filha dele. - Ele hesitou e pesou seu olhar sob todo meu corpo. - A filha dele. - Meu sangue ferveu.

- Filho da puta. - Falei baixinho enquanto me distanciava, me colocando atrás da mesa, sentando-me na cadeira do meu pai. - Já que não tenho a opção de recusar essa proposta maravilhosa, me diz logo por que veio até aqui atrás de mim...

◇◥◣◥◤◢◤◆◥◣◥◤◢◤◇

A Face Do DisfarceOnde histórias criam vida. Descubra agora