Capítulo 01 | Acabou o Disfarce

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Eram seis e meia da manhã.

O astro rei estava majestoso naquele início de dia, seus raios eram quentes na medida certa, e me faziam ter ainda mais preguiça de sair daquele emarenhado de lençóis de penugem, confortáveis e quentinhos.

Através da janela era possível observar as crianças correndo com suas mochilas nas costas a encontro do ônibus que os deixariam em seu destino cruel e final: a escola. Ri sozinha de uma garotinha pequena, que em suas costas carregava uma bolsa que era maior do que ela.
Desde cedo a pequena estava aprendendo de maneira lúdica, que por muitas vezes somos obrigados a carregar fardos maiores do que suportamos.

O apito da cafeteira e o aroma, denunciaram que o café estava pronto. Logo servi-me de uma enorme xícara - para que não sofresse de dores de cabeça ao longo do dia - e ignorei o livro que estava me paquerando em cima do balcão. Meu desejo era tomar este líquido dos deuses enquanto me aventurava entre as linhas do quinto livro a qual leio esta semana: A Lágrima de Vidro.
Mas assim como a protagonista que vive sozinha em um mundo perigoso e cruel, eu vivo de igual modo e por isso, hoje não terei o luxo de ler, já que meu novo aluno está com aula de música marcada para as oito e meia da manhã, e por sorte sua residência é no bairro de classe média alta, do outro lado da cidade.

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Era sempre uma tarefa difícil descobrir novos lugares sendo conduzida pelo GPS. Entre me jogar para ruas erradas ou rotas que eram mais complicadas e longas, eu sempre me irritava nas primeiras viagens, mas era um sacrifício necessário a se fazer já que a mãe deste aluno me encontrou pelas redes sociais a dois dias, me trazendo uma lista que continha inúmeros instrumentos que o filho está disposto a aprender. Teríamos muitas aulas até que o garotinho tocasse com perfeição, então para mim pareceu um negócio favorável.

A rua inicialmente parecia deserta, analisei o lugar antes de descer do carro, carregando desta vez um violino. Íamos começar o plano de aula com instrumentos de corda, que eram os meus favoritos.

As casas eram todas iguais, com suas paredes de tom bege e modelo antigo. Esta em específico continha um jardim impecável e tudo estava extremamente novo, para quem tem criança em casa estava arrumado até demais. Estreitei os olhos enquanto me aproximava lentamente. As portas pareciam nunca terem sido até mesmo tocadas, enquanto pela janela meus olhos observavam uma sala parecida com aquelas de comerciais: comuns e excepcionalmente organizadas.

Ou essa mãe era perfeccionista, ou o GPS havia me trazido para uma casa recém comprada ou até mesmo uma casa que jamais teria sido usada. Suspirei pesado e continuei a analisar, embora aquela situação toda já não estivesse mais me deixando confortável, quando de repente senti uma mão agarrando-me por trás com força, enquanto algo como um saco era jogado em minha cabeça, deixando minha respiração pesada e minha visão turva.

- ME SOLTA! - Eu me debatia com força e tentava fazer com quê seu braço ao menos afrouxasse para que meus braços pudessem o esbofetear, mas eu estava em uma situação de desvantagem. Eu baixei a guarda. Eu nunca deveria ter feito isso. Tremendo erro. - SOCORRO!!

Fui jogada como um saco de batatas, e o impacto do meu corpo contra o interior do que parecia ser um porta malas, me fez odiar ainda mais seja lá quem me colocou nesta situação. Minhas mão foram puxadas com força para trás do meu corpo e amarradas com algo que chegava a machucar a pele.

De repente a tampa da mala foi batida com força, e pelo barulho e a tamanha facilidade de te-la fechado eu sabia que não era meu carro. Porra, o que está acontecendo? Estão me raptando.

- VOCÊS ESTÃO ME CONFUNDINDO! POR FAVOR ME SOLTEM! - Eu continuava a gritar em vão, os movimentos eram bruscos e eu rolava de um lado para o outro.

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Amarrada em uma cadeira ainda com os punhos doídos e machucados, finalmente tiraram o saco preto da minha cabeça. O suor fazia com que minha pele brilhasse e deixasse os fios dos meus cabelos pegados ao meu rosto. Minhas roupas estavam manchadas de graxa e o estado ao qual eu me encontrava era muito desagradável. Encarei os homens que estavam a minha frente.

- Por favor, me soltem! Eu não os conheço! - Disse tentando não transparecer a calma. Afinal a tatuagem em seus pulsos denunciavam quem eles eram.

- Você é Amélia Petrov. - Um dos brutamontes finalmente dirigiu a palavra a mim enquanto virava um celular que mostrava minha foto saindo de um club noturno há três noites atrás.

- Eu me chamo Amélia, mas meu sobrenome é outro, vocês estão me confundindo! - Disse firme. - Sou professora de música e vendedora de livros, se me soltarem não os denunciarei!

- Faz mais ou menos um mês que estamos te procurando. - O outro de cabelos cumpridos até os ombros e olhos caídos começou a falar. - Até que enfim, princesinha. - Ele se aproximou e passou a mão delicadamente pelo meu rosto. Que nojo! - Te encontramos.

- Por favor... - Forcei um choro. Embora eu quisesse realmente chorar nesse momento, não acredito que tinham me encontrado.

- Deixe de teatro. - A voz prepotente e firme ecoou naquele galpão. Antes mesmo que eu me virasse, já sabia de quem se tratava. O velhote de corpo tatuado e bombado finalmente estava em cena. - Acabou o disfarce. - Eu o encarei.

- O disfarce só acaba quando eu disser que acabou. - O provoquei. E ele se aproximou, colocando-se atrás de mim, desatando as cordas que estavam em meus pulsos com ajuda de uma pequena adaga. Passei a mão sob minha pele que estava vermelha e doída, e em seguida levantei meu olhar para vê-lo melhor.

- Então diga que acabou, por que você não voltará para essa vidinha. - Ele se pôs de pé em minha frente e rápida, peguei em minhas mãos sua pistola que já estava destravada em seu coldre de perna.

- Me force a qualquer coisa e eu puxo esse gatilho. - Encostei o cano gélido da arma em minha cabeça e meu pai continuou com a mesma expressão neutra.

- Estou te forçando. - Eu sentia ódio. Percorrer sobre todo meu corpo, travei a mandíbula e encarei aquele homem, ele sabia que eu não tinha coragem de puxar o gatilho, não contra mim mesma. Gritei e disparei contra o homem que havia tocado em meu rosto minutos antes.

Um disparo. Dois disparos. Três disparos. Quatro disparos. Cinco disparos. Não haviam mais balas. E nem voz. Meu grito havia cessado.

- É bom tê-la de volta. - Meu pai sorriu. - Limpe isso. - Disse para o outro homem que estava paralisado olhando para o companheiro que agora estava morto e ensanguentado.

- E espalhe a notícia. - Eu o encarei. - Qualquer um que tocar em mim, morre. - Eu me levantei enquanto jogava a pistola no chão.

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A Face Do DisfarceOnde histórias criam vida. Descubra agora