Capítulo 24

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  Todas as luzes se apagaram, exceto da pequena lareira do meu quarto. Apanhei meu xale e sai discretamente de casa. As ruas estavam vazias e escuras, o que dava uma ideia de quão loucura era encontrá-lo naquela hora da noite. E se alguém nos visse?

Ele estava parado com as costas dada para uma parede ornamentada de uma casa em construção. Como a rua não tinha saída, era praticamente intransitável no período noturno.

— Não acreditava que viria... — Ele disse, tentando me provocar.

— O senhor queria falar comigo, pensei que pudesse ser importante, para querer me encontrar no meio da noite.

— Eu queria vê-la, sem presenciar o seu nervosismo... — Ele suspirou, intensamente. — Por mais que eu tente, e me esforce, não consigo esquecê-la...

— Por que está me dizendo isso? Se esqueceu que sou agora  uma mulher casada?

— Não, eu não esqueci, Beline, e aposto cinco mil pratas que você também não.

— Precisamos dar um ponto final nisso, Sr. Thomas.

Ele se aproximou de mim. Senti o ar quente saindo de sua boca, evaporando-se no ar frio. Seus olhos se fixaram nos meus, e senti meu corpo em chamas. Sim, ele me afetava em um nível que até me desesperava.

— O que o senhor pensa que está fazendo?

— Testando uma coisa...

— Tipo o quê?

Seu rosto ficou de frente para o meu, o suficiente para sentir o seu hálito. Ele mordia os lábios, e eu percebi o quanto estava nervoso com a nossa proximidade.

— Eu realmente quero beijá-la! Necessito... — Ele parecia tremer — Sei que não posso... Mas por que eu não consigo tirá-la do meu coração? Por que é tão difícil esquecê-la?

Eu não conseguia reagir, fiquei parada analisando suas expressões. Meu corpo todo, até minha alma, o pertencia e clamavam por ele, com uma força tão grande que eu jamais conseguiria compreender. Eu o queria tanto quanto. Éramos proibidos um para o outro, mas ao mesmo tempo, parecia nos pertencíamos. Ele era tão meu naquele momento que, quase esqueci que não poderia ser sua.

— Sr. Thomas...

— O que faço com todos esses sentimentos que você ainda me causa? Por que ainda tem tanta força sobre mim? Acho que enlouquecerei, Beline. 

— Não podemos fazer nada. Não podemos nos pertencer, Sr. Thomas, por mais que perpetuamos nossos sentimentos um pelo outro.

Ele abaixou a cabeça, e foi quando percebi realmente o seu desespero.

— Faz ideia do que é vê-la com outro? Sabendo que você se deita com ele e passa as suas noites... Sinto que morrerei cada vez que a vejo com ele... Sinto que vou enlouquecer!

— Sr. Thomas...

Sem perceber, eu comecei a chorar, desbandando o meu desespero em seus braços aos soluços. Sem pensar muito, ele me abraça e me acolhe em seu abraço caloroso. Ficamos assim por um tempo, que eu não consiguia ter certeza de quantos minutos, ou hora, durou. Apenas nos entregamos da maneira que ainda nos deixava sentir a culpa em nossas mentes.

— Você o ama? — Ele perguntou, com a voz rouca.

— Não pode me perguntar algo assim.

— Eu só quero saber se você o ama.

— Não como amo o senhor... E acredito que nunca amarei ninguém como amo o senhor, com toda a minha alma. Mas ele é muito bom para mim, é um ótimo marido...

— Ele a trata bem?

— Sim, ele me trata muito bem.

Ele olha nos meus olhos.

— Sente-se feliz com ele?

— Sr. Thomas, por que está fazendo isso?

— Preciso saber... Preciso ter certeza de que te perdi para alguém que verdadeiramente a merece, isso me tranquilizaria.

Foi a minha vez de suspirar fundo e olhar para baixo.

— Esforçarei para não fazê-la sofrer ainda mais. — Disse, com a voz mais rouca ainda. 

— O que quer dizer?

— Quero dizer que pararei de vê-la e passarei mais tempo fora... Quem sabe assim eu consiga aceitar tudo isso, sem doer tanto para nós dois.

— Sr.Thomas... Lamento tanto! Eu só li sua carta tempos depois... se a tivesse lido antes, não teria me casado.

— Não se culpe. Não podemos e não precisamos nos culpar agora. O importante é que você esteja feliz com alguém a mereça. É a única coisa que tenho o direito de desejar agora.

Mais uma lágrima caiu em meu rosto. Ele a enxuga com os dedos, acariciando minha face. Nossos olhos se cruzam novamente, com outra intensidade. É como se uma força nos atraísse cada vez mais.

— É quase impossível resistí-la. — Desabafou, novamente com a voz baixa. — Por que sinto que você me pertence? Que é só minha e de mais ninguém?

— Seus desejos falam mais alto que a razão, Sr. Thomas.

— Sei que você também me deseja tanto quanto. Está escrito nos seus olhos.

— E o que podemos fazer? Somos proibidos, um para o outro...

Ele respira, como se lhe faltasse fôlego por um tempo, e se afasta, tentando se acalmar.

— Se não me afastar agora, eu vou m perder ... ignorarei tudo o que me responsabilizaria pelos meus atos.

— Te ver sofrer assim me faz sofrer também, Sr. Thomas. É melhor que nos afastemos por um tempo.

— Sim... — Ele passou a mão pelos cabelos, ficando ainda mais charmoso — Irei par Londres ao amanhecer, e de lá voltarei para o mar. Eu não a verei por algum tempo.

— Se isso o tranquilizar...

— Evitará que eu faça uma loucura...

— Sr. Thomas!

— Falo sério...

— Eu sei. Só não me sinto bem ouvindo isso, estando casada. Sinto que estou traindo meu marido...

— Não estamos traindo ninguém, e eu não farei nenhuma loucura. Principalmente porque eu a respeito o suficiente para não passar dos limites, embora eu faça um enorme esforço para controlar meus impulsos na sua presença, como agora...

— Preciso voltar para casa, antes que notem a minha ausência. — Eu disse, pois sabia que se ficasse mais tempo sozinha com ele, não conseguiria controlar os meus impulsos também.

— Então é a nossa despedida. Sra. Halfenaked.

— Sim, Sr. Lancaster.

— Desejo toda a felicidade, com toda a minha sinceridade.

— Igualmente, senhor.

— Adeus, Sra. Halfenaked.

Ele se virou e desapareceu no breu da noite, enquanto eu dava os primeiros passos de volta para casa, sentindo meu mundo desabar.

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