Capítulo 6

72 9 3
                                    

  A temporada de bailes em Beaconsfield estava acabando. Com a chegada do inverno, esperávamos pela tranquilidade e o famoso tempo do descanso. Era comum ficarmos fora de Beaconsfield com as primeiras quedas de neve, ficando na casa de veraneio em Londres, onde inverno era mais charmoso e bem aproveitado.

Alguns pretendentes me visitaram durante a semana, enviaram presentes e tentaram fazer negócios com meu Louis e meu pai. Um deles ofereceu o Castelo de Orion como nova moradia e negócios atrelados com a minha família.

Desde o passeio no Jardim central, não encontrei Thomas, mas certamente Benjamin apareceu com presentes caríssimos e tentadores, os quais chamaram bastante a atenção da minha mãe, que praticamente me persuadiu a dar preferência para ele.

— Ora, minha querida, o jovem é de boa família, é capitão na Marinha, tem um futuro promissor e tem tudo para proporcionar uma vida confortável. Não tem o porquê não... dar sua escolha a ele.

— Mamãe, ele é amigo de Arthur e Charlotte, tem boas referências sociais, mas não posso escolhê-lo por razões fúteis.

— Pare com essa coisa de amor, você é muito sonhadora, minha querida. Está na hora de acordar e viver a realidade, muito melhor do que esses sonhos bobos.

— Não são bobos, mamãe. A senhora nunca quis se apaixonar antes de se casar?

— Na minha época, eu nem sequer recebia pretendentes. Meus pais escolheram o marido e escolheram bem. Hoje sou grata a eles por tudo. Tenho um bom marido e filhos lindos.

— Mas mamãe, você ama o papai?

— Claro que sim! Que pergunta boba é essa? Amo muito o seu pai, minha querida.

— Você e o papai... demoraram a... sentir o amor?

— Não. Ele era muito bonito e dono de um sorriso que me tirava o fôlego. Não demorou a acontecer, e foi avassalador, e vocês foram as consequências disso.

— Bom, mamãe, prometemos aos outros pretendentes dá-lhes a oportunidade de me cortejarem. A pressa é inimiga das boas escolhas.

— Está bem, mas eu já tenho um preferido, queira, sim, queira não.

Revirei os olhos e continuei com o bordado.

O encanto de Londres está nas calçadas e pontes que enfeitam a cidade durante a nevasca. Pela janela do casarão é possível observar o manto branco cobrindo toda a cidade com um céu tão escuro e sem estrelas. Pensei em Thomas e queria saber onde estava e o que estaria fazendo. Charlotte também está em Londres com a família, mas só nos veríamos no pequeno baile restrito no centro da capital, o qual ela estava muito ansiosa para ir. Por outro lado, eu só queria ficar quietinha com meus livros e bordados, mas minha mãe insiste que eu me apresente também neste baile, que segundo ela, comparecerão homens importantes e melhores pretendentes.

Meu pai bebia conhaque na sala em frente à lareira, pensativo, quando resolvi descer por falta de sono. Passei minha mão em seu ombro cansado e tenso.

— O que faz aqui, papai?

— Contemplando o fogo. Por que ainda está acordada?

— Londres nunca dorme, papai.

— Isto é verdade. Algo a aflige?

— Não, não. Eu nunca dormi bem em Londres, estava lendo lá em cima e resolvi descer, sem sono.

— Sua mãe me contou sobre os pretendentes. Como está indo na escolha?

— Papai, eu não quero... ter pressa. Acredito que preciso ter calma. É o meu futuro em jogo, certo?

— O que você espera de um marido?

— O que eu espero? — Fiz uma pausa, pensativa — Não sei ao certo. Não parei para pensar nisso, papai. Acredito que quero que ele seja honesto, engraçado, inteligente... — Thomas não tem humor, acabei percebendo.

— Olha, temos ótimos rapazes cortejando-a, e todos são de boas famílias. Selecione aqueles que mais cativarem seu afeto e passe algum tempo com eles, até finalmente escolher quem será seu marido. Isso pode ajudá-la.

— E se... por acaso, alguém cativar meu afeto sem me cortejar?

— Que tipo de pergunta é essa? Há alguém assim? Alguém a cativou sem cortejá-la?

— Talvez...

— Se ele sentir o mesmo que você e preencher todos os outros requisitos, aceitarei de bom grado.

— O problema é que ele não... sabe. Ele nem sequer imagina, e para falar a verdade, estou confusa com os meus sentimentos.

— Esqueça-o. Se ele não... percebe nada, é sinal de que não sente o mesmo. Esqueça-o, você não precisa disso, está bem?

— Está bem, papai. Voltarei para cama, durma também.

Eu o beijo na testa e vou para o meu quarto.

Parecia que a Londres toda fora convidada para o baile. O que era para ser restrito, não se parecia. Havia gente muito importante até do outro lado do oceano, até mesmo alguns príncipes, princesas e condes. Eu me sentia como uma formiga intrusa no meio deles, completamente desorientada. Enquanto isso, meus pais cumprimentavam a todos como se fizessem parte desse grupo de importância de pessoas. Certamente, a nossa família tinha algum prestígio, mas não a ponto de chegarmos aos pés de alguns.

Charlotte, Arthur e Benjamin me encontraram após algum tempo, quando eu já pensava em voltar para casa até mesmo escondido, já que parecia que ninguém percebia a minha presença ali, apesar de alguns cavalheiros demonstrarem algum interesse, mas eu me sentia como a vitrina de roupa da modista. Um sentimento horrível de que eu era apenas uma imagem bonita, nada mais.

— Finalmente a encontramos. — Charlotte diz, em voz tão alta que metade do salão a escuta.

— Fico muito feliz em vê-los. Como estão?

— Estamos bem — Ele se vira para mim, com as mãos para trás — Gostaria de ter a honra da primeira dança com a senhorita, se me permite. — Suplicou Benjamin, que estava vestido tão elegantemente que parecia que iria se casar ali mesmo.

— Claro, Sr. Halfenaked.

Ele não perdeu tempo, pensei.

Enquanto o salão ainda se enchia de novos convidados, a primeira dança se preparava com uma música de fundo, orquestrada por piano e violino numa melodia audaciosa. Benjamin se aproximou e estendeu sua mão para mim.

— Senhorita...

Caminhamos até o centro e nos juntamos com outros pares, que se cumprimentavam com olhares e acenos sutis. A dança se iniciava e o jogo era lançado na sorte do destino de cada um. Cada dança, era uma oportunidade única. Diziam ser através da dança que decidíamos que aquele par poderia ideal para uma vida toda, uma única noite. Era uma escolha na base da moeda, cara ou coroa.

BelineOnde histórias criam vida. Descubra agora