Capítulo7

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 Foram três danças com Sr. Halfenaked. O suficiente para eu ter certeza de que meu coração não pulsava por ele, ou tivesse qualquer outra reação diferente. Concluí que se concedesse mais uma dança, estaria dando-lhe alguma exclusividade e falsas esperanças, por isso, inventei uma desculpa para não fazê-lo.

Uma das vantagens de bailes em Londres eram os comes e bebes, que eram diferenciados. Doces que nunca vemos em outros lugares porque os ingredientes seriam foram secretos e compartilhados apenas de geração para geração dos confeiteiros. Com isso, eu ouvi dizer serem frequentemente contratados por clientes importantes da alta elite, e considerados confeiteiros de prestígios, com um grande nome a ser guardado por longos anos como os melhores de Londres. Minha mãe já estava planejando contratá-los para o meu futuro casamento, sem me dar o direito de opinar sobre isso, e certamente, ela o fez para se destacar entre outras damas.

Enquanto a dança continuava a ocorrer no centro do salão, eu me resguardava na mesa, observando a todos, cada detalhe mínimo. Charlotte dançava com Benjamin, e Arthur com outra garota que não conheço. Minha mãe ainda estava envolvida com as outras damas, meu pai e meus irmãos conversavam com alguns cavalheiros no outro lado do recinto. De repente, me senti tão solitária, como se ninguém me entende por algum motivo. Eu não queria estar ali e nunca fiz questão de fazer de tudo isso, o que quer fosse. Eu sentia que não tinha o menor controle sobre a minha vida. Por que eu me sentia assim?

— O que faz aqui, isolada, srta. Wrigert? — Thomas, com sua voz tão familiar para os meus ouvidos.

— Sr. Thomas! O que faz aqui?

— Minha família está em Londres, eu vim visitá-los e cá estou

— Eles não vieram?

— É uma longa história.

— Eu compreendo.

— Então, o que faz aqui quando todos estão se divertindo?

Observei-o, para analisá-lo, quase que inconscientemente.

— Acho que eu não queria estar aqui.

— Gostaria de ir a outro lugar? — Ele sorri.

Olhei para meus pais, que estão distraídos demais para notarem a minha presença.

— Certo. Podemos dar uma volta.

Ele me oferece o braço e o seguro. Caminhamos lado a lado até o jardim, que apesar do frio e da neve, transbordava algum encanto naquela noite.

— Como está sendo o seu retorno. Sr. Thomas?

— Turbulento, senhorita. A gente vai para onde precisa, mas nem tudo que deixamos para trás ficará nos esperando.

— Fala sobre a sua noiva?

— Pelo visto, a minha vida não tem sido discreta.

— Perdoe-me a intromissão. Sr. Thomas. Eu não quis ser rude... Não precisa falar sobre isso, é pessoal. Perdoe-me mais uma vez.

— Não há que o que perdoar a senhorita. É apenas um assunto delicado...

— Entendo, de verdade.

— E como vai à escolha do pretendente. Eu soube que Benjamin tem se oferecido para cortejá-la. Fiquei bastante surpreso.

— Ele é um bom homem, e tenho certeza de que será um bom marido...

— Mas...

— Como sabe que tem um mas?

— O rosto da senhorita é muito expressivo.

— Então, eu não sinto... nada especial quando estou com ele. Meu pai diz que preciso passar um tempo com os pretendentes, para sentir... e escolher.

— Sabe, os nossos sentimentos podem ser especiais, mas também podem nos trair, e à dor...

— Então você pensa que o amor é ruim?

— De um modo, sim. Admito que o amor consiga fazer duas pessoas felizes, mas só seus sentimentos, não bastam.

— Está sendo muito pessimista, Sr. Lancaster.

— Estou sendo realista com a senhorita. Não confie tanto nos seus sentimentos. Dê atenção aos seus instintos.

Meus instintos clamavam por ele, e agora, se queimavam em chamas, porque de alguma forma ele eu sentia que ele jamais seria meu.

— Quem sabe o senhor tenha razão.

— Olha, eu parti para o mar deixando uma noiva me esperando. Esperei por cada segundo para reencontrá-la. Quando retornei, ela não estava me esperando, e nem sei se esperava que eu voltasse. Acreditavam que eu estava... morto.

— E por achavam isso?

— Meu navio foi tomado por bandidos, fiquei de refém deles. Houve um confronto para resgatar todos nós, mas levou algum tempo. O que estou te contando, senhorita, é altamente confidencial.

— Confia tanto assim em mim para contar algo proibido?

— Sim, e não me pergunte o porquê. Há muitas coisas envolvidas nesse incidente e fizemos um juramento de não revelá-los a ninguém.

— Agradeço a sua confiança em mim, Sr. Thomas.

— Na verdade, estou aliviado em compartilhar isso com alguém.

— E o que planeja fazer? Voltará para o mar?

Ele franze o cenho.

— Estou dividido. Uma parte de mim quer ir para o mar, fugir dessa realidade... E outra parte, quer ficar, e enfrentar o que vier.

— Sua... noiva?

— Ela não é mais minha noiva. Era apenas minha prometida. Eu queria me casar com ela, mas precisava ganhar respeito do meu pai e do pai dela. Eu precisava provar estar pronto para dar esse passo com a garota que amava e me amava. O relacionamento não era aprovado pelos nossos pais. Foi duro deixá-la, mas estou começando a acreditar que foi melhor assim.

— Então, seus sentimentos... ainda existem por ela, Sr. Thomas?

— Eu não sei, srta. Beline. Ela se casou com outro homem, e parece que é feliz. Isso deveria bastar para mim, não é?

— Eu não sei o que faria no seu ugar, mas acredito que lutaria por ela.

— Não tenho como lutar, senhorita. Ela está unida a outro homem pro forças ainda maiores. E nem sei quero lutar por ela. Penso que devo fechar essa página na minha vida e começar outra, em uma página em branco com um final mais feliz.

Um ponto de esperança se acende em meu peito.

— Pode ser o momento do senhor construir uma nova história para a sua vida, Sr. Thomas.

— É, eu tenho pensado sobre isso. Eu deveria retornar até a metade do inverno para o posto, ou início da primavera. Se eu encontrar uma noiva nesse período, penso em me casar na primavera. O que você acha?

— Sua escolhida ficaria feliz, Sr. Thomas.

— Antes de tudo, preciso me resolver com os assuntos pendentes, e são muitos.

— Tudo vai se resolver, não se preocupe. Julgo que o senhor só precisa de um pouco de paciência e deixar as coisas se assentarem, sejam o que forem.

— Para uma senhorita tão jovem, é muito sábia. O seu escolhido para ser seu marido será um homem de sorte.

Meu escolhido é você, Sr. Thomas!

— Fico grata, Sr. Thomas.

— Voltaremos para o baile, antes que sintam a sua falta e me acusem de rapto. — Ele sorri,de um jeito travesso e charmoso demais para alguém que estava sempre com a expressão séria. 

— Sim, senhor. — Respondi. Mas eu queria ficar mais tempo com ele. 

BelineOnde histórias criam vida. Descubra agora