Capítulo 1

287 17 12
                                    

  Não é todo dia que posso me dar ao luxo de ficar na janela lendo os melhores livros que há na minha biblioteca pessoal. Se eu pudesse, leria o tempo todo.

— Está preparada para o baile de hoje? — Perguntou George, meu irmão.

— Um pouco. — Suspirei fundo.

— Acha que está preparada para ser apresentada?

— Está com ciúmes da sua irmãzinha?

— Acredito que o papai é quem deve estar com ciúmes, maninha.

— A ideia foi dele, George. Ele sabe que eu nunca fiz questão, por achar completamente fútil. Mas, ele diz que é para o bem da família. Não sei como isso pode ajudar nossa família.

— Coisas do nosso pai, minha irmã.

Volto para o livro e ele se retira aos assobios irritantes. Parece que George nunca amadurecerá. Ele está se aventurando por aí com Charles como verdadeiros desocupados. Ainda não consigo compreender como dão tanta liberdade para ele, enquanto pegam no pé de Louis e Leo para serem responsáveis, só por serem mais velhos. Está certo que George é o caçula, mas já tem idade suficiente para saber que seu comportamento pode ser mal visto por olhos famintos por fofocas sobre a nossa família. Minha mãe tem um verdadeiro horror a isso, sendo ela é a única que tente pôr rédeas nas aventuras do filho mais jovem.

Combinei com Charlotte que a encontraria no baile. Ela também será apresentada, e está muito mais ansiosa do que eu. Eu nunca desejei ser apresentada, mas meu pai acha que isso pode trazer benefícios para nós, como novos contatos importantes. Eu me vejo usada de certa forma. No entanto, meus pais acham que está na hora de aceitarem pretendentes para mim. E eu não me sinto nada à vontade com isso. Suponho que sempre acabo aceitando para fazer companhia à minha melhor amiga.

O vestido azul-turquesa, feito pelas mãos de fadas de Katerine, a modista mais requisitada da cidade de Londres. Toda semana encomendamos novos vestidos a ela, e com tamanha procura por seus feitos, marcamos sempre com antecedência, e de volta, nos dá certa prioridade, porque somos, talvez, uma das suas melhores clientes.

Desfilo na frente do espelho analisando cada detalhe do vestido no meu corpo magro e esbelto. Minha mãe costuma ficar de olho na minha dieta, já que nem tudo posso comer. Tudo isso porque o médico acredita que meu organismo rejeita certos alimentos, e isso fez com que eu emagrecesse demais nos últimos meses. Para minha mãe, isso foi uma vantagem.

— Está pronta? — Amélia veio conferir.

— Sim. Avise minha mãe que já estou indo.

— A carruagem está a espera da senhorita.

— Obrigada, Amélia.

Amélia, nossa fiel e dedicada criada, se retira fechando por trás de mim. Dou uma última olhada para o espelho, conferindo os cabelos penteados e presos em uma presilha de brilhantes.

Minha mãe está nervosa, sempre conferindo seu vestido e os sapatos. Papai olha pela janela da carruagem, pensativo. Ele parece tão cansado que cogitei algumas vezes pedir para voltarmos, mesmo sabendo que não iriam.

O baile já está cheio de rostos interessantes e familiares. Algumas pessoas nos cumprimentam, outras acenam. Rapazes de um lado e outro me observam. Apenas sorrio. Meus pais me apresentam para os anfitriões e contatos importantes do meu pai. Foi cerca de quarenta minutos me apresentando um a um.

Encontrei Charlotte no outro lado do salão. Seu rosto muda assim que me vê, ficando mais relaxado, suavizando as rugas de preocupação.

— Pensei que não viria mais! — Ela comentou.

— E deixá-la sozinha? Nem pensar.

— Explorem a festa, meninas. Cumprimentaremos algumas pessoas. — Minha mãe diz, forçando um sorriso em cada canto da boca. Sei que ela está nervosa com a minha primeira vez. Sou a única filha mulher que ela tem.

