Capítulo 4

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   O restante do baile foi de dança, comeres e muitas conversas aleatórias. Aproveitei para observar o Sr. Lancaster. Ele tem queixo bem alinhado, com as feições do rosto firme e bem desenhadas Seus ombros são largos e os braços fortes. Imaginei que ele fazia muito trabalho braçal como um Oficial da Marinha.

Ele notou que eu o observava, então virei meu rosto para Benjamin, que dirigiu seus olhares para mim.

— Então, Benjamin, como é ser um oficial da Marinha.

— Esse assunto a entendiaria, Lady Beline. Mas, posso dizer ser onde o homem muda sobre a visão de toda a sua vida. Enquanto está em alto mar, você não pode entender o que acontece na terra. E quando está em terra firma, quer voltar para o mar. O homem pertence às águas, senhorita. — Responde.

— Então, você planeja passar a vida toda no mar? Não pensa em formar uma família, por exemplo?

— Claro que penso, e estou planejando escolher uma noiva. Antes, eu preciso equilibrar minha vida para fazer isso acontecer.

— Meu pai diz que um homem sem família é um vento perdido. Talvez ele esteja certo.

— E você, Lady Beline, aspira escolher alguém para se tornar seu companheiro? — Perguntou Sr. Lancaster.

— Demorei a ser apresentada para a sociedade, mas se posso ser sincera. Sr. Lancaster, eu espero escolher alguém pelo meu coração, não às convicções socialistas. Casamento antes do amor é como entrar no mar sem água. — Expliquei.

— Então recusará cortejos dos pretendentes? — Sr. Lancaster continuava curioso.

— Eu não disse isso. Aceitarei de bom grado e para não decepcionar meus pais, ou até a mim mesma. E se meu coração bater por algum deles?

— Você tem ideias modernas, senhorita.

— O amor não é moderno, sir Lancaster. Ele sempre existiu, desde os primórdios da civilização.

— Sim, a senhorita está correta. No entanto, a sociedade ainda insiste em praticamente nos casamentos baseados nos desejos das famílias envolvidas. É preciso ter um nome respeitado para poder escolher alguém a altura.

— Parece chateado com isso, sir Lancaster.

— Não, eu não estou. É apenas uma reflexão.

— O que pensa sobre o amor, sir Lancaster?

— Eu acreditava no amor, senhorita. Hoje penso não passa de uma mera ilusão. — Suas mandíbulas se retraem, e ele fixa o olhar para o salão, dando claros sinais que esse assunto o perturba de alguma forma.

Charlotte me puxou para dançar no canto, enquanto compartilhava algo sobre um rapaz que a cortejou mais cedo, mas meus olhos se voltam para Thomas Lancaster. Sinto-me atraída por ele de um jeito confuso e embaraçoso.

— Ei, você está me ouvindo?

— Estou, claro. — percebi estar muito distraída observando aquele homem — Talvez eu esteja cansada, só isso. Desculpe.

— O que você achou de Benjamin?

— Benjamin? Não sei. Suponho que ele é interessante, talvez. Não nos falamos muito para que eu pudesse formar uma opinião sobre ele.

— E o Thomas Lancaster?

Ela teria percebido que o tem observado?

— Ele é uma figura. É difícil dizer algo sobre ele ainda, mas é um tanto interessante.

— Acredito que ele gostou de você!

— Não, não gostou. O jeito que ele me olha e me desafia dizem o oposto.

— Ele é muito bonito, não é?

— Acredito que sim. — Claro que era, mas admitir para Charlotte era como afirmar que eu me sentia atraída por esse homem estranho e arrogante.

— Vamos dançar!

Dançamos na borda do salão, que gradualmente se esvaziava. Já passavam da meia-noite e algumas famílias já estavam se despedindo, outras simplesmente chegavam como se tivessem perdido a hora. Não demorou muito para irmos para casa.

Eu me despedi de Benjamin, que prometeu um novo encontro em outra ocasião. De Arthur, que disse estar ansioso pelo casamento de Louis. E de Thomas Lancaster, que se resumiu apenas num olhar vazio e um curto boa noite. Isso era um claro aviso que ele me detestava.

Os jornais tomaram conta das ruas e das casas falando sobre o baile dos Watson. Uma página inteira mencionando as conquistas dos Oficiais da Marinha que retornaram à cidade após anos fora, e o agradeceram por defenderem o país e à bandeira britânica. Em breve, havia um encontro dos oficiais com a Rainha.

Meu pai lia as notas de rodapé quando notei que suas mãos tremiam.

— Papai, o senhor está bem?

— Estou, sim, minha querida.

— Tem certeza?

— Claro que tenho, meu docinho.

Ele também estava pálido e mal tocou no desjejum.

Comentei com a minha mãe, mas ela se limitou a dizer que ele estava bem, que não era para me preocupar com nada. É impossível não se preocupar quando se trata do meu pai. Recentemente, ele teve uma pneumonia grave após uma viagem a cavalo embaixo de chuva e frio. O médico disse que ele sobreviveu por um milagre. Depois disso, acho que nunca mais fomos os mesmos com ele.

Sentada com um livro na mão, atenho-me à leitura. George e Leo surgem.

— Irei com papai, e Louis precisa de você, George. — Leo disse a George, demonstrando impaciência.

— E o que farei lá? Não tenho utilidade e não faz sentido ele precisar de mim, Leo.

— George, meu irmão, está na hora de você pensar na nossa família. Em algum momento essa sua farra precisa acabar. Você não é mais um garotinho, precisa amadurecer, irmão.

— Não me dê sermão, irmão. Eu apenas vivo meus dias.

— Vá para Coleshill e não me contraria, ou cortaremos suas farras.

Leo, irritado, olha para mim e depois para George, que parece não acreditar que a conversa esteja acontecendo. Ele se despede e se retira.

— Ouviu isso, minha irmã?

— O Leo está certo, George. Você precisa...

— Outro sermão não, por favor. Parece até uma conspiração contra mim. — Ele diz, me interrompendo. — Estou farto disso.

Não digo mais nada. Tudo o que sei é que meus pais o mimaram demais, a ponto de George não entender que precisa crescer e assumir responsabilidades. Minha mãe ainda o mima, e meu pai o pressiona desde que ele aprontou em Londres há alguns meses. George estava com amigos e foi encontrado perto da ponte, quase sem roupa e completamente desorientado. Isso fez com meu pai refletisse sobre a educação que estaria passando para ele.

No resto do dia, eu pensei em Thomas. Não tomei chá com Charlotte, porque prometi à minha mãe faria companhia a ela no bordado.

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