— Está bem, mãe.

Charlotte e eu andamos por quase todo o salão. Encontramos alguns conhecidos dos nossos pais, que elogiaram a nossa beleza e simpatia. Enquanto tento manter a tranquilidade, Charlotte parece estar prestes a ter um ataque de pânico. Está tão nervosa que fica desajeitada em cumprimentar as pessoas.

— Não fique tão nervosa, Charlotte. Respira fundo e solte o ar devagar.

— Vamos para o jardim, eu preciso de ar fresco. — Suplica.

Eu a levo para o jardim, ficando preocupada com a sua exagerada ansiedade.

— Está melhor?

Ela arfa, como se o ar se recusasse a entrar em seus pulmões. Depois de alguns minutos, ela se acalma, respirando melhor.

— Eu nunca pensei que fosse ficar tão nervosa assim. Aguardei muito por esse dia, Beline.

— Eu sei, mas você está indo bem.

— Você deu uma olhada nos rapazes? Achei todos interessantes, mesmo sem ter conversado com eles. Ao menos são bonitos.

— Acha que teremos bons pretendentes?

— Somos interessantes, bonitas, temos habilidades, e somos de boas famílias também. Acredito que teremos ótimos pretendentes.

— Você é muito otimista.

— Preciso ser!

Rimos juntas.

Algumas outras pessoas também passeiam pelo jardim. Mulheres com seus lindos vestidos e homens vestidos elegantemente. A maioria em casal ou em grupos. Entre uma conversa e outra, quase que aleatoriamente, caminhamos um pouco e voltamos para o salão quando fomos informadas que a primeira dança iria começar. Esperávamos sermos tiradas do anonimato para dançar. Logo na primeira, um rapaz muito elegante me convidou, e em seguida, outro tira Charlotte. Dançamos lado a lado com os nossos pares, sorridentes e ansiosas, enquanto os rapazes parem satisfeitos conosco.

No fim da dança, o meu par agradece.

— Foi um prazer dançar com a senhorita.

— O prazer foi todo meu.

— Eu a vi chegar mais cedo. Iria me apresentar, mas achei melhor... esperar um pouco.

— Compreendo. Sou Beline Wrigert.

— James Adams.

Após nos apresentarmos, fomos interrompidos por Charlotte. James volta para o seu lugar no salão e nós para o nosso.

— Como foi? — Ela quis saber.

— Foi bom, eu acho. E você?

— Devo ter tropeçado nos pés dele, mas deu tudo certo. — Ela se vira para trás, sorrindo para o seu par de dança, que acena com o olhar em seguida.

Outros rapazes me tiraram para dançar, mas nenhum deles conseguiu me cativar o suficiente para cogitar a ideia de tê-lo como pretendente. Charlotte também dançou com alguns rapazes interessantes, que segundo ela, seria difícil escolher o preferido.

Cansada das danças, fui para o jardim, enquanto Charlotte ainda dançava. Meus pés estavam me matando e eu não via a hora de tirar os sapatos em casa. Atrás de uma moita, em completo desespero, tirei o sapato de um dos meus pés, sentindo um verdadeiro alívio. Dava para ver minhas veias de cada dedo pulsando. Ouvi um pigarro e olhei para trás.

— Precisa de alguma ajuda, senhorita?

Um homem com farda azul e algumas medalhas, me olhava atentamente.

— É-é... — pigarreio — Está tudo bem. Obrigada.

Ele sorri, como se estivesse zombando da minha total falta de jeito de disfarçar o que fazia atrás de uma moita. Talvez tivesse atiçando sua imaginação.

— Certo. Então... Boa noite, senhorita. — Disse, e se distanciou, colocando as mãos para trás.

Eu o vejo sumindo entre outros rostos e coloquei meu sapato de volta ao meu pé, voltando para o salão em seguida.

BelineOnde histórias criam vida. Descubra agora